O dia 25 de dezembro ainda não havia terminado e os noticiários televisivos começavam a dar os balanços dos acidentes nas estradas nessa época. Só nas rodovias paulistas o número dobrou. Um quadro inadmissível, já que no Brasil não neva e nem se forma gelo nas pistas. Realmente, algo de muito errado há com nosso sistema rodoviário
e nossos motoristas.
Uma semana antes do Natal foi inaugurado o trecho que completou a SP-160 Rodovia dos Imigrantes, obra devida pelo Estado há 28 anos. Ao percorrê-la, é fácil constatar sua
excelência de projeto, construção, controle e sinalização. Por exemplo, informação de declividade, até hoje nunca vista -- é de apenas 6%, ou seja, descem-se 6 metros a cada 100 m horizontais.
Mas não é preciso ser conhecedor do assunto para estranhar o limite de velocidade: 80 km/h, numa estrada que pode ser percorrida com total segurança a 120 km/h. O limite é inferior em 20 km/h ao trecho de subida, que existe há quase três decênios, e igual ao da passagem de pedágio livre, já no planalto paulista. Vale lembrar que nas vias elevadas urbanas na cidade do Rio de Janeiro, assim como na pista "expressa" das Marginais dos Rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo, o limite é de 90 km/h.
Pelo que já se conhece de hábitos das administrações brasileiras, o governo do estado de São Paulo, com esse absurdo limite, acaba de inaugurar uma esplêndida fábrica de multas. A Ecovias, administradora da estrada, justifica a medida pelos citados 6% de
declividade -- que, repito, é das menos acentuadas conhecidas nesse
tipo de estrada. Será que a empresa imagina ser possível um trecho de serra descendente sem inclinação?
E não é só. Em uma estrada primeiro-mundista em tudo, a formação de nevoeiro leva a Polícia Rodoviária a fechá-la e a implementar a chamada Operação Comboio. Veículos em
grupo trafegam nos trechos afetados pelo fenômeno meteorológico tendo uma viatura policial à frente -- como se seus policiais dispusessem de algum dispositivo miraculoso para enxergar no nevoeiro.
Assim, os motoristas da região acostumam-se com essa sistemática, bem ao jeito de Rudolf, a rena do nariz vermelho, cuja luz especial mostra o caminho para Papai Noel conduzir seu trenó na noite mágica...
Só que quando esses mesmos motoristas enfrentam situação semelhante em qualquer outra estrada, sem a "orientação da rena", é fácil adivinhar o que acontece... Ou seja, os próprios órgãos rodoviários estão conduzindo o processo de imbecilização do motorista.
Talvez por medidas como essas haja tantos motoristas inaptos pelas estradas, sobretudo nessa época de férias. Vê-se por todo lado a incapacidade em utilizar adequadamente a potência do motor (lembre-se do maior peso do carro quando carregado); a insistência em permanecer na faixa da esquerda, que deveria ser rigorosamente fiscalizada e punida; o uso excessivo dos freios, em vez do apoio do freio-motor em declives.
No novo trecho de serra só podem trafegar automóveis e utilitários leves. Todo o resto, como vans (furgões de passageiros), ônibus e caminhões, é obrigado a usar a SP-150 Via Anchieta. Inaugurada em 1947, suas curvas são de raio incomparavelmente menor e a
declividade beira 10%, sendo portanto menos adequada para veículos de grande porte do que os traçados modernos.
Enquanto isso, nada de sinalização especial na Imigrantes, como luzes estroboscópicas, de alta intensidade, para orientar margens e divisões de faixas da rodovia. Elas existem há muitos anos nas cabeceiras dos aeroportos e podem ser aplicadas nas estradas.
Como dissemos no editorial da edição
anterior, alguma coisa de estranho está acontecendo com a cabeça dos brasileiros, e isso não é nada bom.
É preciso reverter esse processo de algum modo.
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