Tendências cíclicas

Da alternância entre retas e curvas a certos elementos,
em desenho de automóveis tudo pode reaparecer

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorQuando a Fiat italiana divulgou as primeiras imagens do novo Bravo, no fim de outubro, confirmou-se o que os "caçadores de segredos" já haviam apontado: o sucessor do Stilo abandona as formas angulosas em favor de linhas arredondadas. Quase não há retas no desenho do novo carro, enquanto o modelo atual parece desenhado apenas com régua — como se dizia até há algum tempo dos Volvos. O fato mais curioso é que o Stilo havia sucedido a outro modelo arredondado, o Brava/Bravo, por sua vez substituto do Tipo, que era bastante retilíneo.

Pelo exemplo da Fiat pode-se notar como as tendências de estilo são cíclicas, cheias de altos e baixos. Acredito que, se o Uno fosse desenhado hoje com a mesma proposta com que surgiu em 1983 na Europa, talvez ficasse bem próximo de seu formato de "botinha ortopédica" — sem o predomínio de curvas que marca o Palio, nascido em 1996. Outro que mudou radicalmente, mas de arredondado para anguloso, foi o Renault Mégane. Há mais tempo, na geração de 2001, isso havia acontecido com o Fiesta.

Os ciclos são percebidos também em elementos de estilo. Veja-se o caso dos faróis: em meados da década de 1970 surgiram com força total os retangulares, no lugar dos circulares que dominavam até então. Nos anos 80 e 90 seu perfil foi se tornando cada vez mais baixo até que, por volta da virada do século, os faróis voltaram a crescer — como do Vectra anterior para o atual. Em 1996 a Mercedes-Benz lançou o Classe E com dois pares ovalados, que logo fez seguidores. Hoje, é comum haver um conjunto de formas retas contendo refletores circulares, a exemplo de Fiesta, EcoSport, Fit, Focus e o próprio Vectra. Mas o novo Civic volta a apostar no perfil baixo, que a Honda havia abandonado há 10 anos: será que vai começar tudo de novo?

Falamos em faróis e vem à mente a grade dianteira, elemento que também dá voltas. Depois de décadas de ostentação, em que se tornou símbolo para os fabricantes de prestígio, ela foi vítima da preocupação com a aerodinâmica e começou a diminuir nos anos 80. Ford Sierra em 1982, VW Passat em 1988 e Civic em 1992 chegaram a eliminar a grade. Tempos depois ela recuperou seu espaço e hoje é um importante item para compor a imagem de robustez, como se nota nos Chevrolets nacionais, Audis e Volkswagens recentes. Estas marcas alemãs chegam a adotar uma ligação com a entrada de ar inferior, por meio de molduras e cores diferentes, para acentuar a importância da grade.

Passando às laterais, vemos que outro recurso do passado ressurgiu, ao menos em parte: os vincos na carroceria. Quase extintos na década de 1980, época do estilo "limpo" ditado pela aerodinâmica, estão bem presentes nos últimos modelos com o mesmo objetivo das amplas grades: dar sensação de solidez. Por outro lado, se há 20 ou 25 anos os vidros estavam em franco crescimento — lembra-se do Monza? —, hoje cedem espaço novamente à carroceria, por meio da linha de cintura mais alta, para transmitir segurança aos ocupantes e robustez a quem vê o carro de fora. Casos como o do Chrysler 300C podem ser extremados, mas é sem dúvida uma tendência.

Quanto às traseiras, o que mais se tem visto em sedãs é a inclinação do vidro posterior, a fim de deixá-los com um ar de cupê. Comparar o novo Vectra aos anteriores, o Prisma ao antigo Corsa (hoje Classic) e os sedãs atuais da BMW aos mais antigos ilustra bem essa tendência. Que não é nova, porém: em 1977 o Corcel já trazia o vidro em linha quase reta com a tampa do porta-malas, como em um fastback... formato que o Del Rey (1981) trocou pelo de três volumes bem definidos.

Em meio a tantas voltas, é difícil saber o que mais pode ressurgir nos futuros automóveis. Depois que até o teto em curva acentuada do Fusca foi trazido de volta, como no Passat de 1996, já não se pode duvidar mais de nada.

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Data de publicação: 11/11/06

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