Estupidez à solta

A vida humana no Brasil parece mesmo ter perdido
sentido, produto de uma marginalidade sem controle

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorO editorial anterior intitulou-se “Guerra é guerra”, num sentido figurado para descrever as medidas que temos tomado contra os plagiadores. Este, de agora, bem poderia ter o mesmo título, mas no sentido literal, diante da brutalidade que vem assolando nosso país sob as mais variadas formas.

Há dois dias, um colega jornalista, Nílton Saciotti, 48, dirigia um carro de teste em Curitiba e foi alvejado na cabeça numa tentativa de assalto. Seu estado é gravíssimo. Justamente ele, incapaz de matar uma mosca, e que vinha se recuperando bem de uma obesidade mórbida combinada com diabetes e problemas cardiovasculares, está entre a vida e a morte. Já se sabe que ficarão seqüelas.

Este quadro de insegurança assusta, mais do que se pode imaginar. O caso do bom amigo Nílton é apenas mais um nas densas estatísticas da criminalidade. Mais um número. Sociólogos tentam explicar, fala-se em desigualdade social, desemprego e outras tantas justificativas que muitos consideram absolutamente falsas.

Falo do Nílton por se tratar de fato ocorrido com um amigo, mas poderia ser qualquer brasileiro ou brasileira vitimado por facínoras, gente que não merece estar entre nós. Quantas famílias enlutadas, quantos órfãos, quantos pais chorando a perda de filhos e vice-versa nesse campo de batalha chamado Brasil.

O atual governo levantou a bandeira da segurança na campanha, escorado numa hollywoodiana produção de filmes exibidos no horário eleitoral gratuito. A produção de alta e indiscutível qualidade, se não foi fator determinante, seguramente contribuiu para que 52 milhões de eleitores achassem que o candidato-ator era a solução para este e outros males.

Um dos filmes certamente merece prêmio, aquele dos dois rapazes, um com seu carro, estudando numa boa faculdade, outro vivendo uma situação de penúria em casa, o pai desempregado, saindo em campo para o crime. Quanta esperança em um novo governo! Mas, tudo cenário. À Hollywood.

O que fazer para acabar com isso? — perguntamos todos. As respostas são muitas, uma coisa é certa: algo terá de ser feito, já. A certeza que todos sabemos é que a Nação não pode continuar deitada eternamente nesse berço lambuzado de sangue. O poder constituído não pode fugir ao dever constitucional de garantir a segurança dos brasileiros e de quem escolheu viver no Brasil.

Na apresentação do BMW X3 na capital paulista, há alguns dias, o colunista Bob Sharp se viu numa situação inusitada e constrangedora: enquanto dirigia o veículo em ruas e avenidas do bairro Ibirapuera, uma dupla de seguranças seguia-o em outro carro. E fez bem o importador, já que em um evento de lançamento anterior alguns jornalistas foram assaltados, não ao volante do BMW em avaliação, mas sendo conduzidos do aeroporto até o local da apresentação em outro modelo da marca.

Não dá mesmo para continuar assim. Já que a marginalidade resolveu invadir o Brasil, ela tem de ser combatida com a combinação de aparato policial-militar e supressão temporária dos direitos constitucionais, combinados com condenações sumárias e sobretudo severas. A tolerância tem de ser zero. Não há outra saída.

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Data de publicação: 21/2/04

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