Mundo dos sonhos

Começa em São Paulo mais uma edição do Salão do
Automóvel, um lugar perfeito para se sonhar alto

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorNo começo do século 20 e durante muito tempo, salões de automóveis eram chamados de feiras. Fabricantes nelas expunham seus produtos com a finalidade precípua de vendê-los. Ao longo do tempo, porém, esse caráter foi mudando e hoje os salões vendem mais sonhos do que carros. Estes ainda são comercializados num ambiente de luxo e beleza ímpares, mas de maneira quase sempre indireta, pois as fábricas vendem-nos no atacado para comerciantes que receberam concessão para representá-la, em contrapartida obrigando-se a prestar assistência técnica aos veículos. Mas os estandes dos principais fabricantes registram pedidos e os repassam para sua rede de varejo, a chamada rede de concessionárias.

Há exemplos recentes de grandes pedidos feitos durante um salão, como os do Citroën C4, nada menos que 20.000, durante o Salão de Paris de 2004. Cinqüenta e um anos antes, a mesma marca provocou alvoroço no mesmo salão e teve 12.000 modelos DS encomendados no primeiro dia, número que subiu para mais de 80.000 ao se encerrar a mostra. Igualmente expressivo foi o sucesso do Ford Mustang ao ser lançado no Salão de Nova York de 1964: 22.000 encomendas no primeiro dia.

Os salões sempre foram usados pela indústria automobilística como palco de lançamento de modelos. Entretanto, isso vem sendo mudado e hoje é comum a chegada de um novo carro em uma época qualquer do ano. Tivemos no Brasil um exemplo clássico dessa estratégia em 1996, quando foram lançados quase juntos, entre março e maio, o Vectra, o Palio e o Fiesta, nessa ordem. Três lançamentos importantes. Seis anos depois, em 2002, ocorreria o mesmo com a seqüência de pequenos Corsa-Fiesta-Polo e com o Corolla, entre abril e junho.

Em meio à atmosfera luxuosa e agradável, na qual cada expositor procura superar o outro com reluzentes automóveis em majestosos estandes, uma nova idéia surgiu bem no começo dos anos 50, destinada tanto a exibir a capacidade de inovação dos fabricantes quanto a fazer o público voar ainda mais alto na imaginação: os carros de sonho (dream cars). A idéia evoluiu e hoje temos os carros conceituais (concept cars) para servir àquele propósito, como também, e sobretudo, sondar o mercado a respeito de uma idéia apresentada. Há inúmeros exemplos de conceitos terem se tornado realidade, como o Concept 1 do Salão de Detroit de 1993, que viria a ser o Volkswagen New Beetle em 1998.

Desejo de compra
Se os salões hoje apresentam menos novidades absolutas, por outro lado são imbatíveis no que se chama de reacender o desejo de compra. Ao percorrê-los, a atração que os automóveis exercem sobre qualquer pessoa a faz pensar numa troca ou simples aquisição, que pode ser o primeiro carro ou mais um na "frota". Não há como negar, também, o fato de que as mais belas mulheres nos estandes sejam peças fundamentais desse processo de sedução, ou simplesmente não estariam lá. Aliás, diante do fato de que 50% das vendas de carros novos hoje são aquisições diretas de mulheres ou resultado de influência delas, é bom nós homens nos acostumarmos à idéia de que os estandes ganhem também modelos masculinos...

Quem, especialmente brasileiro, visita os salões dos Estados Unidos se surpreende com a atuação das mulheres nos estandes. Elas não são meras "peças decorativas", mas ficam quase o tempo todo discorrendo, com voz amplificada, sobre as características e virtudes dos modelos expostos. Se é uma boa estratégia, não sei, mas mal não pode fazer.

A nota negativa é haver certos estandes no salão daqui, como o da Ferrari e o da Porsche, que limitam o acesso de visitantes. Chegam a só admitir convidados. É uma medida antipática e desrespeitosa, que precisa ser revista pelo organizador. Não existe meia-exposição: ou se expõe, ou não se expõe. O estande da DaimlerChrysler, por exemplo, é totalmente aberto ao público, embora os modelos da Mercedes-Benz e da Chrysler sejam automóveis caros. Estandes não podem ser elitistas.

A sedução dos salões envolve também o passado e o automobilismo. Muitos estandes expõem carros bem antigos da marca, sempre em estado de zero-quilômetro, e modelos de corrida das categorias mais sofisticadas. É uma oportunidade de vê-los de perto. Há também exposição de acessórios e equipamentos especiais, que costuma atrair bastante público, em especial as mostras de sistemas de áudio — em geral complementadas por um som ensurdecedor. Mas tudo é festa durante 11 dias. No último, um domingo, às sete da noite começa o buzinaço, praticamente todos os carros com as buzinas sendo tocadas, marcando o fim do Salão e a certeza de que em 2008 — é bienal — tem mais. Emociona.

O sonho não é de graça, mas seu custo não é proibitivo (leia sobre preços e outras informações). Quem vai nunca se arrepende.

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Data de publicação: 14/10/06

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