O
editorial anterior intitulou-se “Guerra é guerra”, num sentido
figurado para descrever as medidas que temos tomado contra os
plagiadores. Este, de agora, bem poderia ter o mesmo título, mas no
sentido literal, diante da brutalidade que vem assolando nosso país sob
as mais variadas formas.
Há dois dias, um colega jornalista, Nílton Saciotti, 48, dirigia um
carro de teste em Curitiba e foi alvejado na cabeça numa tentativa de
assalto. Seu estado é gravíssimo. Justamente ele, incapaz de matar uma
mosca, e que vinha se recuperando bem de uma obesidade mórbida combinada
com diabetes e problemas cardiovasculares, está entre a vida e a morte.
Já se sabe que ficarão seqüelas.
Este quadro de insegurança assusta, mais do que se pode imaginar. O caso
do bom amigo Nílton é apenas mais um nas densas estatísticas da
criminalidade. Mais um número. Sociólogos tentam explicar, fala-se em
desigualdade social, desemprego e outras tantas justificativas que
muitos consideram absolutamente falsas.
Falo do Nílton por se tratar de fato ocorrido com um amigo, mas poderia
ser qualquer brasileiro ou brasileira vitimado por facínoras, gente que
não merece estar entre nós. Quantas famílias enlutadas, quantos órfãos,
quantos pais chorando a perda de filhos e vice-versa nesse campo de
batalha chamado Brasil.
O atual governo levantou a bandeira da segurança na campanha, escorado
numa hollywoodiana produção de filmes exibidos no horário eleitoral
gratuito. A produção de alta e indiscutível qualidade, se não foi fator
determinante, seguramente contribuiu para que 52 milhões de eleitores
achassem que o candidato-ator era a solução para este e outros males.
Um dos filmes certamente merece prêmio, aquele dos dois rapazes, um com
seu carro, estudando numa boa faculdade, outro vivendo uma situação de
penúria em casa, o pai desempregado, saindo em campo para o crime.
Quanta esperança em um novo governo! Mas, tudo cenário. À Hollywood.
O que fazer para acabar com isso? — perguntamos todos. As respostas são
muitas, uma coisa é certa: algo terá de ser feito, já. A certeza
que todos sabemos é que a Nação não pode continuar deitada eternamente
nesse berço lambuzado de sangue. O poder constituído não pode fugir ao
dever constitucional de garantir a segurança dos brasileiros e de quem
escolheu viver no Brasil.
Na apresentação do BMW X3 na capital paulista, há alguns dias, o
colunista Bob Sharp se viu numa situação inusitada e constrangedora:
enquanto dirigia o veículo em ruas e avenidas do bairro Ibirapuera, uma
dupla de seguranças seguia-o em outro carro. E fez bem o importador, já
que em um evento de lançamento anterior alguns jornalistas foram
assaltados, não ao volante do BMW em avaliação, mas sendo conduzidos do
aeroporto até o local da apresentação em outro modelo da marca.
Não dá mesmo para continuar assim. Já que a marginalidade resolveu
invadir o Brasil, ela tem de ser combatida com a combinação de aparato
policial-militar e supressão temporária dos direitos constitucionais,
combinados com condenações sumárias e sobretudo severas. A tolerância
tem de ser zero. Não há outra saída.
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