A série DKW Front, iniciada em
1931, foi o primeiro carro a associar tração dianteira e motor
transversal; embaixo o conversível F8, último da linhagem
Os maiores Schwebeklasse (em
cima) e Sonderklasse usavam motor V4 de 1,0 e 1,1 litro com tração
traseira, mas seguiam a tradição de dois tempos |
O
DKW-Vemag foi um dos carros mais significativos da história da indústria
automobilística brasileira. Além do fato de ter sido o primeiro
automóvel fabricado no Brasil, ele tinha características próprias, fora
do convencional — era o que se pode chamar de único. Usava motor a dois
tempos (o único em um carro nacional em qualquer época) de três
cilindros e tração dianteira. Um médio-pequeno, transportava seis
pessoas com bom conforto para os padrões da época. Era diferente em
ruído e até no odor dos gases de seu escapamento. Tinha desempenho e
estabilidade excepcionais para seu tempo.
Sua passagem pelo Brasil durou pouco, apenas 11 anos. Mas quem viveu
aquele tempo garante que pareceu muito mais do que isso. Parecia que não
teve começo, parecia que não teria fim. Um dia o DKW-Vemag acabou
melancolicamente, saiu de repente do cenário brasileiro. A fábrica, a
Vemag, foi comprada pela Volkswagen do Brasil que, um ano depois, tirou
o DKW de linha. Mas esse carro fantástico, que mexeu com os corações de
toda uma geração no Brasil, permanece vivo na memória e na garagem de
muitos. Um alemão que se naturalizou brasileiro.
O
começo
A DKW foi fundada em 1916 na Saxônia, Alemanha, pelo engenheiro
dinamarquês Jörgen Skafte Rasmussen. A sigla para Dampf Kraft Wagen
(carro a vapor, em alemão) indicava sua atividade, a produção de
maquinários para motores a vapor. Rasmussen tentou fazer o próprio carro
ainda naquele ano, o que não conseguiu. Mas em 1919 concluía um pequeno
motor a dois tempos com cilindrada de 30 cm³, a que chamou de Des Knaben
Wunsch (o desejo dos meninos) ou... DKW.
Esse não seria o último significado para a sigla: um motor da mesma
época, de 125 cm³, foi aplicado a uma bicicleta, então denominada Das
Kleine Wunder (a pequena maravilha). A DKW encontrava ali um de seus
ramos de maior sucesso: no fim de década de 1920 se tornaria líder
mundial em fabricação de motos. Mas a produção de automóveis também teve
relevância em sua história.
O primeiro foi apresentado em 1928 e usava motor a dois tempos, como
seriam todos os DKWs. Três anos depois, a série Front tinha a primazia
de associar a tração dianteira — já experimentada em modelos como o
Cord americano — à posição
transversal do motor. Denominados de F1 a F8, os carros tinham dois
cilindros em linha, cilindrada de 584 ou 692 cm³ e potência de 18 ou 20
cv.
Houve também modelos DKW de quatro cilindros em "V" e tração traseira,
as linhas V800, V1000, Schwebeklasse e Sonderklasse. Com 990 e 1.054
cm³, desenvolviam 25 e 32 cv, na ordem, e eram anunciados como 4=8, uma
referência ao fato de o motor de quatro cilindros a dois tempos ter o
mesmo número de centelhas por giro do virabrequim que um de oito
cilindros a quatro tempos. Igual estratégia levaria mais tarde à
associação 3=6 para os motores de três cilindros.
Continua
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