

Relançado pela AC em 1984, o
Cobra ganhou versões como a Mk IV, a Superblower (em preto) e a 212 S/C
de motor Lotus Esprit (em vermelho)


CSX 4000 (em azul) e 8000: os
Cobras 427 e 289 de rua refeitos pelo próprio Carroll e que ainda hoje
podem ser comprados em forma de kit |
O renascimento
O Cobra
ressurgiu na Inglaterra em 1984, quando a AC retomou sua produção. O
chamado Mk IV (os britânicos designam por "mark" as evoluções de um
modelo) combinava carroceria e suspensão do antigo 427 (ou Mk III) ao
motor Ford V8 302 de 4,95 litros com injeção, então em uso no Mustang.
No fim dos anos 90, recuperada de uma crise financeira, a empresa
ampliou o leque com as versões Superblower, dotada de compressor, e CRS
ou Carbon Road Series, que usava carroceria de fibra de carbono para
menor peso.
Ao lado de Cobras 289 e 427 praticamente iguais ao dos anos 60, a AC
passou a oferecer variedades inusitadas como o 212 S/C, com motor V8 de
3,5 litros, dois turbos e 350 cv de
Lotus Esprit — o número 212 indicava a cilindrada em polegadas
cúbicas, um resquício de tradição. A carroceria de fibra de carbono era
maculada por um defletor dianteiro e havia modernidades como câmbio de
seis marchas e pneus da série 50.
Depois de anunciar sua mudança para a República de Malta (pequeno país
formado por um arquipélago a sudoeste da Itália) e cessar a produção, a
AC recolocou o Cobra no mercado com uma heresia ainda maior: uma versão
com portas asas-de-gaivota e motor Chevrolet! Apresentado em abril
passado, o AC Cobra Mk IV é feito pela empresa alemã Gullwing com
carroceria de alumínio, seções superiores das portas articuladas no
centro do teto (as partes inferiores são convencionais), freios de
Porsche e o V8 de 6,2 litros do Corvette atual, com escolha entre 437 cv
na versão GT e estúpidos 647 cv na GTS. Apesar de todo o rompimento com
as tradições, é sem dúvida uma proposta interessante sobre o grande
clássico.
Cinco anos depois que a AC fizera o mesmo do lado de lá do Atlântico,
Carroll Shelby recolocou o Cobra no mercado norte-americano em 1989,
enquanto trabalhava para a Chrysler no desenvolvimento do Viper. O 427
S/C usava chassis e carrocerias remanescentes de 1966 para montar novos
carros. Em 1995 era apresentada a versão CSX 4000, correspondente ao 427
dos anos 60 e em produção ainda hoje. A carroceria pode ser de plástico
e fibra, alumínio ou mesmo fibra de carbono. Para o distinguir das
muitas réplicas existentes, o carro traz uma Declaração de Origem
assinada pelo próprio Carroll. Os CSX 7000 e 8000, por sua vez, dão
continuidade ao Cobra 289 em versões de corrida e de rua, nesta ordem. O
7000 pode ter carroceria de plástico/fibra ou alumínio, e o 8000, apenas
plástico/fibra.
O Cobra marcou a década de 1960 em todo o mundo. Talvez por isso seja
construído sob forma de réplicas em vários países. Carroll Shelby torce
o nariz para as cópias e diz que, se fosse doado para uma instituição de
caridade um dólar para cada réplica construída, já ficaria muito
satisfeito — ele, que usa coração e fígado transplantados, mantém uma
dessas entidades para financiar transplantes de órgãos a crianças
carentes. A naja sobre rodas foi sua obra máxima e por gerações
encantou, e ainda encanta, aqueles que amam a força bruta sob o comando
do pé direito.
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