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O 1300 de 1971, ao lado dos descendentes Variant e 1600 quatro-portas, e a irreverente propaganda cheia de gírias que anunciava o 1600-S ou "bizorrão", em 1974

Para atenuar a excessiva saída de traseira do Fusca nas curvas, a bitola de trás foi ampliada em 62 mm e a suspensão ganhou uma barra compensadora. Desse modo, numa curva a roda interna receberia mais peso. Outro destaque do 1500 eram os freios a disco dianteiros, ainda que opcionais. Visualmente, os pára-choques ficavam mais largos, lanternas maiores incluíam luzes de ré e o capô traseiro ganhava saídas de ar. Por dentro, o painel vinha revestido por um material que remetia à madeira de jacarandá, os cintos passavam a ser itens de série e os bancos ofereciam mais suporte às costas.

Dois anos mais tarde, o milionésimo Fusca brasileiro era fabricado. Um em cada dois carros vendidos no País era um VW Sedan. Mais comedido em recursos, o 1300 ganhava ventilação dinâmica. Para 1973, entre outras melhorias, os faróis passaram a ser verticais e o carburador foi recalibrado. Janelas traseiras basculantes agora só vinham como opcional. Em 1974 chegava o 1600-S e, como de costume, a empolgação gerou apelidos: Super-Fuscão, Besourão e Bizorrão eram termos populares para se referir à nova versão de 54 cv líquidos (65 brutos). O impulso era ajudado por dois carburadores, exclusividade mundial do modelo brasileiro.

Para diferenciá-lo no estilo, a VW cobriu as entradas de ar da tampa do motor com uma carenagem negra e aplicou rodas menores e mais largas com pneus 5,90-14 em vez de 5,60-15. Por dentro ele recebeu conta-giros, termômetro do óleo, amperímetro, volante esportivo e bancos mais anatômicos, tudo para criar uma atmosfera mais atraente. Só durou um ano. Com o 1600-S também era eliminado o motor 1500. O 1600 era mantido com visual que não tentava forjar uma esportividade que, de fato, ele não possuía, embora ainda tivesse as rodas de 14 pol. Surgia também o 1300 L, de melhor acabamento.

Para 1977, várias pequenas revisões foram efetuadas, como freios de duplo circuito (tornados obrigatórios pelo Conselho Nacional de Trânsito, o Contran), coluna de direção retrátil em caso de colisão e reforços estruturais no chassi. O bocal do tanque de combustível passou a ser externo em 1978 — antes era dentro do porta-malas. As portas ganhavam pinos de travamento e uma única chave abria todas as portas e tampas. A mudança estética de 1979 foi mais um prato cheio para os criadores de apelido. Por causa das novas lanternas circulares e projetadas para fora, os 1300 L e 1600 "Fafá de Belém" lembravam a parte mais conhecida do corpo da então ascendente cantora. Continua

Nas pistas
A presença do VW em competições começou antes mesmo de ser produzido. O carro precisava ser divulgado o suficiente para atrair o interesse do público para o plano de poupança criado pelo governo nacional-socialista. Uma das maneiras de consegui-lo foi apresentando dois sedãs na subida de montanha do Passo Grossglockner de 1938, antes da prova propriamente dita. Os pilotos? Ninguém menos que o próprio Ferdinand Porsche e seu filho Ferry. Os carros fizeram uma grande exibição, obtendo a média horária de 36 km/h, e levaram os espectadores ao delírio. A estratégia dera certo.

Carros de corrida com potência até 26 vezes maior conseguiam média de 65 km/h, o que dá uma idéia da dimensão do desempenho do VW, ainda com motor de 985 cm3. Todavia, Arthur Railton, no livro The Beetle – A Most Unlikely Story (Fusca - Uma História bem Improvável), comenta que os Porsches dominavam preparação de motores, inerente a sua atividade, e que na ocasião houve bastante ceticismo quanto àqueles motores serem normais, sem modificação.

O fato é que a demonstração deu enorme retorno de imprensa. Isso teria agradado bastante o Führer Adolf Hitler, que teria ficado imensamente grato aos Porsches pai e filho, no sentido de eclipsar o carro que os alemães mais desejavam então, o "americano" Opel.

Diz a história, na continuação, que quando Ferry Porsche construiu o 356, em 1948, o motor de 1.086 cm3 produzia elevados (para a época) 40 cv, graças a cabeçotes com as válvulas de escapamento em ângulo. Teriam sido usados nos dois sedãs para a apresentação no Passo Grossglockner? Tudo indica que sim.

No Brasil, o Fusca começou a aparecer nas corridas de turismo em 1953. Na concessionária Rio Motor, do Rio de Janeiro, alemães que lá trabalhavam como Buby Kistman, gerente de assistência técnica, e Harald Gessner, gerente de vendas, apresentavam-se nas corridas de rua com seus VW de motor 1100, bem como alguns particulares, como Gabriel de Novaes. Mas o desempenho sempre era sofrível.

