O Volkswagen Sedan de Herbie, Se Meu Fusca Falasse, o De
Lorean DMC de De Volta para o Futuro, o Aston Martin DB
da série 007, o Mustang GT de Bullit, o Plymouth
Fury de Christine. Todos carros ilustres do cinema, eles
são ou acabam por se tornar verdadeiros personagens nas
histórias que ajudam a contar. Mas esses são filmes marcados
pela ação, às vezes com pitadas de humor, ficção científica ou
terror. Poucos
carros podem se dar ao luxo de ter sua imagem fortemente
atrelada a um clássico da sétima arte, cultuado de modo quase
unânime pelos críticos, ainda que seu reconhecimento e
consagração tenham vindo anos depois do lançamento do filme. Pois esse é o caso do Jaguar Mark VIII.
Graças a Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958),
dirigido pelo aclamado diretor inglês e mestre do suspense
Alfred Hitchcock, passamos boa parte da primeira metade do filme
assistindo a um detetive que sofre de vertigem (James Stewart)
seguir o Mark VIII verde metálico da bela esposa de seu cliente
(Kim Novak). Ela parece estar possuída pelo espírito de sua bisavó,
que se suicidou ainda jovem, e tudo indica que logo seguirá o
mesmo rumo.
A jovem sai em freqüentes passeios de carro pelas ruas de São
Francisco e a câmera leva o espectador em um belo tour
pela cidade californiana, ao som da primorosa partitura de
Bernard Herrmann. |
O sedã verde torna-se uma
espécie de cúmplice, enquanto nos conduz pelos vertiginosos
caminhos da cada vez mais acentuada perturbação dessa mulher — e
do amor que nasce entre ela o detetive. Trata-se de um belo
filme em que a obsessão pela morte, a angústia de salvar dela
quem se ama, a tentativa desesperada de trazer de volta quem se
foi criam um enredo fascinante. Hitchcock surpreende por revelar
a trama na metade da história, mas nos leva a acompanhar seu
protagonista até que ele descubra o que já sabemos.
Tudo isso sem mostrar uma
gota de sangue sequer. |