Um nascimento discreto   Em 17 de julho de 1947 a Porsche, dirigida por Ferry, dava início a seu 356º. projeto, número que denominaria o carro esporte que ele pretendia criar. Deveria ser um modelo compacto, com relação peso-potência ideal e baixa resistência ao ar. O 356 tinha como metas atingir altas velocidades com ótima aceleração, dar conta das curvas com precisão e frear em distâncias mais curtas que a dos carros maiores. Toda essa esportividade não abriria mão de uma sensação de segurança, mesmo em velocidade.

O protótipo do 356: um pequeno roadster com carroceria de alumínio, motor central de 1,1 litro e apenas 40 cv

No dia 8 de junho do ano seguinte surgia o tão aguardado esportivo que estreou o logotipo da Dr. Ing. H. c. F. Porsche AG, nome oficial da marca. Tratava-se de um roadster de estrutura espacial de chapa de aço, painéis da carroceria em alumínio e motor VW central, de quatro cilindros opostos, refrigerado a ar e modificado. Com apenas 40 cv a 4.200 rpm e torque máximo de 7,9 m.kgf, refletia toda a experiência de Ferdinand com carros de corrida. Naquela época a gasolina tinha menos de 80 octanas RON e a Porsche recomendava uma mistura de gasolina e benzol.

Aos 73 anos, após meses numa prisão francesa acusado de envolvimento com o governo alemão, o grande engenheiro finalmente via seu grande sonho realizado no 356/1. O carro chegava a 135 km/h e acelerava de 0 a 100 km/h em 23 segundos, ótimas marcas para a época. Munido de um motor de meros 1.086 cm³ (73,5 x 64 mm), com carcaça e cabeçotes em liga de alumínio (originais VW), pesava só 585 kg. Ao testar o protótipo, a revista Automobil Revue afirmava: ”É assim que se mostra a dirigibilidade de um carro moderno”. Animado, Ferry então planejou uma pequena série de produção, mas otimizou o espaço interno colocando o motor atrás.

Na versão de produção o motor passava para a traseira e crescia um pouco em cilindrada; era também criada a versão cupê, de linhas igualmente singelas

Fiel a suas raízes, a empresa trazia em sua logomarca o cavalo empinado no centro, representando o brasão da cidade de Stuttgart-Zuffenhausen. Por uma coincidência, o mesmo animal é uma espécie de amuleto dos carros esportivos, também presente nos emblemas da Ferrari e do Mustang. Esse brasão fica acima de outro que simboliza Baden-Württemberg, estado do qual Stuttgart é a capital. Continua

Nas pistas
A primeira incursão da Porsche no mundo do automobilismo se deu com um dos 50 cupês de alumínio fabricados em Gmünd, o de número 2. Era 1951 e o esportivo (na foto) foi modificado para que um campeão fosse criado. O tanque de combustível foi movido para frente, de forma a envolver o estepe, e sua capacidade aumentou para 78 litros.

Para agilizar o reabastecimento, o bocal do tanque ficava na tampa do capô, próximo ao pára-brisa. Os pára-lamas ganharam saias — que o deixavam parecido com um cavalo de batalha medieval... — e a janela lateral traseira foi substituída por uma persiana na cor do carro. Na cor prata, tinha aspecto futurista. Foi batizado de 356 SL.

A estréia foi em grande estilo na 24 Horas de Le Mans. Ao volante estava o importador da marca na França, Auguste Veuillet, e Edmonde Mouche fez a vez de co-piloto. Com uma velocidade média de 140 km/h, o cupê de alumínio já mostrava qual seria o futuro da Porsche nas pistas: foi o vencedor na classe de 1.100 cm³. Mas era só o começo.

No árduo tour Lüttich-Rom-Lüttich outra vibrante vitória. Em Montthéry, ainda no mesmo ano, outro cupê de Gmünd, este com motor 1,5 de 70 cv, participou de uma corrida que durou 72 horas e 11 mil quilômetros, numa média de 152,35 km/h. Tudo por um recorde mundial. Era a prova da rapidez e da credibilidade da marca.

Um outro cupê 356 de alumínio, com motor 1,5 e pára-brisa integral, fez história nos ralis por toda a Europa em meados dos anos 1950. Ganhou em sua classe em Monza em 1952. Em seguida, entre várias outras conquistas, venceria também no rali de Sestriere, no GP de Belgrado e no Alpine Rally de 1953, no rali de longa distância Liège-Rome-Liège em 1954 e na corrida do gelo em Zell am See em 1955.

Outra curiosidade foram as marcantes participações da piloto belga Gilberte Thirion, rara presença feminina nesses eventos. No Porsche, ela chegou em primeiro no 5º. Tour da Bélgica em 1953, com Gonzague Olivier, e foi a primeira em sua classe no Rallye Feminino Paris-St. Raphaël de 1954. Nessa época a Porsche já havia criado outro mito das pistas: o 550 Spyder, primeiro Porsche desenvolvido exclusivamente para as pistas. Ainda assim, o 356 se manteria na ativa até os anos 1960, com destaque especial para o Speedster. 

No Brasil alguns 356 competiram nos anos 1950 e 1960, como o modelo 1100 do paulista Oswaldo Fanucchi e o 1600 SC de Chico Landi e Marivaldo Fernandes, que chegaram a vencer diversas provas.

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