Maestria em V8

Há 90 anos a Cadillac fazia de um motor o início de
uma verdadeira instituição da tecnologia americana

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

Qual é o motor de automóveis mais tipicamente americano? O leitor vai certamente responder o V8, o que está correto. Mas o que poucos sabem é que essa configuração de cilindros foi inventada na França, em 1903, por Clément Ader e instalado no exclusivíssimo De Dion-Bouton. Se a invenção é francesa, a produção em grande escala e a conseqüente consagração são mesmo ianques. Não, o Ford 1932 não foi o primeiro V8, muito menos o reverenciado Chevrolet Bel Air 1955.

O mérito por fazer de um motor um verdadeiro mito mecânico é da linha Cadillac 1915, apresentada em setembro de 1914. Esse aniversário de 90 anos ganha um sabor todo especial para a marca, a divisão mais luxuosa da General Motors, quando se considera que apenas oito projetos básicos desse motor foram necessários para atingir essa marca. O mais recente é o Northstar 4,6-litros, lançado com o Allanté em 1992. O pioneiro foi o Tipo 51, com um "V" de 90°, virabrequim apoiado em três mancais, cabeçote em "L" (válvulas laterais, no bloco) e refrigeração a água.

O Tipo 51, primeiro V8 da Cadillac e o pioneiro na produção em grande escala pela indústria americana: 5,1 litros, válvulas no bloco, 70 cv brutos, 24,8 m.kgf de torque

O Tipo 51 tinha 314 pol³ (5,1 litros), com diâmetro de 79,4 mm, curso de 130,2 mm e 4,25:1 de taxa de compressão. Seu bloco era feito em liga de alumínio e cobre, as camisas em ferro fundido. O resultado eram 70 cv de potência bruta a 2.400 rpm e 24,8 m.kgf de torque a 2.000 rpm. O carburador tinha cuba de nível constante e bóia e controle auxiliar a ar. Uma evolução marcante em relação ao projeto francês era o sistema de arrefecimento controlado por um termostato.

Perto de 13 mil unidades do Cadillac V8 1915 foram vendidas. Era um motor de série para toda a linha, feito para altas velocidades — até 104 km/h —, nos parâmetros da década de 1910, claro. Surpresa era o Tipo 51 ser mais curto e 27 kg mais leve que o quatro-cilindros que ele substituía. Outras inovações eram a bomba de lubrificação forçada, a caixa de câmbio acoplada ao motor, em vez do centro do carro, e o eixo traseiro tipo flutuante com engrenagens de dentes helicoidais no lugar dos retos de antes.

Dois modelos da linha 1915: o Landaulet Coupé, à esquerda, e o Roadster de quatro lugares

Foi em 1915 também que os Cadillacs ficaram um pouco menos “britânicos”: era o primeiro ano em que o volante passava para o lado esquerdo, embora houvesse a instalação à direita como opcional. Logicamente a partida era elétrica, revolução trazida pelo Self-Starter 1912. Já era uma versão aperfeiçoada de três anos antes, um sistema duplo com fornecimento de um gerador e uma bateria de célula seca. O afogador do carburador também facilitava a partida.

O volante, com controle de aceleração, era dobrável para facilitar o acesso ao veículo. As alavancas do câmbio de três marchas e do freio de estacionamento ficavam no assoalho, próximas ao centro do painel. Os freios usavam tambores, a suspensão dianteira tinha molas semi-elíticas e a traseira quarto de elipse. Naquele ano o chassi em formato de escada passava a ter formato de "H" com três membros cruzados. Continua

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Data de publicação: 6/7/04

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