Um dos assuntos
comentados nesta sexta-feira (4) na reunião mensal da Anfavea
(associação dos fabricantes) com a imprensa foi o declínio de
investimentos pelos fabricantes no Brasil. É algo que está à vista de
quem gosta de automóvel como os leitores do BCWS: cada vez mais
os fabricantes defasam seus modelos nacionais, desistindo de
substituí-los pelas novas gerações lançadas no exterior — com algumas
honrosas exceções, como o picape Hilux apresentado esta semana.
Questionado a respeito por jornalistas, como nosso colunista Bob Sharp,
o presidente da entidade Rogélio Golfarb focou-se na necessidade de
reduzir a taxa de juros e a carga tributária, no que tem toda a razão.
Mas outro importante fator na análise pelos investidores estrangeiros —
no caso as matrizes dos fabricantes — parece ainda não ter chamado a
atenção de muitos: a confiança no País e nas pessoas que o dirigem.
Esta semana a nação viu, atônita, o presidente da Câmara dos Deputados,
Severino Cavalcante (PP-PE), lutar por um injustificável aumento de
salário para seus pares, tão logo colocou o traseiro no Congresso — o
que por milagre acabou não passando. O mais frustrante, porém, foi saber
que ele armou sua candidatura ao cargo por meio de promessas de lutar
pela elevação de tais salários. E conseguiu seu objetivo de se eleger.
De qualquer maneira, mesmo que os deputados tenham desistido de tão
imoral intento, ficará para sempre a mancha em uma instituição
democrática que nunca poderia se manchar.
Quando se instala no Brasil uma bagunça como a do MST, ameaçando impune
tudo e todos, e a população vê deputados pagos por nosso suado dinheiro
para agir em causa própria, para ganhar mais dinheiro, a confiança no
governo despenca — não importa que os institutos de pesquisa digam o
contrário. E, quando a confiança é afetada, o fluxo de capital externo
para o país é o especulativo apenas, não o que de fato desenvolve e cria
empregos. A indústria em geral e a automobilística em particular são
sensíveis à desconfiança. E uma nuvem cinzenta paira de novo sobre
nossas cabeças.
Para um veículo de comunicação como BCWS, que além de seus
leitores tem no automóvel a razão de ser, qualquer ameaça à indústria
automobilística preocupa, por entendermos que uma indústria de produção
de automóveis pujante é um dos indicadores de país economicamente
saudável. O ano passado foi de crescimento, com o Produto Interno Bruto
ultrapassando a marca de 5% e 2,2 milhões de veículos tendo sido
produzidos, em um recorde histórico. Só que essa marcha em hipótese
alguma deve diminuir de velocidade — e, para tanto, é necessário uma
coisa chamada confiança.
A democracia está consolidada, temos um mercado interno potencialmente
enorme e, somando-se a isso a política econômica que foi mantida na
troca de governo, o país caminha na direção certa. Mas não resta dúvida
que o investidor, nacional e estrangeiro, anda ressabiado — ainda mais
quando um movimento sem constituição jurídica como o MST, que invade e
saqueia quando quer, é simpático aos olhos do presidente da República.
Há elementos que estão errados no Brasil já há tempo, mas não parece
haver vontade para mudá-los.
O fracasso de Severino em sua tentativa de mamar ainda mais nas tetas do
brasileiro é positivo, mas é apenas um começo. Ainda há muita gente
remando contra.
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