As versões hatch
atuais, na Europa, do Astra (à esquerda) e do Vectra
O
leitor pode argumentar que cada fabricante tem o direito de usar ou
reutilizar o
nome que quiser em seus carros, respeitadas as patentes de
terceiros. De fato há inúmeros casos de denominações reeditadas no mercado
mundial, mesmo dentro da GM, como o americano Pontiac GTO (versão
local do Holden Monaro, este também um nome com tradição na
Austrália). Mas é uma questão de respeito ao consumidor haver
coerência entre o antigo e o novo modelo que compartilham o nome no
mesmo mercado.
É fato que boa parte do público, ao adquirir um carro, apóia-se em fatores como imagem da marca e do modelo,
aparência externa e, na melhor das hipóteses, experiência anterior.
Certamente foi nesses pilares que a GMB se baseou ao decidir
relançar o nome Vectra — que
havia deixado o mercado com direito até a série
especial de despedida, a Collection. Não resta dúvida que a designação
tinha uma imagem superior à do Astra.
O problema é quando o comprador percebe que o sucessor não está à
altura do sucedido. Que o novo carro parece, mas não é o que ele
esperava. Que levou gato por lebre. Um risco que a GMB
aceitou correr e que se repetirá agora com um carro menor.
Um padrão, aliás, que se nota em outras atitudes recentes da
empresa. Em agosto, dois meses antes de lançar a versão sedã do
Celta — o Prisma —, a GMB divulgou um
esboço do que deveria ser seu desenho. Três semanas depois,
revelou outro desenho inteiramente
diferente, bem mais próximo do carro definitivo. Chamou de tolos a
imprensa e o público que a acompanha. Em 25 anos acompanhando o
mundo do automóvel, não me lembro de ter visto desrespeito parecido
aqui ou lá fora.
Este ano saiu-se com outra: a campanha publicitária do Vectra em tom
de convocação — brincadeira com assunto sério, como bem abordou o
colunista Bob Sharp. E, ao fim
de todo o alvoroço ao redor da suposta elaboração da campanha "à
altura dos proprietários", tudo o que se viu foi o carro em um
comercial vazio, sob o argumento de que "um Vectra
não precisa de mais nada". Será mesmo? A verdadeira impressão é de que
o fabricante não tem argumentos para convencer.
Em meio a tantas discutíveis manobras de marketing,
não há como esquecer a das "novas gerações" — em que a GMB
não é a única. Anunciadas com muita pompa e nenhuma
circunstância, em geral não passam de retoques visuais. O termo "geração"
anda desgastado a tal ponto que, se o carro é realmente novo, o
fabricante acaba por definir de outra forma.
Há uma história curiosa a esse respeito, acontecida em abril do ano
passado, portanto depois do Editorial sobre o
tema que publicamos em agosto de 2005. O cenário é o evento de
lançamento do Celta reestilizado (uma das anunciadas "novas
gerações") em Porto Alegre, RS, uma festa desproporcional às
modificações do produto. Eis que aparece no palco o
presidente da GMB, Ray Young. Com humor, ele diz ter recebido
elogios a seu novo par de óculos. "Este é o Ray Nova Geração",
brinca o executivo.
Foi a melhor analogia ao produto ali apresentado que alguém poderia
fazer. |