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Remos a favor

Este é um país que vai para a frente — se não remarem contra ele

por Fabrício Samahá
Fabrício Samahá, editor

Um dos assuntos comentados nesta sexta-feira (4) na reunião mensal da Anfavea (associação dos fabricantes) com a imprensa foi o declínio de investimentos pelos fabricantes no Brasil. É algo que está à vista de quem gosta de automóvel como os leitores do BCWS: cada vez mais os fabricantes defasam seus modelos nacionais, desistindo de substituí-los pelas novas gerações lançadas no exterior — com algumas honrosas exceções, como o picape Hilux apresentado esta semana.

Questionado a respeito por jornalistas, como nosso colunista Bob Sharp, o presidente da entidade Rogélio Golfarb focou-se na necessidade de reduzir a taxa de juros e a carga tributária, no que tem toda a razão. Mas outro importante fator na análise pelos investidores estrangeiros — no caso as matrizes dos fabricantes — parece ainda não ter chamado a atenção de muitos: a confiança no País e nas pessoas que o dirigem.

Esta semana a nação viu, atônita, o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcante (PP-PE), lutar por um injustificável aumento de salário para seus pares, tão logo colocou o traseiro no Congresso — o que por milagre acabou não passando. O mais frustrante, porém, foi saber que ele armou sua candidatura ao cargo por meio de promessas de lutar pela elevação de tais salários. E conseguiu seu objetivo de se eleger. De qualquer maneira, mesmo que os deputados tenham desistido de tão imoral intento, ficará para sempre a mancha em uma instituição democrática que nunca poderia se manchar.

Quando se instala no Brasil uma bagunça como a do MST, ameaçando impune tudo e todos, e a população vê deputados pagos por nosso suado dinheiro para agir em causa própria, para ganhar mais dinheiro, a confiança no governo despenca — não importa que os institutos de pesquisa digam o contrário. E, quando a confiança é afetada, o fluxo de capital externo para o país é o especulativo apenas, não o que de fato desenvolve e cria empregos. A indústria em geral e a automobilística em particular são sensíveis à desconfiança. E uma nuvem cinzenta paira de novo sobre nossas cabeças.

Para um veículo de comunicação como BCWS, que além de seus leitores tem no automóvel a razão de ser, qualquer ameaça à indústria automobilística preocupa, por entendermos que uma indústria de produção de automóveis pujante é um dos indicadores de país economicamente saudável. O ano passado foi de crescimento, com o Produto Interno Bruto ultrapassando a marca de 5% e 2,2 milhões de veículos tendo sido produzidos, em um recorde histórico. Só que essa marcha em hipótese alguma deve diminuir de velocidade — e, para tanto, é necessário uma coisa chamada confiança.

A democracia está consolidada, temos um mercado interno potencialmente enorme e, somando-se a isso a política econômica que foi mantida na troca de governo, o país caminha na direção certa. Mas não resta dúvida que o investidor, nacional e estrangeiro, anda ressabiado — ainda mais quando um movimento sem constituição jurídica como o MST, que invade e saqueia quando quer, é simpático aos olhos do presidente da República. Há elementos que estão errados no Brasil já há tempo, mas não parece haver vontade para mudá-los.

O fracasso de Severino em sua tentativa de mamar ainda mais nas tetas do brasileiro é positivo, mas é apenas um começo. Ainda há muita gente remando contra.

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Data de publicação: 5/3/05

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