No começo do século 20 e
durante muito tempo, salões de automóveis eram chamados de feiras.
Fabricantes nelas expunham seus produtos com a finalidade precípua de
vendê-los. Ao longo do tempo, porém, esse caráter foi mudando e hoje
os salões vendem mais sonhos do que carros. Estes ainda são
comercializados num ambiente de luxo e beleza ímpares, mas de maneira
quase sempre indireta, pois as fábricas vendem-nos no atacado para
comerciantes que receberam concessão para representá-la, em
contrapartida obrigando-se a prestar assistência técnica aos veículos.
Mas os estandes dos principais fabricantes registram pedidos e os
repassam para sua rede de varejo, a chamada rede de concessionárias.
Há exemplos recentes de grandes pedidos feitos durante um salão, como
os do Citroën C4, nada menos que 20.000, durante o Salão de Paris de
2004. Cinqüenta e um anos antes, a mesma marca provocou alvoroço no
mesmo salão e teve 12.000 modelos DS encomendados no primeiro dia,
número que subiu para mais de 80.000 ao se encerrar a mostra.
Igualmente expressivo foi o sucesso do Ford Mustang ao ser lançado no
Salão de Nova York de 1964: 22.000 encomendas no primeiro dia.
Os salões sempre foram usados pela indústria automobilística como
palco de lançamento de modelos. Entretanto, isso vem sendo mudado e
hoje é comum a chegada de um novo carro em uma época qualquer do ano.
Tivemos no Brasil um exemplo clássico dessa estratégia em 1996, quando
foram lançados quase juntos, entre março e maio, o Vectra, o Palio e o
Fiesta, nessa ordem. Três lançamentos importantes. Seis anos depois,
em 2002, ocorreria o mesmo com a seqüência de pequenos
Corsa-Fiesta-Polo e com o Corolla, entre abril e junho.
Em meio à atmosfera luxuosa e agradável, na qual cada expositor
procura superar o outro com reluzentes automóveis em majestosos
estandes, uma nova idéia surgiu bem no começo dos anos 50, destinada
tanto a exibir a capacidade de inovação dos fabricantes quanto a fazer
o público voar ainda mais alto na imaginação: os carros de sonho (dream
cars). A idéia evoluiu e hoje temos os carros conceituais (concept
cars) para servir àquele propósito, como também, e sobretudo,
sondar o mercado a respeito de uma idéia apresentada. Há inúmeros
exemplos de conceitos terem se tornado realidade, como o Concept 1 do
Salão de Detroit de 1993, que viria a ser o Volkswagen New Beetle em
1998.
Desejo de compra
Se os salões hoje apresentam menos novidades absolutas, por outro lado
são imbatíveis no que se chama de reacender o desejo de compra. Ao
percorrê-los, a atração que os automóveis exercem sobre qualquer
pessoa a faz pensar numa troca ou simples aquisição, que pode ser o
primeiro carro ou mais um na "frota". Não há como negar, também, o
fato de que as mais belas mulheres nos estandes sejam peças
fundamentais desse processo de sedução, ou simplesmente não estariam
lá. Aliás, diante do fato de que 50% das vendas de carros novos hoje
são aquisições diretas de mulheres ou resultado de influência delas, é
bom nós homens nos acostumarmos à idéia de que os estandes ganhem
também modelos masculinos...
Quem, especialmente brasileiro, visita os salões dos Estados Unidos se
surpreende com a atuação das mulheres nos estandes. Elas não são meras
"peças decorativas", mas ficam quase o tempo todo discorrendo, com voz
amplificada, sobre as características e virtudes dos modelos expostos.
Se é uma boa estratégia, não sei, mas mal não pode fazer.
A nota negativa é haver certos estandes no salão daqui, como o da
Ferrari e o da Porsche, que limitam o acesso de visitantes. Chegam a
só admitir convidados. É uma medida antipática e desrespeitosa, que
precisa ser revista pelo organizador. Não existe meia-exposição: ou se
expõe, ou não se expõe. O estande da DaimlerChrysler, por exemplo, é
totalmente aberto ao público, embora os modelos da Mercedes-Benz e da
Chrysler sejam automóveis caros. Estandes não podem ser elitistas.
A sedução dos salões envolve também o passado e o automobilismo.
Muitos estandes expõem carros bem antigos da marca, sempre em estado
de zero-quilômetro, e modelos de corrida das categorias mais
sofisticadas. É uma oportunidade de vê-los de perto. Há também
exposição de acessórios e equipamentos especiais, que costuma atrair
bastante público, em especial as mostras de sistemas de áudio — em
geral complementadas por um som ensurdecedor. Mas tudo é festa durante
11 dias. No último, um domingo, às sete da noite começa o buzinaço,
praticamente todos os carros com as buzinas sendo tocadas, marcando o
fim do Salão e a certeza de que em 2008 — é bienal — tem mais.
Emociona.
O sonho não é de graça, mas seu custo não é proibitivo (leia
sobre preços e outras informações). Quem vai nunca se arrepende. |