Quadro de insegurança

Relaxamento das penas por crimes hediondos chega em mau
momento, quando os cidadãos sentem-se desprotegidos

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorA população brasileira foi pega de surpresa, dias atrás, com a medida do STF (Supremo Tribunal Federal) que considerou inconstitucional um parágrafo da Lei dos Crimes Hediondos, aquele que proíbe os condenados de obter progressão de regime durante o cumprimento das penas. O STF entende que esses criminosos — entre eles, estupradores e traficantes de drogas — merecem o direito de um benefício concedido em caso de crimes comuns, em que, depois de cumprir um sexto da pena, os condenados podem passar do regime fechado para o semi-aberto ou o aberto.

A notícia não poderia ser pior para os cidadãos de bem em geral e, por extensão, para motoristas e passageiros de automóveis, que são o enfoque deste BCWS. Um universo de pessoas, a propósito, que há tempos não tem motivos para comemorar no que se refere à segurança pessoal.

Já percebeu o leitor como o custo do seguro tem assumido crescente importância na escolha de um carro? O que antes era tão rotineiro quando providenciar a documentação — enfim, algo a ser definido após a aquisição — hoje chega a representar mais, para boa parte dos consumidores, do que a preferência por um ou outro modelo. Conheço pessoas que mudaram de marca para fugir do seguro oneroso, às vezes mais de R$ 10 mil ao ano. Outras fazem dessa cotação um elemento decisivo quando escolhem um novo veículo. E não falta quem abra mão de seu modelo predileto para rodar com discrição, sem chamar atenções.

Essa tendência explica em parte por que as versões esportivas estão à beira de extinção — à beira porque um ou outro fabricante ainda produz carros que merecem esse rótulo. Alto desempenho e fartura de componentes especiais são elementos bem cotados pelos amigos do alheio, seja pela facilidade de fuga, no primeiro caso, ou pela valorização das peças em caso de se desmanchar o automóvel, no segundo.

Outra categoria altamente visada é a de picapes a diesel, sobretudo os mais recentes e velozes. Diz-se que vão parar no interior do País, rodando impunes sem documentação, ou seus motores são usados em embarcações para fins ilícitos. A situação chega ao ponto de dificultar a manutenção da frota de imprensa dos fabricantes: houve numerosos roubos e furtos desde que eles se tornaram mais potentes, o que começou em 1997 com o Chevrolet Silverado e chegou aos médios, em 2000, com o S10.

Picapes leves a gasolina, por outro lado, estão entre os modelos que menos expõem seus ocupantes ao risco de um seqüestro-relâmpago: com apenas dois lugares, é improvável que uma dupla de criminosos faça a vítima circular em busca de caixas eletrônicos, por exemplo. Essa vantagem foi bem destacada por uma empresa que lançou, para a caçamba de Saveiros e similares, cofres para transporte de valores ou bens preciosos. Com uma cobertura de lona, o compartimento e sua valiosa carga passam despercebidos.

E há a febre por sistemas de proteção, desde a cara blindagem, que chega a automóveis cada vez mais simples e menos ostensivos, até rastreadores para localizar o veículo roubado. Os filmes para escurecer vidros, idealizados para proteção solar, há tempos se tornaram alternativa acessível para trazer (ao menos em sensação) segurança pessoal, já que dificultam — ou mesmo impedem — que se veja quantas pessoas estão no carro, se homens ou mulheres, atentos ou distraídos. Não é à toa que, quando o colunista Bob Sharp comemorou a notícia de que haverá fiscalização da transparência dos filmes, recebeu uma enxurrada de contestações por leitores que os defendem como item de segurança. Pessoalmente, acho improvável que essa novidade "pegue", diante da freqüência com que autoridades recomendam o uso dos filmes.

O quadro não é mesmo favorável aos cidadãos de bem. A sensação de impunidade, uma das locomotivas do crime, tende a aumentar com esse relaxamento das penas aos delitos hediondos. Mas, apesar de tudo, a vida tem de continuar.

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Data de publicação: 4/3/06

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