Com o XR3 conversível, em 1985, o Brasil voltava a oferecer um modelo aberto com o aval de uma grande fábrica, o que não acontecia desde os anos 60

A versão seguia em aparência o XR3 hatch, mas adotava novo desenho traseiro com lanternas verticais e abertura da tampa até o para-choque

Os esportivos usavam rodas de 14 pol (na foto, com calotas) e pneus da série 60; o motor modificado tinha mais potência em alta rotação, 83 cv

Nos anos seguintes a Ford atacaria essa deficiência com várias modificações no motor, além da troca do diferencial por um mais curto, logo nos primeiros meses. A mecânica da versão incluía amortecedores e molas mais firmes (molas progressivas no caso da traseira, para não sacrificar o conforto em pequenos movimentos de roda), freios dianteiros a disco ventilado e direção mais rápida (relação mais baixa), que se combinava aos pneus mais largos e de perfil baixo, os primeiros em um carro nacional de fábrica com a série 60.

No primeiro teste da Motor 3, o XR3 deixou boa impressão: "Não, ele ainda não é mais veloz que um [Opala] 250-S, um [Dodge] Charger ou um [Ford Maverick] 302 GT, mas é sem dúvida, nesse momento, o automóvel que exibe as melhores características esportivas (dinâmicas) de nossa indústria". E deu uma indicação numérica para isso: "Na pista de Interlagos, usando apenas o anel externo, o XR3 fez passagem de 1min 21s e 37, ou 1s e 67 mais rápido que o até então campeão dessas verificações, o Monza 1.8".

As várias modificações formaram um esportivo interessante: "O motor, apesar de mais 'bravo', manteve toda a docilidade de operação do original. A estabilidade do XR3 é nitidamente superior à dos outros Escort", destacou a revista, que no entanto indicou a tendência a sair de traseira em condições extremas, como curvas rápidas sobre pisos muito ondulados. "Carros que andam como o XR3 realmente não são para qualquer um — exigem cabeça acima de coração. Se você a tem, vá em frente. Vai ser difícil encontrar algo mais interessante", concluiu.

A Motor 3 avaliou também a versão Ghia de cinco portas, que mostrou vantagens como o interior bem cuidado, típico dos Fords da época, e acesso conveniente ao banco traseiro. "O acabamento Ghia realmente vale a pena. Os painéis de porta são muito bem feitos (embora tenhamos restrições ao aplique de madeira conhaque na parte superior). Os bancos são muito bons e confortáveis; seu revestimento é muito bom e harmônico, tanto em material quanto em cores", observou. Quanto ao motor, descrito como "tranquilo, extremamente dócil e silencioso", não se destacava em desempenho.

Apesar do preço mais alto, o Escort concorria diretamente com o sedã Voyage; em algumas versões alcançava em valor o Monza, de maior porte. Já o XR3 só teria adversário direto seis meses mais tarde com o lançamento do Gol GT.

A céu aberto   Em abril de 1985 saía o primeiro conversível nacional com o aval de uma grande fábrica desde o longínquo Volkswagen Karmann-Ghia. Esse XR3, que era um dos carros brasileiros mais sedutores — e o mais caro —, demonstrava projeto cuidadoso na fácil movimentação da capota, de acionamento manual, e no uso de vigia traseiro em vidro com desembaçador elétrico, em vez do plástico empregado por muitos carros fora de série do tipo. Sua construção envolvia um complexo esquema entre a Ford e a Karmann-Ghia, também sediada em São Bernardo do Campo, SP, que fazia a adaptação da carroceria e instalava a capota importada da Alemanha.

Para alojar o teto quando recolhido (condição em que uma capa podia ser aplicada) foi preciso reduzir a largura do banco traseiro, mas a capacidade do porta-malas foi pouco afetada, diminuindo de 305 para 291 litros. Uma barra transversal ligava as colunas centrais de um lado a outro para aumentar a rigidez da estrutura, sempre crítica em modelos abertos. Somada aos demais reforços estruturais (sob o assoalho, por exemplo), resultava em aumento de peso de cerca de 70 kg em comparação ao hatch. Continua

Nas pistas
Nosso Escort colheu grandes resultados nos autódromos. Começou na Mil Milhas Brasileiras de 1984. No fim daquele ano, um carro preparado pelo competente Luiz Antonio Greco estava pronto para disputar o Campeonato Brasileiro de Marcas e Pilotos. Pesava 750 kg e, com o motor CHT preparado para obter 110 cv a 7.000 rpm, superava 200 km/h.

A dupla Liam Duarte-Fábio Greco ganhou o Brasileiro de Pilotos em 1985. O Escort da equipe Greco foi o carro que mais fez pontos na temporada. Em 1986 seguia o regulamento FISA "A" e sua preparação era limitada: as peças do motor podiam ser retrabalhadas, mas tinham de ser originais — exceção feita ao diferencial autobloqueante importado Hewland. O coletor de escapamento também podia ser alterado e a instalação de um radiador de óleo era permitida.

Ganhou a prova Duas Horas de São Paulo, dia em que Paulo Gomes deu um verdadeiro show de pilotagem sob chuva. Na 300 Quilômetros do Rio de Janeiro, o mesmo "Paulão" venceu uma das baterias da prova. No restante da temporada as equipes que corriam com o Escort tiveram muitos problemas. Em 1987 correu tanto na categoria turbo quanto na de motores aspirados da Copa Shell de Marcas e Pilotos. O desempenho foi muito bom.

Se nos carros de rua a estabilidade dos Escorts dos anos 80 não era elogiada, na pista era primorosa. No Brasileiro de Marcas, superavam a todos os concorrentes na questão de velocidade em curva, graças às modificações permitidas pelo regulamento técnico. As buchas silenciosas da suspensão davam lugar a articulações esféricas e molas e amortecedores eram redefinidos. Numa "dividida" na chegada em curva, nada se igualava aos Escorts da equipe oficial da fábrica.

Foi por isso que, mesmo sem nunca ter sido campeão naquela fase do campeonato, por causa do motor inferior ao dos Volkswagens, o Escort deu a Fábio Greco, filho de Luiz Antônio, e Lian Duarte o título de pilotos em 1985 — ano em que os motores turbo de todos os concorrentes eram versões reduzidas para 1,14 litro, como determinava o regulamento.

Também na Argentina o Escort teve boa atuação nas pistas. Já na primeira geração, em fase Mk IV, ele ingressou na categoria de turismo TC 2000 (Turismo Competición 2000) com a versão XR3, mas os títulos só vieram bem mais tarde: ganhou em 1996 e, já com motor Zetec, em 1997, 2000 e 2001 (acima). Em outro campeonato do país vizinho, o Turismo Nacional, obteve bons resultados.

Arrancada
O empresário-piloto Dimas Melo Pimenta fez um Escort dragster, que tinha em comum com o carro de série apenas o visual básico. No resto era todo refeito para acelerar em retas: motor Ford V8 de 4,95 litros, compressor e dois carburadores de corpo quádruplo (quadrijet) para obter 700 cv, transmitidos às rodas traseiras — com largura de 13 pol! — depois de passar por uma caixa automática de Mercury. Testado, revelou aceleração de 0 a 100 km/h em 3,9 segundos e de 0 a 200 em 12 s. Não à toa, um paraquedas era acionado ao fim das arrancadas para ajudar a parar o superEscort.

Com Francis Castaings e Bob Sharp

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