Comprar um automóvel zero-quilômetro no Brasil tem suas armadilhas. De
tempos em tempos, os fabricantes descobrem novas maneiras -- ou, em sua
falta, reaplicam as antigas -- de reduzir os custos de produção,
eliminando equipamentos ou funções que mesmo o consumidor atento deixa
de observar na hora da aquisição.
Quem se sentar no banco traseiro do Celta 2003, versão de três portas,
terá uma surpresa ao afivelar o cinto: os laterais traseiros não são
mais retráteis, sem dúvida mais convenientes e seguros, pois se ajustam
automaticamente ao corpo. A mesma involução ocorreu anos atrás no Ka,
que -- como o modelo da GM -- foi lançado com cintos retráteis de série
também atrás.
Recentemente a Parati recebeu uma revisão em versões e equipamentos de
série. As versões mais em conta ganharam direção assistida como padrão
mas, em contrapartida, as superiores -- como a recém-lançada Crossover
-- perderam o ar-condicionado de série, sem que o preço tenha sido
reduzido de acordo.
Outros equipamentos, mais difíceis de perceber, são alvo fácil do
processo de "depenação" por que passam vários automóveis. Meses após
lançar o Clio nacional, a Renault retirou-lhe o espelho de cortesia no
pára-sol do motorista, que até hoje não retornou, e o comando adicional
de buzina na alavanca esquerda da coluna de direção -- as primeiras
unidades traziam uma bem-vinda redundância, para atender ao mesmo tempo
à preferência francesa e à do resto do mundo.
No novo Polo, as luzes de cortesia das portas desapareceram ainda em
2002, restando em seu lugar meros refletores, que até enganam... com as
portas fechadas. No
Ka modelo 2003, o espelho de cortesia do
motorista, a tomada de energia 12V e o limpador do vidro traseiro, antes
de série, passaram a ser opcionais.
Já no Corsa 1,8, junto da redução de preço em agosto
último, gerada pelo menor IPI, a GM removeu itens como o desembaçador do
vidro traseiro, essencial em qualquer veículo.
E não são apenas os carros pequenos os atingidos. O Astra não passou
mais que algumas semanas com um rádio/toca-fitas de excelente qualidade,
utilizado nas primeiras séries em 1998. Pouco depois, avaliada outra
unidade pelo BCWS, já havia um sistema de áudio muito inferior,
que permanece até hoje.
Pouco antes, em 1997, o
Omega GLS perdera as convenientes telas de proteção solar no vidro
traseiro.
No Vectra, o modelo 2000 adotou pintura básica (primer) em partes
menos aparentes, como o compartimento do motor, e o 2003 a estendeu às
partes expostas ao abrir a tampa do porta-malas. Ao abrir o capô dos
últimos Kadetts GL, em 1997, o interessado podia perceber que até o
revestimento fonoabsorvente da parede de fogo (divisória entre motor e
habitáculo) fora abolido.
Há ainda os casos em que se nota o despojamento, mas sua extensão é bem
maior do que aparenta. Quem trocar seu picape Strada Working 1,5 pelo
novo Fire 1,25, estimulado pela redução de preço, certamente notará que
o painel é o mesmo do antigo Palio. O que poucos perceberão é há muito
mais retrocessos em relação à Working nessa versão: embreagem de comando
a cabo, ar-condicionado mais ruidoso e de ajuste de temperatura difícil,
central elétrica não-integrada (que a Fiat chama de sistema Venice).
Embora possam ser enquadradas pelo Código de Defesa do Consumidor, como
Luís Carlos P. Garcia mostra em Questões
de Direito desta edição, não se espera mesmo que os fabricantes
anunciem as involuções sempre que elas ocorrem. Daí a importância de
examinar com atenção o veículo -- e a relação de equipamentos divulgada
-- e de se orientar por quem está atento aos detalhes, como é padrão
desde sempre em seu BCWS.
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