Existe no jornalismo um procedimento pouco conhecido dos leitores, mas
que tem muito a ver com seu direito à informação: o embargo. Definido
genericamente pelo mestre Aurélio como impedimento, obstáculo,
empecilho, o termo tem uma conotação mais específica na imprensa
automobilística: significa que as informações fornecidas pelo fabricante
não deverão ser publicadas até determinada data.
Por que impedir a divulgação de um fato que, afinal, já aconteceu? Em
teoria, a função do embargo é alinhar publicações de meios de
comunicação diferentes, ou que não podem ter acesso à informação ao
mesmo tempo, para que não haja favorecimento de nenhum. Além disso, há o
interesse da empresa em sincronizar as notícias com o início da campanha
publicitária.
Quando a Volkswagen lançou o Passat reestilizado no Brasil, em abril de
2001, distribuiu as apresentações para as várias mídias por quatro ou
cinco dias, colocando a data de embargo para o dia seguinte ao da última
apresentação. Com isso, todo o material foi publicado nas mídias
impressa, eletrônica (rádio e TV) e internet em uma mesma quarta-feira.
Perfeito. Deveria ter sido assim com muitas apresentações que, por um
motivo ou outro, distribuem-se em várias datas, prejudicando as mídias
escolhidas para os últimos dias.
Em alguns casos o embargo fica bem mais adiante, como no lançamento do
novo Toyota Hilux, na Argentina, em julho de 2001. Foram cerca de 20
dias entre o picape ser apresentado e sua publicação pela imprensa
brasileira, o que certamente facilita o trabalho jornalístico, que pode
ser feito sem pressa — a tradicional inimiga da perfeição.
Mas nem sempre a estratégia é bem-sucedida. Ao lançar o Celta, em
setembro de 2000, a General Motors proporcionou a algumas mídias — em
sua maioria revistas — a apresentação da novidade em seu campo de provas
de Indaiatuba, SP duas semanas antes do lançamento oficial para a
imprensa.
Eis que, faltando algo como cinco dias para o evento, a revista Quatro
Rodas colocou nas bancas a edição com o teste do Celta, furando o
embargo. Em casos como este, as regras — não-escritas, mas em uso —
levam a se desfazer o acordo. Qualquer mídia pode, então, publicar o
material a que tiver acesso. Só que nem todas haviam dirigido, ou mesmo
visto, o carro. Desde aquele episódio o embargo se tornou menos usual no
Brasil.
Não foi a primeira vez, nem seria a última, em que revistas se
beneficiaram com esse sistema. Em abril de 1999, ao reestilizar o Gol e
a Parati, a VW permitiu que elas publicassem um teste completo logo no
início do mês, enquanto todo o restante da mídia tinha um embargo de
cerca de 10 dias a mais para divulgar as parcas informações fornecidas
pela empresa — uma página de texto e quatro fotos. Um desrespeito.
Recentemente, no início de junho, a Nissan ofereceu o utilitário esporte
XTerra para avaliação dos sites, enfatizando que haveria embargo até o
dia do lançamento ao restante da imprensa (6/6). Só que uma semana antes
as revistas, já nas bancas, mostravam as informações que para os demais
eram embargadas... Em respeito ao leitor, o BCWS — que não
dirigiu o veículo, logo não participou do embargo — publicou no dia 2,
em Últimas Notícias, o que estava sendo divulgado com antecipação
pelas revistas.
Trata-se de um efeito indesejado que todo fabricante deveria considerar
ao definir o embargo. Em 2000, ao apresentar a série especial Fiesta
Sport a pequenos grupos de mídias em dias diferentes, o assessor de
imprensa Luís Carlos Secco questionou-nos aos representantes dos sites
como preferíamos o embargo. O próprio Secco, sempre atencioso, encerrou
a questão: como as revistas estavam por sair com o teste do carro em
poucos dias, era melhor que pudéssemos publicá-lo imediatamente.
Com o crescimento da internet em escala geométrica, o embargo tornou-se
mais freqüente no relacionamento dos fabricantes com a mídia
internacional. Na divulgação do Golf de quinta geração, na última
terça-feira (22/7), o site de imprensa da VW alemã destacava o embargo
até o dia seguinte para a online media, ou a mídia baseada na
internet.
Isso mesmo: apenas para os sites, a pretexto de evitar que saíssemos à
frente dos jornais. Programas de rádio e TV, por exemplo, ficaram livres
para se adiantar sem qualquer restrição. É justo?
Para o BCWS não é. Mas seria apenas mais um caso de, mesmo
discordando, respeitar a solicitação do fabricante, não tivessem dois
web sites europeus se adiantado e divulgado o Golf ainda na terça.
Diante do quadro, valeu a regra não-escrita: publicamos a notícia
imediatamente.
Nossa posição é clara: todo embargo será seguido. Desde que não
prejudique a você, nosso leitor, em relação aos de outros sites ou de
mídias impressas e eletrônicas. Pois, além do respeito a fabricantes e
importadores, devemo-lo a quem é a razão deste web site.
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