A Volkswagen distribuiu
à imprensa nesta quinta-feira, 2/2, um informativo sobre a nova
campanha publicitária do Fox. Dizia ali que as peças, produzidas para
mídia impressa e TV (acredita-se que internet não exista para o
fabricante, mas isso é outro assunto), "destacam a altura da
carroceria e a posição elevada do banco do motorista, que favorecem o
espaço interno do carro". A campanha coloca pessoas em situações
causadas, ao que se supõe, pelo hábito de se sentar nas alturas a
bordo do carro.
Não se discute aqui se a agência de publicidade foi criativa, se fez
bem o trabalho que lhe foi solicitado. O ponto que me incomoda é ver a
VW destacar, em um carro com diversos atributos como o Fox, o fato de
ter os bancos e o teto mais altos que outros modelos de sua categoria
— e da própria marca — como se esses elementos, em isolado,
representassem alguma vantagem para o consumidor. E como se os
automóveis "baixos" da empresa, como Gol, Polo, Golf, Passat, fossem
desvantajosos ao Fox só por esse motivo.
O fenômeno, infelizmente, não atinge só a VW. Outras marcas também têm
apostado em criar uma imagem, e apenas isso, sem argumentos
consistentes. As campanhas da General Motors, por exemplo, há tempos
tentam vincular o Corsa a um estilo jovem de viver, sem citar fatores
que o modelo certamente tem para convencer o comprador. Quando os
menciona, é de maneira imprecisa e sem fundamento técnico: há algum
tempo falava em "estrutura de suspensão diferenciada", referindo-se ao
subchassi dianteiro. Diferenciada,
sim, mas em relação a Celta e Classic da mesma marca, pois a
concorrência tem subchassi há muito mais tempo — o Gol, desde 1980.
E quanto ao Vectra? Enquanto a campanha da segunda geração, em 1996,
descrevia muito do conteúdo técnico do automóvel, parte dele inovador
no País, a publicidade do novo carro limita-se a criar uma impressão
de modernidade, de futurismo, que o produto não acompanha. Não que se
trate de um automóvel ruim, mas está longe de ser inovador sob
qualquer prisma. E, como o leitor do BCWS bem sabe, representa
alguns passos para trás em relação ao anterior. Talvez por isso a
direção da campanha atual, que poderia não ser tão bem-sucedida se
analisasse o carro do ponto de vista técnico.
O que se percebe, nessas e outras campanhas, é que o fabricante
desistiu de buscar argumentos para tentar convencer que seu produto é
melhor. Aposta somente na imagem e na associação a idéias que não
resistem a uma análise mais atenta. Difícil é saber se a culpa desses
rumos da propaganda é de quem produz ou de quem compra, tal e qual a
origem do ovo e da galinha. |