


Os Mercedes 15-70-100 hp (no
alto e, no centro, com o tenor Richard Tauber) e 24-100-140 (embaixo)
também se beneficiaram do compressor

O motor de 160 cv, que levava o 630 K
a 145 km/h, causou sensação |
Dos céus para a
terra
Foi pouco antes da
Primeira Guerra que Paul Daimler, filho de Gottlieb Daimler e
engenheiro-chefe da DMG, instalou um compressor do tipo Roots (leia
mais abaixo) no motor
Knight com válvulas deslizantes de um Mercedes 16/50 hp. Sua inspiração
veio dos motores usados em aeronaves e submarinos, que seriam produzidos
em série para o combate entre 1914 e 1918. Os compressores eram usados
nesses veículos para compensar a perda de potência a grandes altitudes,
inerente a um sistema de aspiração natural
pela gradual redução da densidade do ar. Entretanto, o motor de válvulas
deslizantes (sleeve-valve) não respondeu bem à atuação desse tipo de
compressor, o que tampouco sepultou a idéia.
Em seguida, depois da boa impressão no Salão de Berlim de 1921, tinha
início o processo de maturação dessa tecnologia em automóveis, na busca da precisão e
da eficiência típicas da engenharia alemã. Foram feitos testes com o
motor de seis cilindros e 7,3 litros do Mercedes 28/95 hp, o que o levou
a produzir 140 cv com compressor e renovou as esperanças de Paul Daimler
na idéia. A vitória de Sailer em 1922 confirmou os bons prognósticos.
Foi nesse ano que Daimler saiu da companhia fundada por seu pai,
deixando a chefia de engenharia para que Ferdinand Porsche continuasse
seu trabalho.
Só em 1923 a produção atingiria um nível de maturidade. Para a linha
1924, o 6/25/40 hp, primeiro modelo de produção com compressor, e o
10/40/65 hp estavam cerca de 50% mais potentes que os antigos 6/20 hp e
10/35 hp. A nomenclatura era formada, em ordem, pela potência fiscal
(fator para enquadramento em faixa tributária), a do motor original e
esta sob ação do compressor. O 6/25/40 hp usava cilindros de aço simples
e válvulas no cabeçote em "V". A complexidade de sua tecnologia
restringia o mercado desses carros pela faixa de preço, mas seu
desenvolvimento prosseguia.
Porsche sabia do potencial que o recurso oferecia a carros de luxo e de
alto desempenho. Os primeiros Mercedes criados por ele foram os
sofisticados 15/70/100 hp e 24/100/140 hp, este disponível em seis tipos
de carroceria. Eles tinham motores com cárter de liga leve, camisas dos
cilindros e cabeçotes de ferro fundido. Outros viriam e a fusão que
criou a Mercedes-Benz apenas solidificou o processo. Em 1926, o modelo K
24/100/140 hp era lançado. O "K", nesse caso, abreviava kurz (curto, em
alemão), já que o entreeixos era 35 cm menor.
O motor era o mesmo de 6,25 litros do 12/100/140 hp, mas os modelos K
tinham tubos prateados de escapamento saindo pela lateral direita do
capô, imponente característica tanto visual quanto sonora. Entre eles ainda havia o 620 K e o 630 K, ambos com o motor
24/110/160 hp. O 630 K chegava a 145 km/h — o carro mais rápido de sua
época, segundo o fabricante. Já o 680 K era dotado do motor 26/120/180
hp para as ruas ou o 26/145/270 hp para as pistas. Mesmo com todos os
méritos desses carros, sua relevância seria ofuscada pelo brilho do
Mercedes-Benz S de 1927 e de seus derivados SS, SSK e SSKL.
Continua
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