Sorte e azar

A divisão DeSoto da Chrysler, que por pouco não existiria, teve
momentos de sucesso e se perdeu pela falta de identidade

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Da marca DeSoto, uma das que compunham a corporação americana Chrysler, pode-se dizer que nasceu por um golpe de sorte. É que a empresa fundada em 1925 por Walter P. Chrysler precisava de uma divisão para os carros de preço médio, classe em que competiria com a Chevrolet, a Studebaker e a Willys-Knight. Assim, em maio de 1928 surgia a marca cujo nome que homenageava o explorador espanhol Hernando De Soto, do século 16, descobridor do Rio Mississippi. Contudo, pouco depois o grupo adquiria a empresa da Dodge Brothers, tornando-se dono de duas marcas do mesmo segmento. Logo, se a compra da Dodge ocorresse um pouco antes, a DeSoto provavelmente não teria existido.

A nova divisão logo atraiu o interesse dos distribuidores: ao final do primeiro ano já havia espalhadas pelos Estados Unidos 1.500 concessionárias DeSoto, que nos 12 meses iniciais despejaram às ruas 81 mil unidades — recorde que duraria três décadas. O êxito foi tanto que a fábrica compartilhada com a Dodge em Highland Park logo mostrou-se insuficiente, sendo então construída a de Lynch Road para a produção da marca e da Plymouth.

A versão Roadster do DeSoto Six, de 1929: um conversível com motor de seis cilindros e 3,1 litros e já dotado de freios hidráulicos

Lançado em agosto de 1928, o primeiro modelo, o Six, era oferecido em sete versões de carroceria com nomes interessantes, como Roadster Espanol para o conversível de duas portas, Sedan de Lujo para o sedã de quatro portas e Cupe Business para o cupê. Havia também o Faeton, conversível de quatro portas. Todos usavam um motor de seis cilindros e 189 pol³ (3,1 litros) com potência bruta (padrão neste artigo) de 55 cv e recursos técnicos como freios de comando hidráulico, raros na concorrência.

De início, a estratégia da corporação foi colocar a Dodge em patamar pouco superior ao da DeSoto, mas essa situação começou a mudar com o lançamento do modelo Eight, em 1930. Anunciado como o oito-cilindros em linha mais barato do mundo, era mais amplo que o Six e extraía 70 cv de suas 127 pol³ (3,4 litros). Em 1933 a empresa promovia um insólito evento: colocava o piloto Harry Hartz para cruzar o território americano rodando de ré, usando o vidro traseiro como pára-brisa em um carro adaptado. A curiosa campanha tinha motivo: estudos em túnel de vento, iniciados seis anos antes, haviam mostrado que a aerodinâmica dos carros locais era tão deficiente que a resistência ao ar pela traseira era menor que pela frente!

Neste modelo de 1933 as linhas já eram um pouco mais arredondadas, como que sugerindo a revolução que a DeSoto -- e outras marcas do grupo Chrysler -- preparavam para o ano seguinte

Com a decisão da Chrysler de reposicionar a marca acima da Dodge, a DeSoto adquiria o direito de usar, no ano seguinte, a inovadora carroceria da série Airflow e sua estrutura monobloco. O primeiro carro com desenho aerodinâmico no país foi anunciado com pompa. "Adeus, carruagem sem cavalos!", dizia a publicidade, em alusão ao modesto desenvolvimento das carrocerias desde o surgimento do automóvel até então. De fato, o Airflow surpreendia. No lugar de linhas retas, faróis salientes e estepes laterais, o desenho de Carl Breer exibia um perfil suave, com elementos integrados ao corpo principal e grande fluidez. Continua

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Data de publicação: 30/9/06

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