Um ano e meio atrás, no editorial da edição no.
88, enfoquei o progressivo desaparecimento da informação técnica na imprensa automobilística nacional. Pois chegou o momento de enfocar um tema paralelo, que de certo modo explica o fenômeno citado: o material de imprensa fornecido pelos fabricantes e importadores torna-se a cada dia mais superficial.
Quando o BCWS surgiu, em 1997, a maioria das marcas fornecia descrições e fichas técnicas detalhadas. Quando não completas, ao menos supriam uma ficha como a que utilizamos nas avaliações completas. A General Motors, por exemplo, informava em todo material o comprimento das bielas, permitindo calcular a
relação r/l, fator que -- como nosso leitor bem sabe -- afeta o rendimento e a suavidade de funcionamento do motor.
Como está esse quadro hoje? Elementos importantes como o diâmetro dos freios, as bitolas, a tala das rodas e até -- pasme -- as relações de marcha estão ausentes de muitos materiais de imprensa. A cada avaliação completa, precisamos contatar a empresa para obter os diversos dados faltantes. E nem sempre eles são fornecidos pela assessoria a tempo para publicação.
No recente lançamento do novo
Corsa, a GM chegou ao extremo de não informar as inéditas medidas de diâmetro dos cilindros e curso dos pistões do motor 1,8. Talvez o intuito fosse mesmo evitar que sua crítica relação r/l fosse percebida. Mas divulgar as medidas talvez evitasse que boa parte da imprensa publicasse uma bobagem, a de que esse motor seria o mesmo antes oferecido no Astra.
No ano passado, ao lançar o Astra a álcool, a mesma GM omitiu seus índices de desempenho. A Citroën até hoje divulga o consumo rodoviário de alguns modelos no sistema europeu de velocidade constante, que não segue a norma nacional da ABNT. Até a Peugeot, antiga referência em informações de imprensa, deixou de lado as relações de marcha no recente material do 307.
Se formos considerar a precisão das informações, pior ainda. Erros
surpreendentes são cometidos, como suspenção, no material do
novo Corolla; motor de exaustão, em recente informativo da
BMW; ou mencionar a relação da caixa de transferência no Blazer de
tração traseira (só existe na versão 4x4).
Onde isso vai parar? Se fabricantes e importadores continuarem nivelando por baixo, no futuro o leitor terá à disposição apenas os dados mais superficiais, aqueles que "publicações-catálogo" hoje publicam em suas microfichas. Quem quiser saber mais, que compre o carro e o desmonte.
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