Best Cars Web Site
Carros do Passado

O primeiro Cobra estava pronto em fevereiro de 1962. Levava o número de chassi CSX0001, o primeiro carro a sair da lendária empresa de Shelby, naquele ponto ainda baseada na cidade de Santa Fe Springs. Tanto a Ford quanto a AC literalmente financiaram a entrada de Shelby no rol dos construtores de carros. Forneciam chassis e motores que só seriam pagos quando Shelby recebesse pela venda dos carros.

Um Daytona Coupe em construção (em primeiro plano), ao lado de um Cobra roadster 289 de competição e um dos primeiros Fords GT40. Mais atrás, vários Mustangs em preparação

Don Fray, gerente da engenharia avançada da Ford na época, certa vez disse, em retrospectiva: "Toda aquela operação de Shelby foi tocada com o dinheiro que sobrava do departamento de competições. Nunca foi uma equipe oficial. Era um bando de 'largados' que íamos apoiando cada vez mais de acordo com seus sucessos. Para nós, era apenas um paliativo na espera do GT40. Mas no fim, Shelby foi instrumental na nossa estratégia na Europa, e acabou sendo fundamental mesmo para o projeto GT40. Até hoje, isso me impressiona! O melhor investimento que já fiz..."

O Cobra foi um sucesso em competições locais nos EUA e logo apareceu sua segunda versão, com motor aumentado para 289 pol3 (4,7 litros). Esse motor era similar ao que equipava nossos Fords Galaxie antes de 1976. O sucesso das temporadas americanas de 1962 e 1963 (inclusive em memoráveis combates com o novo Ferrari GTO) fizeram com que Shelby começasse, junto com Fray e Evans da Ford, a planejar uma "invasão da Europa" para 1964.

Com certeza, em circuitos mais travados, os Cobras existentes seriam suficientes. Mas para circuitos mais rápidos como Spa e, mais importante, Le Mans, algo mais veloz era necessário. Com o dinheiro da Ford cada vez mais fácil, Shelby mudou-se para as antigas instalações da Scarab, em Venice, na Califórnia. Lá, Ken Miles e Pete Brock já tinham uma boa idéia do que fazer para resolver o problema da velocidade -- cada um a seu jeito.

Vista aérea da fábrica da Shelby, em 1965, e Mustangs vindos de Detroit aguardando as modificações que os tornarão GT 350

E nasce o 427   A idéia de Miles, o piloto-engenheiro, era simples: mais motor. Ele montou um gigantesco V8 de 7,0 litros (427 pol3), saído de um Fairlane Stock-car, que produzia algo em torno de 500 cv brutos, no pequenino roadster 289. Desastre total: o chassi torcia para todo lado, os freios e suspensões não eram suficientes. Mas Miles não desistia fácil e logo tinha um Cobra praticamente novo pronto, que conseguia usar a força do 427 a contento. Tudo havia mudado: chassi reforçado, novas suspensões (projetadas pela Ford) e freios.

A carroceria também mudara, em função das bitolas mais largas, criando o visual clássico do Cobra roadster, que até então parecia apenas um AC Ace com motor V8. Mas havia alguns problemas. As extensas modificações no veículo fizeram com que ele não pudesse usar a homologação do 289. Eram necessários 100 Cobras 427 para que eles fossem enquadrados na categoria GT. Começou uma desvairada corrida contra o relógio.

Quando o inspetor da FIA chegou em Venice, no início de 1964, somente 51 carros estavam prontos, apesar de os chassis dos restantes estarem presentes. Nada feito: se quisesse competir, somente como Protótipo. Como a Ford já tinha em 1964 o GT40 nesta categoria, Shelby estava agora com um monte de carros de corrida inúteis.

Carroll Shelby, em 1963, em meio a três Cobras roadster de competição: os agressivos "répteis" seriam a mais famosa de tantas obras que ele colocou no mundo

A única saída, que acabou sendo uma jogada de mestre, era então vendê-los como carros "de rua". Imediatamente, as revistas da época estavam babando pelo carro. Nascia um mito. Foi durante anos o carro de "produção normal" mais rápido e veloz do mundo. Ficou famoso por, nas mãos de Miles, realizar a prova 0-100-0 mph (partir do zero, acelerar até 100 mph ou 160 km/h e frear até a imobilidade) em 13,8 s. Em 1965! Shelby vendeu 310 carros desse ano até 1967, a US$ 9.500 cada um. Com esse dinheiro você poderia considerar como alternativa, na época, dois Lincolns (o carro mais caro da Ford) ou quatro Mustangs.

E o problema do GT FIA? Quando o inspetor apareceu por lá, a solução já ocupava o centro do galpão. Como a FIA permitia que competissem na categoria versões "reencarroçadas" de veículos existentes, o projetista Pete Brock sugeriu fazer um cupê aerodinâmico no chassi do 289. Nasciam os famosos Cobra Daytona Coupe. Shelby inicialmente não acreditava que o carro seria significativamente mais rápido, mas autorizou a criação de um carro, o chassi CSX2287, após ser apresentado ao modelo de madeira em escala 1:1.
Continua

Carros do Passado - Página principal - e-mail

© Copyright 2001 - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados