Primeiro uso do nome, o Cutlass
conceitual de 1954 parecia inspirado no cutelo que o denomina, com as
linhas aerodinâmicas e o perfil baixo
Sedã, dois cupês, conversível e
perua formavam a linha Oldsmobile F-85 de compactos em 1961; um ano
depois vinha o Cutlass Jetfire turbo |
Entre o fim do século passado e os primeiros 10 anos do atual, várias
marcas de automóveis deixaram de existir. Os poderosos grupos resolveram
enxugar custos e encerraram marcas legendárias, mas que já não traziam o
lucro esperado. Uma delas foi a Plymouth, da Chrysler, divisão que por
anos produziu vários modelos muito interessantes. A General Motors, por
sua vez, dona de marcas como Chevrolet, Buick, Cadillac e Pontiac,
deixou de produzir em 2004 veículos com a marca fundada por Ransom Eli
Olds em 1897. Os belos, grandes, potentes e luxuosos automóveis da
Oldsmobile deixaram saudades. Seus anos de glória foram nas década de
1940 a 1960.
Um dos modelos de grande sucesso da "Olds", muito longevo, foi o Cutlass
— que quer dizer cutelo, um tipo de faca mais usado em cozinhas de
restaurantes e açougues, com sua grande e larga lâmina muito afiada. O
primeiro modelo da marca com essa denominação foi apresentado como
conceito ("carro de sonho", dizia-se à época) em 1954. Sua carroceria
era muito aerodinâmica, baixa e com clara inspiração aeronáutica.
Moderna para a época, usava peças de plástico reforçado. Parecia um
carro de ficção cientifica.
Seis anos mais tarde a Olsmobile lançava um compacto, aproveitando o
segmento que se abria nos Estados Unidos. De início chamado de F-85, era
oferecido nas carrocerias cupê e hardtop
com duas portas, sedã com quatro e perua de cinco portas. Não demorou a
chegar um conversível de linhas simpáticas para completar a linha. Esse
Olds tinha 4,82 metros de comprimento, 2,84 m de entre-eixos e linhas
retas e convencionais. Concorria em tamanho com o
Falcon da Ford, o
Valiant da Chrysler e um colega de GM, o
Chevrolet Corvair. O novo automóvel compartilhava a base do Buick
Special e do Pontiac Tempest, companheiros do grupo que usavam a
plataforma A, e adotava o conceito monobloco,
então raro nos EUA. Era o carro mais barato de sua divisão. As linhas
retas, adequadas a seu tempo com os três volumes distintos, mostravam
amplos e angulosos vidros, quatro faróis circulares e grade cromada bem
distinta. Abaixo do para-choque dianteiro havia luzes de direção
retangulares brancas, e atrás, quatro lanternas circulares. A lateral
chamava atenção pelos vincos bem proeminentes, dando impressão de
fluidez em toda a extensão. Era uma característica de todas as versões,
mesmo a perua, que tinha ótima abertura para bagagens na quinta porta.
O belo compacto estreava um motor V8 com bloco e cabeçotes de alumínio e
215 polegadas cúbicas (3.531 cm³), mesmo motor que fez sucesso do outro
lado do Atlântico equipando o Rover P6
inglês. Sua potência era de 155 cv e o torque de 28,4 m.kgf (valores
brutos, padrão neste texto até 1971).
Podia vir equipado com caixa de câmbio manual ou automática de três
marchas, sempre com alavanca na coluna de direção. Aqueles que gostavam
de dominar mais o carro podiam optar por um câmbio manual de quatro
marchas com alavanca no assoalho. Sua tração era traseira e para os
padrões norte-americanos era um carro leve com seus 1.180 kg. Fazia de 0
a 100 km/h em 15 segundos e a velocidade final era de 160 km/h.
No fim
de 1961 era lançado o modelo esportivo da linha, que inaugurava a
denominação Cutlass, inscrita nos para-lamas. Vinha na versão cupê com
coluna e na hardtop sem coluna central. Por dentro podia ter bancos com
encosto separado e reclinável ou individuais com console central. O
volante de dois raios vinha na mesma cor do painel em metal, seguindo o
tom da carroceria. O velocímetro e demais instrumentos eram horizontais.
Trazia debaixo do capô o motor Rocket 185, número que indicava sua
potência; o torque passava a 31,8 m.kgf. O sucesso foi imediato. As vendas iniciais do F-85 não estavam
dentro do esperado, mas com esta versão a fábrica ficou entusiasmada. Um
sedã de quatro portas do Cutlass também era lançado. Boa novidade em
1962 era a chegada da versão Cutlass Jetfire. O motor 215 recebia um
turbocompressor Garret AiResearch — o
primeiro equipamento do tipo aplicado de fábrica a um automóvel no mundo
— que o deixava com expressivos 215 cv e 40,8 m.kgf, para acelerar de 0
a 100 km/h em 8,5 segundos e atingir 176 km/h.
Como ajuda no controle da detonação, a fábrica aplicou
um borrifo de água destilada e metanol — chamado de Turbo-Rocket Fluid —
nas câmaras de combustão para reduzir sua temperatura. Por fora era
visível o excesso de cromados:
molduras dos faróis, entorno da grade,
frisos laterais e sobre o capô. Só era
vendido com duas portas. Por dentro recebia bancos separados,
conta-giros no painel, console e um vacuômetro com indicador de
economia, à frente da alavanca de caixa automática; havia também o
câmbio manual de quatro marchas. Infelizmente a versão não durou muito:
o motor era problemático e a detonação era frequente, sobretudo sem a reposição do fluido que arrefecia as câmaras.
Continua
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