Em sequência ao Toyota Corolla, seu eterno adversário
Honda Civic passou pela análise da equipe por 30 dias
Texto e fotos: Roberto Agresti
Atualização final: 24/8/12
Para o período final do Honda Civic LXL conosco, dois colaboradores se alternaram ao volante com “programações” opostas. A Regina Garjulli coube enfrentar uma intensa maratona urbana, de poucos mas cruciais quilômetros — uma centena deles —, sob forte trânsito no frenético vai-e-vem da maior cidade do País, São Paulo. Para piorar, o uso foi prioritário na mais acidentada porção da cidade, a zona oeste. Por conta disso, Regina foi autora do recorde negativo de consumo do Civic usando gasolina, 7,3 km/l.
Segundo a motorista, não houve como se esquivar dos congestionamentos paulistanos e obter uma média melhor: “Achei o sistema de indicação de consumo, as faixas coloridas ao lado do velocímetro, uma ótima ideia, mas não consegui deixá-las quase nunca verdes, a cor que indica economia. Nos bairros de Pinheiros, Perdizes, Pompeia e adjacências o trânsito é ruim e as rampas exigem potência. Até desisti de usar o botão Econ, pois achei que faz o carro ficar chocho demais nas ladeiras”.
Regina considerou como ponto alto do Honda a suavidade, em especial da direção e da caixa automática: “É um carro gostoso de guiar, com boa visibilidade e comandos macios. Tem resposta razoável ao acelerador e um câmbio suave. A câmera de ré é um acessório bem-vindo, mas achei o ar-condicionado simplório para o preço do carro. De um modo geral ele tem um acabamento razoável, sem luxos. Boa parte da ótima aparência do interior vem dos bancos revestidos de couro cinza claro, de que eu gostei muito, apesar da necessidade de limpeza mais frequente que tal tom acarreta”.
Tendo usado o Civic para a prosaica ida ao supermercado, uma crítica ela fez ao porta-malas: “É cômodo abri-lo pelo botão na chave, apesar de ser ela de um tipo antigo. Mas senti falta de uma rede para prender objetos, coisa que tenho em meu carro e uso muito. Por outro lado, gostei dos porta-objetos do apoio de braço e do menor, entre os bancos, com tampa tipo persiana. Abaixo do ar-condicionado parece que falta algo, com aquele espaço de plástico mal aproveitado, onde estão uma tomada de força e a entrada auxiliar do áudio “.
O uso urbano apontou a Regina um Civic suave nos comandos e na operação do
câmbio, mas incapaz de despertar entusiasmo, nem mesmo pelo desenho
A motorista aproveita para enveredar por um julgamento que, reconhece, é subjetivo: “Entendo a vontade de criar algo diferente que norteou o desenho do painel do Civic, mas eu preferiria um painel convencional, menos ‘jaspion’ do que esse. E as formas externas desse novo Civic não são tão modernas, pelo contrário. Assim, há um certo descompasso entre um painel tão arrojado e o desenho sóbrio. Não é um carro feio, mas tampouco merece palmas. Não me empolga, enfim”.
Ao cabo de sua análise, a colaboradora revela não ser uma cliente potencial do Civic: “Anda bem, mas não tem um motorzão. Não é feio, mas nem bonito. Não é desconfortável, mas o Toyota Corolla me pareceu mais silencioso e macio. É pouco equipado para custar o que custa. Eu não compraria, além de, como já disse muitas vezes em meus depoimentos, preferir carros menores para o uso urbano”.
Os dias de Regina às voltas com o trânsito paulistano precederam o uso rodoviário feito por Paulo de Araújo, que levou — como de costume — nosso avaliado do mês para a região de Amparo, no interior paulista. E o colaborador escolhe a ergonomia do Civic como ponto de destaque para iniciar seu relato: “É o ponto forte do carro. Está tudo no lugar certo, com leitura dos instrumentos imediata. Pedais, volante e banco oferecem um encaixe perfeito. Gostei também da escolha dos materiais internos e do desenho. Apesar do plástico duro, é visível tratar-se de um interior de qualidade, feito para durar, resistente. Lembrou o tipo de plástico que se encontra em cabines de aviões”.
“Ele é muito bom no âmbito de suspensão-freios-direção, mas para me agradar 100% precisaria ter uns 20 ou 30 cv a mais”
No trajeto misto que leva de São Paulo até seu destino, Monte Alegre do Sul, o colaborador tem a oportunidade de rodar por estradas rápidas e também por trechos muito sinuosos. E nestes o Civic o surpreendeu: “É impressionante a estabilidade, o equilíbrio desse sedã. O acerto de suspensões, que na cidade me pareceu firme demais, nas curvas da estrada mostrou a que veio. O carro parece não ter limite, transmitindo uma sensação de segurança excelente. E bons cúmplices dessa sensação são os freios, potentes na medida exata, e a direção, pois o volante se mostra preciso e oferece o peso correto”.
Menos agradado pelo conjunto motor-transmissão, Paulo pondera: “O 1,8-litro do Civic me pareceu justo demais para ele, especialmente em baixa. Acima de 4.000 rpm mostra que tem fôlego, mas abaixo disso não convence. E o câmbio, que poderia ajudar, não é o parceiro ideal: mesmo usado em modo esportivo não oferece trocas rápidas, obrigando o uso dos comandos no volante. Gostaria que a alavanca oferecesse também a possibilidade de troca manual, que prefiro”.
Ergonomia, espaço e qualidade de acabamento cativaram Paulo, mas sua maior
satisfação foi com o comportamento preciso e esportivo das suspensões
Tendo em vista ser um sedã familiar, porém, o motorista ressalva que a consideração tem caráter pessoal, “já que gosto de um comportamento mais esportivo do que esse Civic entrega. Ele é muito bom no âmbito de suspensão-freios-direção, mas fica devendo em desempenho. Imagino que, para me agradar 100%, precisaria ter uns 20 ou 30 cv a mais. E aí, sim, estaria perfeito”.
Viajando com porta-malas cheio e três passageiros, o colaborador menciona o bom conforto do Civic e a vantagem do assoalho plano no banco de trás, mesmo sem ter um passageiro sentado no meio: “Quem vai atrás fica livre para mexer as pernas lateralmente, o que é cômodo em viagens longas”. Paulo ainda menciona o consumo do Civic como item positivo: “Peguei trânsito pesado para sair e na chegada a São Paulo, não fui cuidadoso com o acelerador e não usei a tecla Econ justamente para ver qual seria o consumo nessa condição ‘malvada’. Mesmo assim ele fez quase 11 km/l, sendo que ao menos um terço da quilometragem foi em uso urbano. Acho mais do que razoável”.
O saldo de um mês de convívio
Com pouco mais de 4.000 quilômetros rodados nesses 31 dias, nos quais passou pelas mãos de uma dezena de motoristas, o Honda Civic LXL se despede de Um Mês ao Volante deixando a impressão de um carro bem projetado e bem construído. Não é empolgante, como observou Regina, e realmente seu motor, apesar de econômico, às vezes mostra que um pouco de fôlego a mais não lhe faria mal, como comentou Paulo.
Por esses comentários se entrevê a síntese das palavras de todos que passaram pelo volante do Civic nesse mês: em nenhum momento o automóvel recebeu crítica muito contundente, mas por diversas ocasiões fez seus usuários confessarem pequenas restrições. A observação positiva recorrente vem, sobretudo, quanto ao comportamento em curva e à parcimônia no consumo.
Tendo chegado às mãos da equipe na sequência daquele que talvez seja seu maior rival — o Corolla —, o Civic LXL se mostrou bem à altura do embate com o concorrente. Se o Toyota tem um motor de 2,0 litros, mais cheio em baixos e médios regimes, e vence em conforto de rodagem, ao Honda cabe o reconhecimento de uma estabilidade impecável e seu consumo com gasolina foi mais baixo. Equivalem-se em espaço interno e porta-malas, mas fazem opções radicalmente opostas no âmbito das informações oferecidas ao motorista — o Civic e seu painel futurista se contrapõem ao clássico painel do Corolla.
O Civic é mais ousado no painel e no comportamento que o Corolla, mas oferece
desempenho inferior; em comum, equipamentos escassos para o que custam
Ambos derrapam por serem excessivamente espartanos em acabamento e itens de conveniência, algo que tentam disfarçar cá e lá com um e outro detalhe mais elaborado, mas que não esconde o fato de serem carros pensados para serem baratos. Fora do Brasil, Civic e Corolla não têm nenhuma pretensão de disputar um segmento de luxo como fazem aqui, graças ao bem-aplicado marketing e aos maneirismos de nossos consumidores, que deram a esses e outros carros médios o status de bens de consumo invejáveis.
Merecem isso? Pelo que vimos, agora com o Honda e antes com o Toyota, em parte sim: são sedãs que exalam rigor técnico e um padrão construtivo qualificado. Mas sem dúvida há exagero nessa imagem — e no preço de cada um. O Civic LXL trazer apenas bolsas infláveis frontais, escasso material fonoabsorvente e não contar com controle eletrônico de estabilidade faria dele invendável em mercados mais evoluídos que o nosso. E aquela tampa de porta-malas, então…
É certo que a boa engenharia da Honda sobressai em vários itens, como a citada ergonomia, a valentia do — essencial, mas competente — motor de 1,8 litro, os sistemas de salvaguarda à economia e os materiais de boa qualidade, percebidos também pelo consultor Alberto Trivellato em sua análise técnica. No entanto, seria lícito esperar da marca, cuja imagem é tão positiva entre seus clientes, mais capricho nos aspectos relacionados a comodidade e segurança.
Por tudo isso, o sentimento da equipe em relação ao Civic é variado: muito positivo do ponto de vista dinâmico, menos do ponto de vista emocional e seguramente negativo por conta do preço de R$ 70 mil, cifra considerada alta demais face ao que é entregue.
Relato anterior |
Último período
3 dias |
578 km |
Distância em cidade | 271 km |
Distância em estrada | 307 km |
Consumo médio (gasolina) | 9,8 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Desde o início
31 dias |
4.273 km |
Distância em cidade | 1.664 km |
Distância em estrada | 2.609 km |
Consumo médio (álcool) | 8,2 km/l |
Melhor marca média | 9,1 km/l |
Pior marca média | 6,3 km/l |
Consumo médio (gasolina) | 10,8 km/l |
Melhor marca média | 12,7 km/l |
Pior marca média | 7,3 km/l |
Combustível consumido | 430 litros |
Gasolina | 293,3 litros |
Álcool | 136,7 litros |
Preço médio | |
Gasolina | R$ 2,80 |
Álcool | R$ 1,85 |
Despesa com combustível | R$ 1.073,79 |
Custo por km | |
Gasolina | R$ 0,26 |
Álcool | R$ 0,22 |
Consumo em percurso-padrão (43,2 km) | |
Com sistema Econ | 16,9 km/l (gasolina) |
Sem sistema Econ | 16,6 km/l (gasolina) |
Com sistema Econ | 12,1 km/l (álcool) |
Sem sistema Econ | 12,0 km/l (álcool) |
Indicações do computador de bordo |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo e levantamento |
Diâmetro e curso | 81 x 87,3 mm |
Cilindrada | 1.799 cm³ |
Taxa de compressão | 11,7:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 139/140 cv a 6.500 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 17,5/17,7 m.kgf a 4.600/5.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automático / 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson |
Traseira | independente, braços sobrepostos |
Rodas | |
Dimensões | 6,5 x 16 pol |
Pneus | 205/55 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,525 m |
Largura | 1,755 m |
Altura | 1,45 m |
Entre-eixos | 2,668 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 57 l |
Compartimento de bagagem | 449 l |
Peso em ordem de marcha | 1.230 kg |
Dados do fabricante; desempenho e consumo não disponíveis |