Vinte anos de Best Cars e as escolhas que se impõem

Editorial

Entre as decisões que se devem tomar, esta equipe tem a impressão de, desde 1997, ter acertado na maioria das vezes

 

Nossas vidas são feitas de escolhas. Por mais que fatores externos nos conduzam em uma direção ou nos impeçam de seguir uma outra, estamos sempre definindo uma opção entre as que se apresentam para nós, seja no âmbito pessoal ou no profissional. Foi assim também com a equipe do Best Cars em seus 20 anos.

A internet ainda engatinhava, o UOL tinha apenas um ano e o Google nem existia quando  adotamos a rede mundial como plataforma para mostrar e analisar automóveis, de início com uma página pessoal (como se chamavam então os blogs de hoje). O Best Cars era lançado em 22 de outubro de 1997 com a foto de um Ferrari F50 em destaque — a mesma que abre nosso vídeo de retrospectiva. Então começaram as escolhas.

Naquela época era voz corrente que a internet se destinava a conteúdos rápidos, textos curtos, que não ocupassem por muito tempo a cara conexão telefônica (acredite, jovem leitor: usávamos a linha de telefone para o lento e precário acesso e a cobrança era por tempo). Jornais e revistas, dizia-se, é que deveriam aprofundar os assuntos. Por outro lado, fazia sentido aproveitar o espaço da rede para matérias longas e detalhadas sem acarretar alto custo de papel. Assim, optamos pelos conteúdos extensos. O tempo mostraria o acerto da escolha: o que se vê hoje é o contrário, a mídia impressa resumir o que a internet informou com pormenores.

 

Fazia sentido aproveitar o espaço da rede para matérias longas e detalhadas sem acarretar alto custo de papel; assim, optamos pelos conteúdos extensos

 

Então veio a discussão sobre linguagem. Segundo alguns colegas do setor, era preciso escrever como falava o público jovem, o que se tornou comum em publicações voltadas a carros preparados. Como assim? “Caranga socada irada” no Best Cars? Não, obrigado. Escolhemos respeitar o idioma e não nos arrependemos.

Teste do Leitor: desde 1998, exemplo da interação que a internet nos facilitou

À medida que o conteúdo do site se ampliava, vinham novas questões. As avaliações traziam bom conteúdo técnico, com informações raramente apresentadas em revistas, assim como havia artigos sobre mecânica e tecnologia e os Consultórios Técnico e de Preparação. Alguns achavam que estávamos no caminho errado, que as pessoas não teriam mais interesse no assunto. Optamos por preservar o conteúdo técnico, sob a condição de que fosse acessível: haveria um quadro para ele nas avaliações, de modo a manter o texto principal adequado ao leigo, e um glossário esclareceria eventuais dúvidas com facilidade.

Houve momentos, até, que sentimos pressões para que a linha editorial do Best Cars fosse repensada. Não é de hoje que, em algumas publicações sobre carros, temos a impressão de que o jornalista está a serviço do fabricante ou importador: elogios em abundância; críticas, quase nenhuma. No site, desde o começo, adotamos a postura de apontar o que estivesse errado, fosse no produto, fosse na estratégia da indústria — como chamar uma reforma parcial de “nova geração” ou tentar pegar carona na imagem de um nome e atribuir-lhe a um produto inferior.

É claro que nem todos são receptivos a críticas. Talvez por esse fator, mais de uma vez sofremos retaliações veladas como, de repente, não sermos mais convidados para lançamentos da empresa. Mesmo assim, fizemos a opção de seguir nossa linha. Se podemos ter perdido visitas pela falta da avaliação de certos produtos, é certo que ganhamos em credibilidade.

A facilidade de comunicação trazida pela internet foi aproveitada desde o início, caso do Teste do Leitor, seção pioneira de grande sucesso desde 1998. Com o tempo abrimos espaço para comentários instantâneos, o que trouxe mais uma dúvida: como se nota tanto na imprensa quanto nas redes sociais, muitos não sabem se portar ou aproveitam certo anonimato para uma posição desrespeitosa aos demais.

Para combater isso, havia opção pela moderação prévia dos comentários — a comunicação deixaria de ser imediata, pois em alguns horários a aprovação levaria tempo. Outra opção, no extremo oposto, seria “deixar rolar” e permitir que o desrespeito por alguns prejudicasse o ambiente para todos. Escolhemos um caminho trabalhoso, mas que se mostrou eficaz: regras de participação e moderação constante após a publicação dos comentários. Em seis anos desse formato, tivemos bem poucos problemas.

 

 

O canal de vídeos

De alguns anos para cá, como se sabe, os vídeos ganharam espaço na internet. As novas gerações estão menos adeptas à leitura e mais às mídias audiovisuais — se isso representa progresso ou não, é discussão que não cabe a este site. Para nós essa tendência trouxe outra escolha: como produzir vídeos que mantivessem nossos valores.

Pela grande aceitação aos textos, nossa entrada nessa mídia deu-se há menos de um ano. Para desenvolver o canal Best Cars no Youtube, buscamos referências de outros países para o formato ideal. Encontramos canais notáveis pela densidade de conteúdo: em cinco minutos ou pouco mais, o carro é apresentado com riqueza de detalhes, incluindo medições de desempenho. Entrega-se muito ao visitante em troca de pouco de seu tempo.

 

O canal supera 32 mil inscritos e tem vídeos com até 560 mil visitas; a aprovação média ao conteúdo, pelos cliques em “gostei” e “não gostei”, é de 98%

 

Canal no Youtube: mais de 3 milhões de visitas em menos de um ano

Enquanto isso, assistimos a vídeos brasileiros de 30 ou 40 minutos que faziam menos que aqueles em cinco: despreparo sobre o automóvel, repetição de informações, desperdício de tempo. Alguns só faltavam mostrar o hodômetro parcial voltando a zero depois de apertado um botão. Sem falar na mania de mostrar mais quem apresenta que o veículo apresentado. Optamos por deixar tudo isso de fora e ter como diretrizes, como no site, objetividade e precisão de informações.

Apenas 11 meses depois, o canal Best Cars tem 32 mil inscritos, mais de três milhões de visualizações e vídeos com até 560 mil visitas. A aprovação média aos vídeos nos últimos 90 dias, medida pelos cliques em “gostei” e “não gostei”, é de 98%. Resultados que apontam o êxito de nossa escolha, confirmado pelos comentários de elogios — muitas vezes parecidos com os que recebemos sobre os textos.

Às vésperas do vigésimo aniversário, estávamos diante de mais uma decisão: como aprimorar os testes de desempenho. Embora limitações de orçamento ainda não permitam alugar uma pista de alto padrão, com a extensão adequada para medir velocidade máxima, adotamos um equipamento de medição de primeira linha, o Race Capture Pro. Com o auxílio do consultor técnico Felipe Hoffmann, teremos daqui em diante não apenas resultados mais precisos e confiáveis, como também análises detalhadas a fim de explicar o que cada carro demonstra na pista.

A vida, afinal, é feita de escolhas. Para a equipe do Best Cars, é muito satisfatório chegar aos 20 anos com a sensação de ter feito boas opções na maioria das oportunidades. Uma satisfação só superada por sua companhia e seu prestígio, que esperamos que se renovem por muitos anos.

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