Muito à frente de seu tempo

Estilo aerodinâmico, tração dianteira e outras inovações
foram a marca do Cord, nos modelos L-29, 810 e 812

Texto: Nelson Massini Jr. - Edição: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Erret Loban Cord comandava a bem-sucedida revendedora de automóveis Moon, em Chicago, nos Estados Unidos, quando foi convidado em 1924 pela Auburn para reestruturá-la e tentar evitar sua falência. O salário anual de US$ 36.000 foi recusado em favor de 20% do lucro que Cord pudesse gerar.

Em menos de um ano Cord já havia adquirido o controle da Auburn. Logo depois foi a vez da Duesenberg, da Lycomming Motors, de algumas empresas de carrocerias, da American Airways (hoje American Airlines), da fábrica de aviões Stinson e de um estaleiro. Começou assim um dos mais emblemáticos impérios da indústria automobilística, responsável pela produção de alguns fantásticos automóveis.

Com longo capô abrigando um 8-em-linha e tração dianteira, o L-29 não se parecia
com os carros de sua época. Esta carroceria desenhada por Count Alex
Sakhoffsky venceu o Concurso de Elegância de Monte Carlo em 1930

O conglomerado comandado por Cord possuía automóveis nos dois extremos do mercado: do Auburn, entre os mais baratos, aos caríssimos Duesenberg. Mas faltava um produto intermediário, na faixa dos US$ 4.000, para concorrer com os Cadillacs e Marmons. Este mercado era próspero no anos 20, com muitos novos-ricos preocupados mais com a aparência do que com a tradição de seus automóveis.

Tendo a aparência como chave para as vendas, Cord iniciou o projeto de seu novo modelo. Ele deveria ser baixo, com uma aparência mais esguia e glamurosa -- algo diferente de tudo o que já havia sido produzido. Para conseguir este resultado, Cord estava decidido que a única solução seria a tração dianteira. Poucos se arriscaram nos EUA a utilizar este sistema: Walter Christie no início do século, a Ruxton nos anos 20 e Harry A. Miller e Cornelius Van Ranst, em automóveis de competição.

Para não haver problemas Cord contratou os melhores: Miller, de quem comprou a patente para tração dianteira, e Van Ranst, além de Léon Duray, piloto de Miller. Em cinco meses o protótipo foi produzido. A carroceria ficou a cargo de Al Leamy, chefe do projeto, e John Oswald. O desenho final foi aquele apresentado por Oswald, mas com muitas das idéias de Leamy -- a principal delas, a grade do radiador em forma de diedro, copiada pela Chrysler em seu Imperial 1930. Leamy deu ainda ao automóvel o nome: Leamy ano 1929, ou apenas L-29.

Um L-29 Cabriolet com faróis franceses, acessório muito comum nos anos 20; o motor de 4,9 litros desenvolvia 125 cv

A tração dianteira, como previu Cord, possibilitou um perfil baixo à carroceria e aliado ao enorme capô dianteiro, que abrigava um motor de oito cilindros em linha, mais o diferencial e o câmbio, proporcionou a criação de um automóvel realmente diferente de tudo que já fora visto.

O motor era uma versão modificada do que equipava o Auburn 120, com 4,9 litros, desenvolvendo 125 cv. O posicionamento do câmbio à frente do motor e do eixo dianteiro obrigava que as trocas de marcha fossem feitas puxando e virando uma alavanca no painel. A velocidade máxima era de 125 km/h e os preços para os automóveis com carroceria de fábrica estavam entre US$ 3.095 e US$ 3.295.

Assim como muitos extraordinários veículos, o L-29 foi colocado no mercado no pior momento possível, alguns meses antes da quebra na Bolsa de Nova York. A falta de dinheiro dos americanos e alguns boatos sobre problemas de manutenção e desempenho acabaram por restringir as vendas do notável veículo. Entre os muitos boatos, dizia-se que o L-29 sofria de falta de tração em condições de pouca aderência e em aclives, em função do deslocamento do centro de gravidade para a traseira, longe das rodas motrizes.

Versões do L-29 como esta Town Car atraíam multidões nas ruas, apesar dos boatos de que a tração dianteira prejudicava a aderência

O baixo desempenho também era um problema de veículos desta categoria. Mas não há qualquer comprovação destes problemas em publicações da época, que na verdade elogiaram muito o desempenho do L-29. Quanto à baixa velocidade final, o problema eram as equivocadas relações de marcha escolhidas.

O visual inovador do L-29 seduziu muitos. Os famosos irmãos comediantes da família Marx possuíam quatro destes automóveis. Em uma carta endereçada a fábrica, a única reclamação que um feliz proprietário do novo Cord fez era de que se faziam necessários três policiais para dispersar a multidão que se formava ao redor do carro toda vez que ele estacionava na cidade. O L-29 realmente alcançou seu objetivo de ser diferente.
Continua
No Brasil
Sabe-se no Brasil de quatro automóveis Cord. Dois L-29, um modelo Cabriolet e um sedã, de propriedade de um colecionador paulista e de um carioca, na ordem. Há ainda um sedã 810 e um 812 Sporstman, este sendo restaurado, ambos em São Paulo.

As linhas atraentes do modelo 812 Sportsmen atraíram a atenção de celebridades brasileiras. Carmen Miranda possuía um, que permaneceu no Brasil (a foto o mostra em um concurso em 1981). Não se conhece hoje o paradeiro do automóvel.

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