O único protótipo remanescente
do "carro muito pequeno" da Citroën, de 1939: portas dianteiras
"suicidas", um só farol, capô nervurado |
No
fim do século XIX já existiam pelas ruas alguns automóveis, parte deles
movida a vapor, como os de Cugnot, De Dion-Bouton, Serpolet, Murdoch e
Dallery, e outros elétricos, caso do Jeanteaud. Tinham poucos usuários,
pois eram muito caros. Já no princípio do século XX os carros tomavam as
ruas, mas continuavam privilégio de poucos. Mesmo aqueles menores e mais
simples eram destinados a classes abastadas.
A primeira tentativa bem-sucedida de popularizar o automóvel foi de
Henry Ford com seu Modelo T, em 1908.
Era produzido em série numa linha de montagem, o que revolucionou o
processo de construção de veículos. Muitos empresários do ramo adotaram
a idéia, como o francês André Citroën. Sua empresa Societé Anonyme
Automobiles Citroën, do Cais de Javel, em Paris, começou atividades em
1905 com engrenagens helicoidais duplas com dentes em ângulos opostos,
origem do "double chevron" que é seu logotipo até hoje.
Fabricante de automóveis desde 1919, a Citroën teve um dos primeiros
modelos a participar da linha de montagem no Tipo A 10 HP Torpedo, de
quatro lugares. Pouco depois veio o B2, que dispunha de várias
carrocerias, até mesmo picape. Seguiram-se o pequeno esportivo Caddy,
depois o Cabriolet 5CV, o B14 G e o Rosalie até o fim da década de 1920.
Também eram produzidos ônibus, caminhões e até carros com esteiras, que
fizeram epopéias entre continentes. Apesar das boas vendas, a empresa
não estava em situação financeira confortável. O fabricante de pneus
Michelin, já bastante afamado, passou a controlar a marca em 1934. Bem
antes de obter o controle acionário, porém, os irmãos Pierre e André
Michelin fizeram uma pesquisa de opinião — fato raro na época — para
saber das necessidades da população no que se referia a locomoção sobre
rodas. Era o primeiro estudo de mercado lançado na Europa até então.
No mesmo período, a Sociedade dos Engenheiros de Automóveis (Société dês
Ingénieurs de L’Automobile, SAI) abria um concurso de projetos de carro
popular. De mais de uma centena, três chamaram a atenção por sua
genialidade e praticidade: os de Le Corbusier, Paul Robert e Constant
Ragoucy. As três eram desenhos de carros pequenos, práticos, viáveis
para produção e de custo reduzido. Eles influenciariam muito um projeto
da Citroën. Também em 1934 era lançado o revolucionário
Traction Avant, mas seu êxito
era uma incógnita. Os planos para fazer um carro popular de baixo custo
ainda estavam na cabeça de três homens muito importantes: Pierre Jules
Boulanger, Pierre Michelin (filho de Eduard, o patrão) e André Lefèvre,
cujas idéias inovadoras a Renault não queria adotar, mas eram bem-vindas
em Javel.
Continua
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