Penalização desnecessária

Proposta do ministro beira o absurdo: reduzir impostos do carro
zero e transferi-los para o combustível que todos usamos

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorA notícia passou quase despercebida, em meio à turbulência do gás natural boliviano e a expectativa dos brasileiros por uma reação à altura do governo Lula, que ainda não aconteceu. Mas o fato é preocupante: o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, propôs na sexta-feira passada (5) uma "transferência de impostos", pela qual parte dos tributos que oneram os carros zero-quilômetro seria substituída por (mais) impostos sobre os combustíveis. A intenção é compensar os fabricantes, mediante o esperado aumento de vendas internas, pelas "perdas de competitividade" observadas nas exportações.

Incentivos à indústria automobilística são muito bem-vindos, pois se trata de uma mola propulsora para a economia, que gera inúmeros empregos diretos e indiretos. Reduções de impostos, mais ainda: é notório que a carga tributária sobre praticamente tudo o que se compra no Brasil é das mais altas do mundo. No ano passado, absurdos 37,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do País foram destinados a pagar impostos e taxas, um triste recorde histórico obtido pelo atual governo. E, em particular, a tributação sobre automóveis no Brasil é típica de produtos supérfluos, não de bens de considerável importância para a economia como eles são.

No entanto, daí a se propor uma substituição como a idealizada pelo ministro há uma grande diferença. Embora a idéia não tenha sido exposta em detalhes — talvez porque não resistiria ao bom-senso —, sabe-se de antemão que seria impossível vincular o pagamento dos impostos apenas ao combustível consumido por quem, se aprovada a medida, comprasse um carro após a redução tributária. Alguém imagina que esse consumidor, privilegiado no momento da aquisição, pudesse ser obrigado de alguma forma a pagar, pelo que põe no tanque, um valor maior que os outros motoristas?

O que Furlan sugere poderia, sim, fomentar as vendas de automóveis novos. Mas um aumento da já pesadíssima carga tributária sobre os combustíveis teria um efeito contrário e altamente prejudicial aos brasileiros — mesmo aos que não possuem carro, já que o transporte sobre rodas é, por larga margem, predominante no País. É natural que os aumentos de custos levariam a repasses por todos os lados, o que traria inflação.

O que o ministro precisa lembrar — não é possível que desconheça — é que a efetiva redução de impostos, em setores como a indústria automobilística, não traz perda de arrecadação. Estudos já provaram: quando tributos excessivos diminuem, o volume de vendas cresce e o total arrecadado volta rapidamente ao patamar anterior... ou mesmo aumenta. Além disso, mais carros nas ruas criam demanda por produtos os mais diversos, serviços, combustíveis. Geram empregos, ampliam o turismo, movem a roda da economia. Os efeitos positivos vão muito além da arrecadação obtida com as vendas dos veículos.

Atender aos pedidos da indústria automobilística, ministro Furlan, não exige penalizar todos os proprietários de automóveis do País. É fácil perceber isso, e é o que os brasileiros esperam.

Atualidades - Página principal - Envie por e-mail

Data de publicação: 13/5/06

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade