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Embargo e leitor, o mesmo respeito

Edição n°. 155 - 26 de julho de 2003

Existe no jornalismo um procedimento pouco conhecido dos leitores, mas que tem muito a ver com seu direito à informação: o embargo. Definido genericamente pelo mestre Aurélio como impedimento, obstáculo, empecilho, o termo tem uma conotação mais específica na imprensa automobilística: significa que as informações fornecidas pelo fabricante não deverão ser publicadas até determinada data.

Por que impedir a divulgação de um fato que, afinal, já aconteceu? Em teoria, a função do embargo é alinhar publicações de meios de comunicação diferentes, ou que não podem ter acesso à informação ao mesmo tempo, para que não haja favorecimento de nenhum. Além disso, há o interesse da empresa em sincronizar as notícias com o início da campanha publicitária.

Quando a Volkswagen lançou o Passat reestilizado no Brasil, em abril de 2001, distribuiu as apresentações para as várias mídias por quatro ou cinco dias, colocando a data de embargo para o dia seguinte ao da última apresentação. Com isso, todo o material foi publicado nas mídias impressa, eletrônica (rádio e TV) e internet em uma mesma quarta-feira.

Perfeito. Deveria ter sido assim com muitas apresentações que, por um motivo ou outro, distribuem-se em várias datas, prejudicando as mídias escolhidas para os últimos dias.

Em alguns casos o embargo fica bem mais adiante, como no lançamento do novo Toyota Hilux, na Argentina, em julho de 2001. Foram cerca de 20 dias entre o picape ser apresentado e sua publicação pela imprensa brasileira, o que certamente facilita o trabalho jornalístico, que pode ser feito sem pressa — a tradicional inimiga da perfeição.

Mas nem sempre a estratégia é bem-sucedida. Ao lançar o Celta, em setembro de 2000, a General Motors proporcionou a algumas mídias — em sua maioria revistas — a apresentação da novidade em seu campo de provas de Indaiatuba, SP duas semanas antes do lançamento oficial para a imprensa.

Eis que, faltando algo como cinco dias para o evento, a revista Quatro Rodas colocou nas bancas a edição com o teste do Celta, furando o embargo. Em casos como este, as regras — não-escritas, mas em uso — levam a se desfazer o acordo. Qualquer mídia pode, então, publicar o material a que tiver acesso. Só que nem todas haviam dirigido, ou mesmo visto, o carro. Desde aquele episódio o embargo se tornou menos usual no Brasil.

Não foi a primeira vez, nem seria a última, em que revistas se beneficiaram com esse sistema. Em abril de 1999, ao reestilizar o Gol e a Parati, a VW permitiu que elas publicassem um teste completo logo no início do mês, enquanto todo o restante da mídia tinha um embargo de cerca de 10 dias a mais para divulgar as parcas informações fornecidas pela empresa — uma página de texto e quatro fotos. Um desrespeito.

Recentemente, no início de junho, a Nissan ofereceu o utilitário esporte XTerra para avaliação dos sites, enfatizando que haveria embargo até o dia do lançamento ao restante da imprensa (6/6). Só que uma semana antes as revistas, já nas bancas, mostravam as informações que para os demais eram embargadas... Em respeito ao leitor, o BCWS — que não dirigiu o veículo, logo não participou do embargo — publicou no dia 2, em Últimas Notícias, o que estava sendo divulgado com antecipação pelas revistas.

Trata-se de um efeito indesejado que todo fabricante deveria considerar ao definir o embargo. Em 2000, ao apresentar a série especial Fiesta Sport a pequenos grupos de mídias em dias diferentes, o assessor de imprensa Luís Carlos Secco questionou-nos aos representantes dos sites como preferíamos o embargo. O próprio Secco, sempre atencioso, encerrou a questão: como as revistas estavam por sair com o teste do carro em poucos dias, era melhor que pudéssemos publicá-lo imediatamente.

Com o crescimento da internet em escala geométrica, o embargo tornou-se mais freqüente no relacionamento dos fabricantes com a mídia internacional. Na divulgação do Golf de quinta geração, na última terça-feira (22/7), o site de imprensa da VW alemã destacava o embargo até o dia seguinte para a online media, ou a mídia baseada na internet.

Isso mesmo: apenas para os sites, a pretexto de evitar que saíssemos à frente dos jornais. Programas de rádio e TV, por exemplo, ficaram livres para se adiantar sem qualquer restrição. É justo?

Para o BCWS não é. Mas seria apenas mais um caso de, mesmo discordando, respeitar a solicitação do fabricante, não tivessem dois web sites europeus se adiantado e divulgado o Golf ainda na terça. Diante do quadro, valeu a regra não-escrita: publicamos a notícia imediatamente.

Nossa posição é clara: todo embargo será seguido. Desde que não prejudique a você, nosso leitor, em relação aos de outros sites ou de mídias impressas e eletrônicas. Pois, além do respeito a fabricantes e importadores, devemo-lo a quem é a razão deste web site.

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