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General Motors revelou, há alguns dias, a primeira foto oficial
daquele que poderá ser o mais importante lançamento do ano para a
indústria automobilística nacional: a terceira geração do Vectra. Pela
primeira vez desde o lançamento do modelo, em 1993, será um projeto
próprio da filial brasileira, sem semelhança técnica ou de desenho com
seu homônimo da Opel alemã.
A marca da gravata aposta suas fichas nesse sedã médio-grande, com o
qual pretende recuperar a posição de prestígio desfrutada pelo segundo
Vectra no final da década de 1990 e, em meados dos anos 80, pelo
Monza. Nos últimos cinco anos, a liderança de vendas entre os sedãs
médios e, não menos importante, esse espaço nos sonhos da classe média
foram tomados pelas japonesas Honda e Toyota, com Civic e Corolla,
nesta ordem (vale notar que a GM mantém o Astra entre os médios mais
vendidos, mas com a soma da versão hatch, que inexiste nesses
concorrentes).
O interesse de gerar expectativa e prejudicar a venda dos adversários,
ao mesmo tempo em que não há prejuízo à própria marca (pois o antigo
Vectra já deixou de ser produzido), explica a estratégia da GM de
divulgar aos poucos o novo carro. Como se sabe, em maio um protótipo
disfarçado pela decoração xadrez passou diante dos jornalistas
presentes ao lançamento do Omega 2005, no campo de provas de
Indaiatuba, SP. É provável que mais informações sejam fornecidas
gradualmente nos próximos meses, até a estréia efetiva no último
trimestre.
Pelo que se viu até agora, o novo Vectra promete. Terá belas linhas,
opção de motor de 2,4 litros flexível
e o sempre relevante atrativo da novidade, enquanto os
nipo-brasileiros já têm mais de três anos nas gerações atuais. Ainda,
o comentado atraso no lançamento do novo Renault Mégane — deve chegar
só em março, não mais este ano — dará alguns meses de primazia à GM
com o primeiro sedã médio da nova safra, que não demorará a contar com
as evoluções de Civic e Corolla. É possível que a Volkswagen chegue
junto com o Jetta, a nova geração do Bora, mas ainda não se sabe a que
preço.
Outros pontos deixam dúvidas. Sabe-se que de Vectra o novo carro tem
pouco: foi desenvolvido sobre a plataforma do Astra atual, lançado na
Europa em 1997. É preciso ver como ficarão comportamento dinâmico e,
sobretudo, conforto de rodagem com um conjunto inferior ao do próprio
segundo Vectra — que foi o único automóvel produzido no Brasil com
suspensão traseira multibraço, bem mais elaborada que o simples eixo
de torção do Astra.
Há expectativa também quanto ao acabamento interno, pois carros de
luxo há muito deixaram de ser a área de atuação da GMB. Se repetir as
falhas do Astra, por exemplo, o novo carro pode encontrar dificuldade
em competir na faixa de R$ 90 mil, que é onde se espera que entre a
versão de 2,4 litros. Note-se que nessa classe não concorrerá com
modelos nacionais, mas com importados de alta tecnologia, como Honda
Accord 2,4 e Citroën C5 2,0.
Há quem acredite que a liderança entre os médios — agora falando do
segmento de R$ 50 mil a R$ 70 mil — não saia mais das mãos dos
japoneses, que cativam pela fama de qualidade e confiabilidade. Pode
ser. Mas um esforço de memória mostra que o posto de "sonho da classe
média" já foi ocupado por marcas e modelos muito diversos (Del Rey,
Monza, Santana, Tempra, Omega, Vectra, Civic, Corolla) nos últimos 20
ou 25 anos. E nada impede que a GM o resgate com esse novo Vectra. É
esperar para ver. |