A
Svenska Aeroplan Aktiebolaget (Companhia Aeronáutica Sueca Ltda.) ou
Saab foi fundada em 1937 para a fabricação de aviões. Sete anos depois,
com o fim da Segunda Guerra Mundial próximo, decidia passar a construir
automóveis para compensar a previsível queda na demanda por aeronaves.
Gunnar Ljungström, engenheiro que projetava asas na empresa desde o
início, foi logo acompanhado pelo projetista de carrocerias Sixten Sason
na incumbência de conceber a primeira iniciativa da marca no ramo de
veículos terrestres.
Entre as premissas do projeto estavam custo final acessível, construção
com técnicas avançadas, capacidade de manter boa velocidade sobre
qualquer condição de terreno e aptidão para enfrentar os rigores do
inverno sueco. Como os carros da DKW alemã
eram bastante populares nos países nórdicos na época, os engenheiros os
tomaram por base para desenvolver o primeiro Saab, chegando a usar a
mecânica DKW no protótipo inicial, que ficava pronto em 1946: o 92.001
ou Ursaab ("ur" significa original em sueco).
Se chamava atenção pela fluidez das linhas, que revelava a tradição
aeronáutica da marca, o protótipo estava longe de ser bonito com seus
grandes faróis salientes — que pareciam olhos esbugalhados —, para-lamas
que cobriam parte das quatro rodas, para-brisa bipartido e uma traseira
alongada, com dois pequenos vidros em forma oval. As portas abriam-se da
frente para trás, tipo conhecido como "suicida" e relativamente comum na
época.
Peculiaridades técnicas em comum com o DKW, como motor a dois tempos e
tração dianteira, seriam mantidas pelos suecos mesmo depois que
desenvolvessem a própria mecânica. A unidade de dois cilindros em linha
e 692 cm³ de cilindrada, com cabeçote de alumínio e um carburador,
desenvolvia potência de 20 cv e torque de 5,8 m.kgf. No ano seguinte
vinham outros protótipos, o 92.002 e o 92.003, e o departamento
automobilístico da marca era transferido para Trollhättan.
Depois de todo o desenvolvimento e testes em condições severas, que
somaram mais de 500 mil quilômetros, em dezembro de 1949 saía da linha
de produção o modelo definitivo: o 92, número que dava continuidade aos
aviões Scandia (90) e Safir (91). Quase todos os veículos Saab, na terra
e no céu, teriam o "9" como algarismo inicial.
Mecânica incomum
O 92 era um sedã de
duas portas "suicidas" com linhas suaves e aerodinâmicas. Com grandes
para-lamas que cobriam parte das rodas e traseira alongada, obtinha
excelente Cx para seu tempo, apenas 0,35.
Chassi e carroceria formavam um monobloco
rígido e resistente. Compacto, ele media 3,95 metros de comprimento com
entre-eixos de 2,47 metros e pesava 880 kg. No interior simples vinham
bancos individuais à frente, um amplo volante de dois raios e o painel
com velocímetro em escala horizontal. Acima dele estava o retrovisor
interno. Na traseira, abaixo do porta-malas, uma bandeja basculante dava
acesso ao estepe.
Embora o capô dianteiro abrisse para frente, o acesso aos órgãos
mecânicos ficava bastante fácil com o sistema de remoção rápida de todo
o conjunto dianteiro, incluindo faróis. Ali estava o motor a dois tempos
de dois cilindros em linha que, com arrefecimento líquido e 764 cm³,
fornecia 25 cv e 5,6 m.kgf. Com uma solução inusitada para sua fixação —
uma mola semielíptica, como as de suspensão, apoiava sua parte dianteira
enquanto a traseira era montada em coxim —, grande parte das vibrações
era absorvida em vez de ser transmitida à carroceria.
Câmbio de três marchas com alavanca na coluna de direção, pneus 5,00-15
e freios a tambor Lockheed com comando hidráulico davam conta do recado,
sendo seu comportamento dinâmico apreciado nas estradas suecas cobertas
de neve. A suspensão independente nas quatro rodas contava com barras de
torção transversais e a direção, com uma leve caixa de pinhão e
cremalheira, era rapidíssima: apenas 1,75 volta de batente a batente.

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