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A um passo da sagração

Enquanto a Cadillac se estabelecia na elite de Detroit, os méritos
dos mais acessíveis LaSalles eram ofuscados por seu brilho

Texto: Fabrício Samahá - Fotos e ilustrações: divulgação

"O novo prazer de dirigir": o mote é comum, mas o primeiro LaSalle trazia em 1927 desenho refinado e a qualidade de construção Cadillac

Das 12 opções de carroceria, o roadster é talvez o mais representativo do que a marca oferecia em estilo; embaixo, Harley Earl e sua criação

A General Motors Corporation foi fundada em setembro de 1908 em Flint, no estado americano de Michigan, por William C. Durant — nascido em Boston, Massachusetts, e que já em 1890 trabalhara como construtor de carruagens puxadas por cavalos. A primeira marca sob o guarda-chuva da empresa foi a Buick, seguida no mesmo ano pela Oldsmobile e em 1909 por Elmore, Cadillac e Oakland. Em meados da década de 1920, já sem a Elmore, eram cinco marcas: Chevrolet, Oakland, Oldsmobile, Buick e Cadillac, em ordem ascendente de sofisticação e preço.

A idéia da GM era que um cliente, à medida de sua ascensão financeira e social, pudesse passar de uma divisão para outra sem precisar recorrer a empresas concorrentes. Mas, como era usual àquele tempo, cada divisão oferecia apenas um modelo ou poucos modelos, de modo que surgiam lacunas em alguns segmentos de mercado. Alfred P. Sloan, então presidente da corporação, definiu que a solução para esse problema seria oferecer novas marcas, cujos carros seriam vendidos pela rede de concessionárias de uma divisão preexistente.

Foram criadas assim a Pontiac, entre a Chevrolet e a Oakland; a Viking, com vendas pela rede Oldsmobile; a Marquette, pelos distribuidores Buick; e a LaSalle, representada pelas revendas da Cadillac e posicionada abaixo desta na hierarquia das marcas. Ambas usavam nomes de famosos exploradores franceses: Antoine Laumet de La Mothe, Sieur de Cadillac, e René-Robert Cavelier, Sieur de La Salle, que viveu entre 1643 e 1687.

Uma divisão sub-Cadillac tornou-se uma necessidade quando a marca perdeu para a Packard a liderança de vendas do segmento de alto luxo, em 1925. Havia uma lacuna excessiva de preço entre o mais caro Buick, a 1.925 dólares, e o primeiro modelo da Cadillac, de 3.195 dólares. Nas análises da GM, muitos clientes que buscavam algo mais que um Buick, mas não se sentiam aptos a passar a sua marca de maior prestígio, estavam buscando a alternativa mais acessível da linha Single Six da Packard, algo que incomodava o novo presidente da Cadillac, Lawrence P. Fisher.

A LaSalle iria além de fazer Cadillacs acessíveis: assumiria o papel de produzir carros mais ágeis, dinâmicos e esportivos, sem perder a elegância da tradicional marca à qual estava associada. Fisher buscava um projetista talentoso para essa missão quando ouviu falar do jovem Harley Earl, que vinha elaborando belas carrocerias especiais em Los Angeles para Don Lee, concessionário da Cadillac na Califórnia. Earl usava um método incomum à época, mas que se tornaria obrigatório na indústria tempos depois: dar formas com argila (clay) às idéias que colocava no papel.

Fisher entendia do assunto — era um dos sete irmãos da família que controlava a construtora de carrocerias com seu sobrenome. A intenção era que Earl atuasse apenas como consultor no projeto, retornando à Califórnia depois desse único trabalho. Ledo engano: começava ali uma carreira de 32 anos que culminaria no cargo de diretor de estilo da corporação. Não demorou para Harley se tornar vice-presidente dos novos Art & Colour Studios, os "estúdios de arte e cor" responsáveis pelo desenho dos automóveis da GM. Sob sua batuta, os LaSalles lançariam tendências de estilo que, anos depois, pudessem chegar às outras divisões. Continua

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Data de publicação: 30/8/08

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