O primeiro grande momento do Fusca nas pistas foi na primeira Mil Milhas Brasileiras, em novembro de 1956. O carro, um 1952 de vidro traseiro bipartido, foi pilotado por Christian Heins e Eugênio Martins (acima) e chegou em segundo depois de liderar por mais de 10 horas. Perdeu para a dupla gaúcha Catharino Andreatta–Breno Fornari (com uma carretera Ford) devido à quebra do cabo do acelerador, a 11 voltas do final da corrida — e longe, na curva 3, obrigando Christian a vir lentamente para o boxe. Cabo trocado, voltou à pista, mas não houve mais tempo para alcançar os gaúchos.

Mas esse Fusca tinha algo muito especial para andar tanto: virabrequim, bielas, cilindros, pistões e cabeçotes de Porsche 1500 Super, com dois carburadores Solex duplos de 40 mm. A potência era bem alta, 74 cv a 5.000 rpm, e podia ser esticado até 7.000 rpm. Só foi possível usar "miolo" de motor Porsche porque o regulamento exigia que o bloco fosse da marca do veículo, mas não que fosse do mesmo ano. Naquele tempo, a Porsche usava carcaça de motor VW. O regulamento estava atendido.

Seria necessário esperar até 1967, quando o motor do Fusca passou de 1200 a 1300 e recebeu alterações profundas na carcaça e acionamento de válvulas. Então começaram a aparecer kits de cilindros e pistões de 85,5 mm de diâmetro, o que elevava a cilindrada para 1.600 cm3.

Ao mesmo tempo começaram a ser vendidos os kits de dois carburadores de 32 ou 40 mm e resultou que os Fuscas passaram a ser muito rápidos. Antes, com motor 1200, não havia muito o que fazer em termos de aumento de cilindrada, restringindo-se as modificações aos kits Okrasa, alemão, e Denzel, austríaco, ambos para 1.300 cm3.

De esporádica, a participação do Fusca em corrida incrementou-se quando em 1964 o comando do automobilismo brasileiro passou para Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), fundada em 1961, após uma interminável e épica disputa judicial pelo mando do automobilismo com o Automóvel Club do Brasil. Com a CBA vieram grandes mudanças nos regulamentos técnicos e foi criado o Turismo Especial Brasileiro, Divisão 3, em que os motores podiam chegar a 1.600 cm3 e passar por grandes modificações — carburadores duplos de grande diâmetro, escapamento de escolha do preparador, entre outras liberalidades.

Dali em diante, a presença do Fusca nas pistas chegou a um número impressionante. Mesmo hoje se mantém elevado em alguns estados, como São Paulo e Rio Grande do Sul, com campeonatos monomarca de nome Speed 1600. Houve corridas, no início dos anos 70 em Interlagos, de largarem 60 Fuscas Divisão 3.

Foi nessa década, mais para o final, que surgiu o Fusca bimotor dos irmãos Fittipaldi, com dois motores 1600 acoplados por uma junta elástica de borracha Giubo e montados em posição central-traseira. Para todos os efeitos, era um motor de 3.200 cm3 e oito cilindros. O carro andava muito, mas sempre teve problema de embreagem, que não agüentava o torque em torno de 25 m.kgf. A potência superava 320 cv.

O Fusca também foi usado em ralis (acima um modelo no Trans-Chaco, no Uruguai). Chegou a vencer o Safári africano em 1953, 1954, 1957 e 1962, além do rali Kristall em 1971. Mas aqui era mais usado em provas de regularidade. Quando o rali de velocidade impôs-se, de 1984 para cá, o Fusca já estava no ocaso e havia carros mais rápidos como Passat, Gol e Chevette. Para o Campeonato Brasileiro de Rali de 1986, a área de competições da VW esboçou usar o Fusca na equipe oficial, mas a diretoria de marketing foi contra, pois internamente o carro já estava com a sorte decidida. Pararia de ser produzido naquele mesmo ano.

Teria dado certo? Muitos acham que sim, inclusive o colunista do Best Cars Bob Sharp, na época o responsável por competições na VW. "O fato de ter motor e tração traseiros, mais a brecha no regulamento chamado Grupo B Brasil — que permitia usar carburadores duplos em modelos que saíssem de fábrica com dois carburadores simples —, teria feito toda a diferença frente aos outros carros", conta.

Deve ser lembrado que, embora desprovida de carroceria e chassi originais, a mecânica do Fusca foi largamente usada nos monopostos Fórmula V e Fórmula Super V, que brilharam por três anos e fizeram pilotos da estirpe de Émerson Fittipaldi e Nélson Piquet.

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