A população brasileira
foi pega de surpresa, dias atrás, com a medida do STF (Supremo
Tribunal Federal) que considerou inconstitucional um parágrafo da Lei
dos Crimes Hediondos, aquele que proíbe os condenados de obter
progressão de regime durante o cumprimento das penas. O STF entende
que esses criminosos — entre eles, estupradores e traficantes de
drogas — merecem o direito de um benefício concedido em caso de crimes
comuns, em que, depois de cumprir um sexto da pena, os condenados
podem passar do regime fechado para o semi-aberto ou o aberto.
A notícia não poderia ser pior para os cidadãos de bem em geral e, por
extensão, para motoristas e passageiros de automóveis, que são o
enfoque deste BCWS. Um universo de pessoas, a propósito, que há
tempos não tem motivos para comemorar no que se refere à segurança
pessoal.
Já percebeu o leitor como o custo do seguro tem assumido crescente
importância na escolha de um carro? O que antes era tão rotineiro
quando providenciar a documentação — enfim, algo a ser definido após a
aquisição — hoje chega a representar mais, para boa parte dos
consumidores, do que a preferência por um ou outro modelo. Conheço
pessoas que mudaram de marca para fugir do seguro oneroso, às vezes
mais de R$ 10 mil ao ano. Outras fazem dessa cotação um elemento
decisivo quando escolhem um novo veículo. E não falta quem abra mão de
seu modelo predileto para rodar com discrição, sem chamar atenções.
Essa tendência explica em parte por que as versões esportivas estão à
beira de extinção — à beira porque um ou outro fabricante ainda
produz carros que merecem esse rótulo. Alto desempenho e fartura de
componentes especiais são elementos bem cotados pelos amigos do
alheio, seja pela facilidade de fuga, no primeiro caso, ou pela
valorização das peças em caso de se desmanchar o automóvel, no
segundo.
Outra categoria altamente visada é a de picapes a diesel, sobretudo os
mais recentes e velozes. Diz-se que vão parar no interior do País,
rodando impunes sem documentação, ou seus motores são usados em
embarcações para fins ilícitos. A situação chega ao ponto de
dificultar a manutenção da frota de imprensa dos fabricantes: houve
numerosos roubos e furtos desde que eles se tornaram mais potentes, o
que começou em 1997 com o Chevrolet Silverado e chegou aos médios, em 2000, com o S10.
Picapes leves a gasolina, por outro lado, estão entre os modelos que
menos expõem seus ocupantes ao risco de um seqüestro-relâmpago: com
apenas dois lugares, é improvável que uma dupla de criminosos faça a
vítima circular em busca de caixas eletrônicos, por exemplo. Essa
vantagem foi bem destacada por uma empresa que lançou, para a caçamba
de Saveiros e similares, cofres para transporte de valores ou bens
preciosos. Com uma cobertura de lona, o compartimento e sua valiosa
carga passam despercebidos.
E há a febre por sistemas de proteção, desde a cara blindagem, que
chega a automóveis cada vez mais simples e menos ostensivos, até
rastreadores para localizar o veículo roubado. Os filmes para
escurecer vidros, idealizados para proteção solar, há tempos se
tornaram alternativa acessível para trazer (ao menos em sensação)
segurança pessoal, já que dificultam — ou mesmo impedem — que se veja
quantas pessoas estão no carro, se homens ou mulheres, atentos ou
distraídos. Não é à toa que, quando o colunista
Bob Sharp comemorou a notícia de
que haverá fiscalização da transparência dos filmes, recebeu uma
enxurrada de contestações por leitores que os defendem como item de
segurança. Pessoalmente, acho improvável que essa novidade "pegue",
diante da freqüência com que autoridades recomendam o uso dos filmes.
O quadro não é mesmo favorável aos cidadãos de bem. A sensação de
impunidade, uma das locomotivas do crime, tende a aumentar com esse
relaxamento das penas aos delitos hediondos. Mas, apesar de tudo, a
vida tem de continuar. |