Inconformismo escandinavo

Diferente de tudo o que se conhecia — salvo o DKW —, a série da Saab
iniciada pelo modelo 92 manteve-se no mercado por três décadas

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Conhecido como Ursaab, ou Saab original, o protótipo 92.001 apostava em linhas estranhas, mas aerodinâmicas; as portas abriam-se para trás

 
 

O pequeno motor de dois cilindros a dois tempos, com 700 cm3 e 20 cv, tinha atrás de si o radiador; a tração dianteira também seguia os DKWs

A Svenska Aeroplan Aktiebolaget (Companhia Aeronáutica Sueca Ltda.) ou Saab foi fundada em 1937 para a fabricação de aviões. Sete anos depois, com o fim da Segunda Guerra Mundial próximo, decidia passar a construir automóveis para compensar a previsível queda na demanda por aeronaves. Gunnar Ljungström, engenheiro que projetava asas na empresa desde o início, foi logo acompanhado pelo projetista de carrocerias Sixten Sason na incumbência de conceber a primeira iniciativa da marca no ramo de veículos terrestres.

Entre as premissas do projeto estavam custo final acessível, construção com técnicas avançadas, capacidade de manter boa velocidade sobre qualquer condição de terreno e aptidão para enfrentar os rigores do inverno sueco. Como os carros da DKW alemã eram bastante populares nos países nórdicos na época, os engenheiros os tomaram por base para desenvolver o primeiro Saab, chegando a usar a mecânica DKW no protótipo inicial, que ficava pronto em 1946: o 92.001 ou Ursaab ("ur" significa original em sueco).

Se chamava atenção pela fluidez das linhas, que revelava a tradição aeronáutica da marca, o protótipo estava longe de ser bonito com seus grandes faróis salientes — que pareciam olhos esbugalhados —, para-lamas que cobriam parte das quatro rodas, para-brisa bipartido e uma traseira alongada, com dois pequenos vidros em forma oval. As portas abriam-se da frente para trás, tipo conhecido como "suicida" e relativamente comum na época.

Peculiaridades técnicas em comum com o DKW, como motor a dois tempos e tração dianteira, seriam mantidas pelos suecos mesmo depois que desenvolvessem a própria mecânica. A unidade de dois cilindros em linha e 692 cm³ de cilindrada, com cabeçote de alumínio e um carburador, desenvolvia potência de 20 cv e torque de 5,8 m.kgf. No ano seguinte vinham outros protótipos, o 92.002 e o 92.003, e o departamento automobilístico da marca era transferido para Trollhättan.

Depois de todo o desenvolvimento e testes em condições severas, que somaram mais de 500 mil quilômetros, em dezembro de 1949 saía da linha de produção o modelo definitivo: o 92, número que dava continuidade aos aviões Scandia (90) e Safir (91). Quase todos os veículos Saab, na terra e no céu, teriam o "9" como algarismo inicial.

Mecânica incomum  
O 92 era um sedã de duas portas "suicidas" com linhas suaves e aerodinâmicas. Com grandes para-lamas que cobriam parte das rodas e traseira alongada, obtinha excelente Cx para seu tempo, apenas 0,35. Chassi e carroceria formavam um monobloco rígido e resistente. Compacto, ele media 3,95 metros de comprimento com entre-eixos de 2,47 metros e pesava 880 kg. No interior simples vinham bancos individuais à frente, um amplo volante de dois raios e o painel com velocímetro em escala horizontal. Acima dele estava o retrovisor interno. Na traseira, abaixo do porta-malas, uma bandeja basculante dava acesso ao estepe.

Embora o capô dianteiro abrisse para frente, o acesso aos órgãos mecânicos ficava bastante fácil com o sistema de remoção rápida de todo o conjunto dianteiro, incluindo faróis. Ali estava o motor a dois tempos de dois cilindros em linha que, com arrefecimento líquido e 764 cm³, fornecia 25 cv e 5,6 m.kgf. Com uma solução inusitada para sua fixação — uma mola semielíptica, como as de suspensão, apoiava sua parte dianteira enquanto a traseira era montada em coxim —, grande parte das vibrações era absorvida em vez de ser transmitida à carroceria.

Câmbio de três marchas com alavanca na coluna de direção, pneus 5,00-15 e freios a tambor Lockheed com comando hidráulico davam conta do recado, sendo seu comportamento dinâmico apreciado nas estradas suecas cobertas de neve. A suspensão independente nas quatro rodas contava com barras de torção transversais e a direção, com uma leve caixa de pinhão e cremalheira, era rapidíssima: apenas 1,75 volta de batente a batente.

   

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Data de publicação: 5/5/12

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