Do oito ao oitenta

Com o primeiro oito-cilindros em linha em larga escala, o Packard
Eight e seus derivados estabeleceram um padrão de excelência

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

Touring car, runabout, sedã limusine, cupê: algumas das muitas versões da série Single Eight, que chegava ao mercado em 1923

Nas décadas de 1920 e 1930, a indústria automobilística americana situou alguns parâmetros que por muito tempo predominariam em seus carros. Se os motores básicos em geral eram de seis cilindros em linha, houve uma cisão entre os fabricantes de modelos maiores e mais sofisticados. Uns adotavam oito cilindros em "V", como Cadillac e Lincoln; outros preferiam oito cilindros em linha, caso da Duesenberg e da Packard. Para esta última, o modelo Eight representou um marco: era o primeiro oito-em-linha produzido em larga escala no mundo. Ele, o Super Eight e suas derivações se tornariam ícones perenes de qualidade e status.

Até eles surgirem, a história da Packard já havia passado por importantes transições. Seu primeiro carro ficara pronto em 1899. A companhia foi fundada pelos irmãos James Ward Packard e William Dowd Packard, que até então trabalhavam no ramo de equipamentos elétricos em Warren, Ohio. Dois anos mais tarde, no Salão de Nova York, o empresário Henry Bourne Joy adquiriu um carro da então chamada Ohio Automobile Company e aprovou sua qualidade. Com mais oito sócios tornou-se o maior acionista da empresa, que em 1902 se tornou a Packard Motor Car Company.

A produção foi transferida para Detroit, mas James Packard continuava a presidir a empresa a distância em Warren. O primeiro Packard de quatro cilindros surgiu em 1903. Já nessa época a companhia preferia produzir as próprias peças e ter suas próprias lojas, em pontos estratégicos, em vez de terceirizar seus fornecedores e distribuidores. Tudo para manter o maior controle de qualidade possível. A estratégia deu certo: sua reputação se firmou e ampliou, levando-a a se especializar em automóveis de luxo. Em 1912 viria outro marco de sua evolução técnica, o primeiro seis-cilindros da marca.

Joy tomou uma decisão ousada quando em maio de 1915 lançou o Twin Six, primeiro carro com motor de 12 cilindros produzido em escala. As vendas dobraram e a reputação da Packard só se difundiu ainda mais quando ela começou a bater recordes nas pistas. Quando se descobre que ninguém menos que Enzo Ferrari decidiu projetar seus motores de 12 cilindros inspirado nos da Packard, tem-se uma idéia de como a marca era respeitada e admirada. Mas o Twin Six ainda era um modelo de exceção, um extremo de força e requinte.

A medida certa para a Packard manter seu renome e ganhar volume de produção viria com o Eight. Sua história começou em junho de 1923. Lançado com antecedência para a linha 1924, o modelo Single Eight substituía o maior Twin Six, com potência apenas 6 cv menor. Mal sabia a Packard que ela estava garantindo sua principal e mais célebre motorização por todos os seus anos de ouro, que viriam em seguida e, em grande parte, por conta desse propulsor fundamental de sua trajetória.

Pergunte ao homem que tem um   Foi a Duesenberg que introduziu a configuração oito-em-linha nos Estados Unidos, com o Modelo A de 1920, após experimentá-la nas pistas. Entretanto, sua produção era praticamente artesanal. O oito-em-linha da Packard mantinha o diâmetro e o curso do seis-cilindros da marca, 85,7 x 127 mm. Com 5.860 cm³ de cilindrada, o Single Eight fornecia 85 cv. O motor tinha bloco de ferro fundido, válvulas laterais no bloco e virabrequim de alumínio apoiado em nove mancais, para grande suavidade de funcionamento. Continua

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Data de publicação: 5/4/08

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