Reformas bem-sucedidas

Mudanças parciais de estilo nem sempre ficam tão
boas quanto a que se viu agora na Palio Weekend

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorA reestilização parcial de um carro é tarefa das mais complicadas para os departamentos de estilo. Não pela extensão do trabalho, bem menor que a de uma carroceria completa, mas pela dificuldade em harmonizar o que é novo e o que foi mantido do projeto anterior.

Exemplos bem-sucedidos — e outros nem tanto — estão por toda parte. A meu ver, a Fiat acaba de incluir um à primeira categoria: a terceira remodelação parcial da Palio Weekend. Todos se lembram das reações ao novo Palio lançado há pouco mais de um ano, em que as formas atraentes da terceira série deram lugar a um estilo polêmico, baseado em motivos ovais. Das mensagens que recebemos, quase todas criticavam a solução adotada pelos ítalo-mineiros.

Com a reforma do Siena, apresentada em novembro, a empresa foi mais feliz. Mesmo que a tampa do porta-malas retilínea destoasse um pouco das curvas da carroceria, o conjunto agradou bastante à maioria, com os faróis mais elaborados que os do Palio e lanternas traseiras que lembram as de modelos Alfa Romeo. Agora é a vez da Weekend e, desta vez, o resultado foi muito positivo.

O fato curioso, em casos como o da linha Palio, é que uma carroceria básica precisa se adaptar a várias tendências de estilo durante seu ciclo de produção. Em 1996, quando o hatch foi lançado, predominavam nos carros as formas arredondadas, que no fim da década passaram a ceder espaço aos ângulos em nome da sensação de robustez. Hoje as linhas combinam curvas e arestas, que têm de ser implantadas dentro de limites de custos. Nem o vidro lateral traseiro da perua escapou, tornando-se mais anguloso.

Mais difícil, sem dúvida, é tentar atualizar um desenho da década de 1980 como o do Uno. É de se imaginar como ficaria o carrinho se, nos anos 90, tivesse tentado se adequar à tendência de linhas curvas. Para sorte do atual Mille, os ângulos voltaram à moda e a reformulação dianteira de 2004 pôde manter as formas retilíneas, embora o resultado tenha dividido opiniões.

Outros modelos não puderam fugir aos padrões de estilo e perderam coerência, caso da última alteração de pára-choques no Santana, em 1999: um carro todo reto foi emoldurado com peças arredondadas, que pareciam improvisadas. De outro lado, as curvas do Vectra de segunda geração (o de 1996), para mim o mais belo Vectra em todos os tempos aqui e lá fora, foram maculadas pelos pára-choques e a tampa do porta-malas retilíneos da linha 2000.

Em alguns casos, o que se percebe é desequilíbrio entre as seções projetadas para diferentes mercados. A reestilização frontal do Peugeot 307, adotada aqui em 2005, deu-lhe aspecto mais imponente e foi bem-aceita no hatch, no conversível CC e na perua SW. Mas na China a empresa havia acabado de lançar o sedã três-volumes, com a frente original de 2001 e uma traseira de linhas discretas. O 307 asiático mantém aquele desenho da dianteira até hoje, mas a versão sedã, ao passar a ser feita na Argentina, teve de adotar a nova frente em uma mistura que ficou longe do ideal. Certa dissonância também se nota no Vectra hatch e no Celta desde 2007: a parte dianteira é volumosa para o restante da carroceria. Nos sedãs Vectra e Prisma há mais harmonia de conjunto, a meu ver.

Ciclos mais longos
Reestilizações são bem mais comuns em mercados como o nosso que nos países de vanguarda, por uma simples razão: o ciclo de vida de um carro é estendido em mercados mais pobres, o que requer mudanças parciais de tempos em tempos para fazer o velho parecer novo.

Isso explica por que certos modelos tiveram, aqui, reformas nunca vistas nos países de origem dos projetos. É algo que vem dos primórdios de nossa indústria, caso do Aero-Willys, lançado com base em modelos já descontinuados nos Estados Unidos e retocado várias vezes para tentar se modernizar — foi, aliás, o primeiro carro a ser reestilizado por brasileiros. Mais tarde, os desenhos que a GM trouxe da Opel alemã (Opala em 1968 e Chevette em 1973, derivados de Rekord e Kadett, na ordem) passaram por no mínimo duas grandes reformulações de frente e traseira, nos anos 70 e 80, sem afetar a parte central da carroceria. Enquanto isso, os originais europeus davam lugar a novas gerações já em 1972 e 1979, respectivamente.

O ritmo de renovação da indústria foi acelerado, nos anos 90, e os ciclos de vida diminuíram na maioria dos casos, mas isso não evitou a necessidade de reestilizações. Marea e Ka, ambos em 2001, receberam mudanças na traseira para se adequar ao gosto brasileiro, mas na Europa não foi preciso fazê-las — o Ka tem o desenho original de 1997 até hoje por lá. Na base do mercado, onde os custos têm mais restrições, uma nova frente e retoques na traseira de tempos em tempos são o meio de rejuvenescer sem gastar muito. Gol e Palio que o digam.

Com a desaceleração do mercado nesta década, as reformas parciais voltaram a ser mais freqüentes. Foi o caso do Golf no ano passado: a VW local tentou deixar a antiga carroceria mais parecida com a dos modelos da matriz, como a quinta geração do próprio Golf, lançada lá em 2003 e que nunca deverá ser feita aqui. E vai se repetir em poucos dias com o 206, renomeado impropriamente de 207 — número que na Europa identifica um carro todo novo — e remodelado na frente, para não parecer o mesmo que conhecemos desde 1999.

Podemos estar longe de aberrações estéticas como as dos mercados mais atrasados do mundo, mas de reformas parciais — ao que parece — não ficaremos livres tão cedo. Assim, o melhor que se pode esperar é que sejam bem-sucedidas.

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Data de publicação: 17/5/08

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