A realização de um sonho

Ferruccio Lamborghini precisava de uma resposta a Enzo
Ferrari: criou os notáveis carros esporte 350 e 400 GT

Não se sabe ao certo o que levou Ferruccio Lamborghini a produzir carros esporte. Nascido em 1916 em Renazzo, esse italiano ganhou experiência com motores durante a Segunda Guerra Mundial. Ao final do conflito, a Itália tinha grande demanda por tratores e implementos agrícolas e, como seu pai era fazendeiro, foi nesses veículos que ele aplicou seus conhecimentos, iniciando em 1948 a Lamborghini Trattori. O logotipo de um touro, que nunca seria abandonado, referia-se a seu signo do zodíaco.

Por motivos óbvios, a atividade de Ferruccio não correspondia a sua paixão, que era por automóveis esporte. Ainda na década de 1940 ele havia feito o seu, com um motor Fiat de 500 cm³, que foi aumentado para 750 cm³ e recebeu um cabeçote de bronze com as válvulas, antes dispostas no bloco. A cor da peça rendeu ao carro o nome Testa d'Oro, ou cabeçote de ouro. Chegou a competir com ele na Mille Miglia de 1947, mas não completou a prova: a dois terços do percurso, bateu no muro de um café. Conformado, pediu uma taça de vinho e ficou por ali mesmo. "Aquilo foi o bastante de corridas para mim", admitiria mais tarde.

No final dos anos 50, suas atividades haviam-se expandido para condicionadores de ar e aquecedores a óleo. Até protótipos de helicópteros ele já tinha construído, em busca de um financiamento do governo para sua produção comercial. E, como muitos italianos bem-sucedidos, possuía um Ferrari. Só que aí começaram seus problemas.

Há divergências entre as versões que circulam entre os entusiastas, mas um fato parece certo. Ferruccio, insatisfeito com os problemas de embreagem de seu Ferrari, foi reclamar ao comendador Enzo, de quem não teria recebido um atendimento digno. Algo como "o que um fabricante de tratores sabe de carros esporte?" teria sido a resposta do arrogante fundador da marca do cavalinho empinado. Enfurecido, Lamborghini decidiu reparar ele mesmo o problema, adaptando uma embreagem de trator. E não só: sem o apoio oficial para construir helicópteros, resolveu aplicar suas liras em uma fábrica de carros esporte.

O conceito GTV   Os planos de Ferruccio eram ambiciosos: ele queria um grã-turismo de luxo, capaz de atingir 240 km/h na Autostrada del Sol, com tecnologias de competição, mas sem o intuito de participar de corridas. E não teve vergonha de copiar o que havia de melhor na indústria italiana: seu motor parecia muito o V12 da Ferrari, mas com cabeçotes de duplo comando inspirados nos da Alfa Romeo. Mais tarde ele diria a um repórter, com bom humor, ter sido "o primeiro japonês na história da Itália", por esse hábito de copiar e não inventar. Continua

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Data de publicação: 25/6/05

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