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Carros do Passado

O último Ferrari de Enzo

Nu e cru como as berlinettas dos anos 50 e 60, o F40
sinalizou a volta às origens da marca de Maranello

Texto: Marco Antônio Oliveira - Fotos: divulgação

Enzo Ferrari nunca quis realmente fazer carros de rua. Sua real paixão eram as competições esportivas, e seus modelos para uso em estrada serviam apenas como uma fonte de recursos para financiar sua Scuderia. Eram carros de corrida levemente "amansados" -- ou carros de rua que poderiam competir com pouca ou nenhuma modificação, dependendo do ponto de vista.

Luxo, conforto e praticidade não estavam nos planos. Velocidade pura e simples, com certeza. Esse tipo de veículo chegou ao auge com o modelo 250, cujas várias evoluções culminaram no legendário GTO de 1962. Idealizado pelo famoso engenheiro Giotto Bizzarrini, para muitos ainda é o mais perfeito carro esporte já criado.

O commendatore Enzo e o 250 GTO de 1962, exemplo clássico de como "as corridas melhoram a espécie"

O grande trunfo da Ferrari, portanto, sempre foi o velho adágio inglês Racing improves the breed (as corridas melhoram a espécie), que nasceu nas corridas de cavalo junto com o termo "puro-sangue", outra expressão associada aos carros vermelhos de Enzo. Tudo que se aprendia nas pistas era logo adotado nos automóveis de rua. Mas, depois da metade da década de 70, essa vantagem deixou de aparecer.

Carros de corrida para as ruas não funcionavam mais, sobretudo porque as competições esportivas se profissionalizavam, abolindo a participação dos aristocratas-pilotos que compravam Ferraris e iam às pistas. Além disso, seus compradores exigiam cada vez mais luxo e sofisticação, algo ausente em um Ferrari tradicional. Por conseqüência, os modelos de rua de Maranello ficaram mais pesados e tiveram que ser "amansados" ainda mais.

A Ferrari foi abandonando cada vez mais as competições, exceto as de Fórmula 1. E, como um F1 tem pouco em comum com um carro de rua, a marca começou a ver ameaçado seu posto no topo da pirâmide dos carros-esporte. A maior destas ameaças vinha dali de perto, do vilarejo de Santa Agata Bolognese, e de uma empresa -- grande ironia -- que era completamente avessa a competições: a Automobili Lamborghini Spa (leia história).

O Testarossa de 1984: mais um Ferrari fiel ao motor de 12 cilindros horizontais opostos, longo demais para um carro esporte

Tentando capitalizar artificialmente com as competições, a Ferrari ficou anos presa a um motor de 12 cilindros horizontais opostos (em seus Berlinetta Boxer, Testarossa e evoluções), supostamente derivado dos Fórmula 1 imortalizados por Niki Lauda, mas que era longo demais para instalação em um carro-esporte.

Pelo início dos anos 80, então, os dirigentes da Ferrari -- a esta altura quase executivos da Fiat, visto que Enzo vendera ao poderoso grupo de Turim metade de sua empresa em 1969, o restante sendo vendido após sua morte, em 1988 -- começaram a perceber que não poderiam capitalizar para sempre as glórias passadas da marca.
Continua

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Data de publicação deste artigo: 1/6/02

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