Briga de gasolinas

A disputa agora é para ver quem tem o melhor combustível

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorNo editorial passado falei da briga de potência entre o Golf GTI e o Civic Si, as estratégias de cada fábrica para ser a Número Um em cavalaria. Inclusive lançando mão de um assunto que estava morto no Brasil, a gasolina de maior octanagem. Na esteira desse embate, surge no Brasil, depois de muito tempo, a briga das gasolinas. E que não é menos importante.

Quem já passou dos 60 — como não é meu caso, recorro a amigos e parentes de quem gosto de ouvir histórias — provavelmente se lembra, ainda nos anos 50, da Atlantic fazendo campanha da sua gasolina etilada. Era a adição de chumbotetraetila para aumentar a octanagem — se aumentou mesmo, é difícil dizer. Depois foi a vez da Shell, na década seguinte, com o ICA, um aditivo que se destinava, diz a história, a reduzir o fenômeno da pré-ignição. ICA era a sigla de Ignition Control Aditive, expressão que não quer dizer muita coisa (aditivo de controle de ignição), mas tem explicação: o aditivo lá fora era para se chamar Pre-Ignition Control Aditive, só que as iniciais não soariam muito bem nos países de língua portuguesa e espanhola. A saída da Shell foi eliminar o "P"...

Depois do ICA não houve mais "fórmulas" amplamente difundidas, não considerando a gasolina premium, lançada em 1997 e fornecida pela Petrobrás às distribuidoras, que a revendem como quiserem. Até que há poucos anos a mesma Shell apareceu com a gasolina V-Power, atribuindo-lhe maior aditivação para reduzir atritos, embora mantendo a octanagem da comum. No exterior, V-Power é o nome comercial da gasolina tipo Super Plus, que corresponde a nossa premium (98 octanas RON). Aqui, o nome ficou para designar a gasolina aditivada da Shell. Nesse meio-tempo a Petrobrás lançou sua supergasolina Podium, exclusiva, a de maior octanagem do mundo hoje — 102 octanas. Além dessa característica, a Podium inovou com teor de enxofre muito baixo, 50 partes por milhão, contra 1.000 partes por milhão de todas as outras.

Esta semana a Texaco anunciou para a imprensa uma reformulação total de suas gasolinas, com um ingrediente chamado Techron. O mais interessante é que agora não há mais gasolina não-aditivada em seus postos e — garante a empresa — nem por isso o preço aumentou. Importante também é que surge uma gasolina intermediária entre a comum e a premium, chamada Plus, que é mais aditivada e por isso recomendada para carros que já usavam a aditivada antes. A citada informação não explica, mas muita aditivação detergente-dispersante, num motor que só funcionou com gasolina não-aditivada, pode causar problemas como pedaços de carvão se soltarem e prenderem uma válvula ou sujarem ou inutilizarem uma vela, provocando falhas. A Texaco também oferece a gasolina premium com Techron, de 98 octanas.

É um cenário de competição nessa área que não se via há muito tempo, saudável em si mesmo e que só vantagem traz para o consumidor. Os benefícios desta ou daquela marca de gasolina eram impossíveis numa fase em que todas eram idênticas, só mudando a cor da bandeira do posto. Agora isso mudou, e cada consumidor terá a chance de experimentar e avaliar os resultados. A química dos combustíveis é algo muito complexo e só a prática poderá mostrar determinados efeitos.

Algumas coisas são tangíveis, como o menor conteúdo de enxofre. É sabido que esse mineral se combina com outros elementos no motor em funcionamento e se transforma em ácido sulfúrico, que é o mesmo das baterias. Quase todo mundo sabe como esse ácido é corrosivo. Aliás, é para neutralizar o ácido sulfúrico que os óleos para motores diesel possuem formulação específica, pois até pouco tempo o diesel tinha muito mais enxofre do que a gasolina. Hoje chega a ter menos, 500 ppm o diesel urbano (2.000 ppm os demais) e já existe o diesel Podium, também da Petrobrás, de 200 ppm.

De qualquer maneira, esse novo campo de batalha que se instalou, e que em breve deverá ter mais contendores, dá novo alento a um aspecto tão sensível nos automóveis como o combustível. Como era antes estava muito chato.

É mesmo bem-vinda essa guerra.

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Data de publicação: 14/4/07

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