A publicidade, o ovo e a galinha

As campanhas apostam cada vez mais em imagem e menos
em argumentos sólidos: culpa do fabricante ou do consumidor?

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorA Volkswagen distribuiu à imprensa nesta quinta-feira, 2/2, um informativo sobre a nova campanha publicitária do Fox. Dizia ali que as peças, produzidas para mídia impressa e TV (acredita-se que internet não exista para o fabricante, mas isso é outro assunto), "destacam a altura da carroceria e a posição elevada do banco do motorista, que favorecem o espaço interno do carro". A campanha coloca pessoas em situações causadas, ao que se supõe, pelo hábito de se sentar nas alturas a bordo do carro.

Não se discute aqui se a agência de publicidade foi criativa, se fez bem o trabalho que lhe foi solicitado. O ponto que me incomoda é ver a VW destacar, em um carro com diversos atributos como o Fox, o fato de ter os bancos e o teto mais altos que outros modelos de sua categoria — e da própria marca — como se esses elementos, em isolado, representassem alguma vantagem para o consumidor. E como se os automóveis "baixos" da empresa, como Gol, Polo, Golf, Passat, fossem desvantajosos ao Fox só por esse motivo.

O fenômeno, infelizmente, não atinge só a VW. Outras marcas também têm apostado em criar uma imagem, e apenas isso, sem argumentos consistentes. As campanhas da General Motors, por exemplo, há tempos tentam vincular o Corsa a um estilo jovem de viver, sem citar fatores que o modelo certamente tem para convencer o comprador. Quando os menciona, é de maneira imprecisa e sem fundamento técnico: há algum tempo falava em "estrutura de suspensão diferenciada", referindo-se ao subchassi dianteiro. Diferenciada, sim, mas em relação a Celta e Classic da mesma marca, pois a concorrência tem subchassi há muito mais tempo — o Gol, desde 1980.

E quanto ao Vectra? Enquanto a campanha da segunda geração, em 1996, descrevia muito do conteúdo técnico do automóvel, parte dele inovador no País, a publicidade do novo carro limita-se a criar uma impressão de modernidade, de futurismo, que o produto não acompanha. Não que se trate de um automóvel ruim, mas está longe de ser inovador sob qualquer prisma. E, como o leitor do BCWS bem sabe, representa alguns passos para trás em relação ao anterior. Talvez por isso a direção da campanha atual, que poderia não ser tão bem-sucedida se analisasse o carro do ponto de vista técnico.

O que se percebe, nessas e outras campanhas, é que o fabricante desistiu de buscar argumentos para tentar convencer que seu produto é melhor. Aposta somente na imagem e na associação a idéias que não resistem a uma análise mais atenta. Difícil é saber se a culpa desses rumos da propaganda é de quem produz ou de quem compra, tal e qual a origem do ovo e da galinha.

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Data de publicação: 4/2/06

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