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Impostos demais

A redução do IPI pode ser um bom começo rumo a uma
tributação mais adequada sobre nossos automóveis

por Fabrício Samahá - Edição n°. 156 - 9 de agosto de 2003

Fabrício Samahá, editorO setor automobilístico comemorou, esta semana, uma nova redução — ainda que temporária — no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que incide sobre os automóveis. A queda de três pontos percentuais, até novembro (quatro pontos até outubro), pode representar pouco nos preços praticados pelo mercado, há muito abatidos pelos inevitáveis descontos, mas representa no mínimo um estímulo psicológico ao consumidor.

O fato é que o automóvel é tributado demais no Brasil. De acordo com o Anuário Estatístico da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), antes da redução desta semana, 29% do preço público de um automóvel de cilindrada média (entre 1.000 e 2.000 cm³) correspondiam a impostos. Nos modelos até 1.000 cm³ o percentual era de 25,7%, e nos de cilindrada acima de 2,0 litros, 34,2%.

Algumas referências? Nos Estados Unidos a participação dos impostos no preço final é de apenas 6,1%; no Japão, 9,1%; na Alemanha e Espanha, 13,8%; no Reino Unido, 14,9%. Não resta dúvida: o comprador de automóvel paga impostos demais no Brasil.

Há quem entenda — inclusive respeitados órgãos de imprensa — toda redução de impostos como renúncia fiscal, como a que acontece quando um estado aceita perder em arrecadação para conquistar a instalação de uma empresa. Nesta semana, um conhecido jornal paulista publicou que o valor que o governo supostamente deixaria de arrecadar "pagaria 21 mil metalúrgicos por ano".

Ora, quanta bobagem. Mesmo quem não é do ramo da economia deveria entender que toda tributação tem seu ponto de equilíbrio: uma vez ultrapassado, ocorre não um aumento da arrecadação, mas uma diminuição, provocada pela retração do mercado. Em termos mais simples: em vez de tirar pouco de muitos, passa-se a tirar muito de poucos. E arrecada-se menos.

As experiências bem-sucedidas do passado, como a criação do carro popular em 1993 (quando o IPI foi reduzido a simbólico 0,1%), já provaram a importância de buscar esse ponto de equilíbrio, que a meu ver ainda está abaixo do atual patamar de tributação de nossos veículos. Com menos impostos, o mercado de automóveis se reaqueceria, movimentando a economia e gerando empregos — tão ameaçados pela atual recessão — em toda a cadeia produtiva.

Já passou do tempo de fazer o Brasil deixar o pódio entre os países que mais duramente tributam o automóvel. A nova redução do IPI, que esperamos que se torne definitiva, pode ser um bom começo rumo a uma tributação mais coerente.

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