Um seguro que podia morrer de velho

Prescindível para quem já possui seguro total do veículo,
o DPVAT tem seu valor aumentado abusivamente para 2006

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorTodo final ano as cenas se repetem: começam os anúncios das mordidas das prefeituras (IPTU), de estados metendo a mão no nosso bolso (IPVA) e de seguradoras esfregando as mãos com a perspectiva da renovação do seguro obrigatório. Frisson parecido, só na Semana Santa ("Os peixes estão um absurdo") e no Dia de Finados — "As flores estão pela hora da morte", dizem os apresentadores de telejornais, com semblante sério.

Pois chegou-me às mãos (modo de falar, pois foi por e-mail) um artigo bem interessante, escrito por um administrador que também é articulista e que assina Luiz Leitão. Ele fala justamente sobre o famigerado seguro obrigatório, que tem o pomposo nome de Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres, de sigla apenas aproximada: DPVAT. Falta um monte de iniciais aí: "S", "O", "C" e um "V". Talvez porque SODAPECAPOVAVITE não soaria muito bem...

Brincadeira à parte, vamos ver o que o Luiz Leitão disse, com toda propriedade, a respeito de um assunto sério. Precisei apenas condensá-lo um pouco, mas sem alterar a essência:

"Quem possui automóvel ou qualquer outro veículo automotor certamente está indignado com o aumento do valor do seguro obrigatório, que é obrigado a pagar anualmente. A desculpa para um extorsivo acréscimo de 43,4% para 2006 é o aumento de pedidos de indenizações — de valores ridículos, vale dizer — desta modalidade de seguro, que ainda por cima requer uma enormidade de documentos para efetuar as indenizações. Em caso de morte é ainda mais complicado.

A frota nacional, em 1997, era composta de 19.345.083 automóveis, 3.019.151 comerciais leves, 1.675.400 caminhões, 331.795 ônibus, 2.924.227 motocicletas e 1.015.055 veículos importados (fonte: Anfavea). Não estão incluídos aí os tratores, reboques e semi-reboques, que também pagam. Faça-se a conta pelo menor valor e ter-se-á uma idéia grosseira do montante desta máquina de arrecadação.

Geralmente, quem faz seguro do carro, moto etc. já inclui a cláusula (facultativa) de danos materiais e pessoais a terceiros, com cobertura bem maior e proporcionalmente mais barata. Portanto, o motorista que tem seguro total, ao ser obrigado a pagar o DPVAT, está pagando seguro duas vezes. Não seria o caso de se dispensar do pagamento do seguro obrigatório quem já tem uma apólice que cobre esses riscos? Bastaria a cobertura do seguro de danos pessoais, com um valor de cobertura pelo menos igual ao que o DPVAT cobre. Aí, sim, os demais proprietários sem seguro opcional ficariam obrigados a contratar esse seguro.

As atuais indenizações do DPVAT são ridículas. Em caso de morte ou invalidez o valor por vítima é de R$ 13.479,48; a cobertura de despesas médicas é de apenas R$ 2.695,90. Qualquer seguradora oferece coberturas mais abrangentes por muito menos. Por exemplo, uma apólice de seguro da empresa Tokyo Marine especifica cobertura para danos corporais até R$ 549.162,00, com prêmio líquido (custo do seguro) de R$ 28,30. É muito salutar o leitor saber que nos custos dos seguros está embutido o extorsivo Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) à taxa de 7%. Nas transações bancárias o IOF é de "apenas" 1,5% ao ano sobre o valor total do empréstimo.

Assim, caro leitor, você que tem carro vai pagar em 2006 R$ 76,08; os motociclistas arcarão com o absurdo de R$ 137,65; donos de ônibus pagarão R$ 479,51.

Está na hora de reclamarmos com nossos deputados para que mudem a lei, permitindo que todos os que têm seguro de responsabilidade civil de danos pessoais fiquem isentos do pagamento do seguro obrigatório. Todavia, não sejamos ingênuos: haverá um tremendo lobby das seguradoras contra esta iniciativa mais do que justa."

Certíssimo, o Luiz Leitão. Esse seguro — ao menos para quem já faz o de seu veículo — deveria mesmo morrer de velho.

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Data de publicação: 10/12/05

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