Videogame no mundo real

Como nos jogos de corridas, os carros de verdade ganham
opções de configuração à preferência do motorista

por Fabrício Samahá

Os adeptos de jogos em console ou no computador já estão habituados, quando usam programas de corridas de automóveis, a ajustar infinitas configurações do carro depois de escolher o modelo. O GranTurismo 5 Prologue da Sony, por exemplo, permite selecionar potência, tipo de pneus, anexos aerodinâmicos, altura de rodagem, carga de molas e de amortecedores, convergência e câmber das rodas, divisão de força de frenagem entre os eixos, relações de marcha, atuação dos freios antitravamento (ABS) e do controle de tração, entre outros.

Talvez nunca chegue o dia em que toda essa configuração possa ser feita com facilidade no carro que usamos no mundo real, mas a boa notícia é que estamos caminhando nessa direção, embora ainda nos primeiros passos. O ajuste dos parâmetros de funcionamento de um automóvel, conforme as preferências do motorista e a condição de uso, tem sido uma preocupação crescente dos fabricantes.

Bom exemplo é o Audi Drive Select, já presente no novo A4 vendido no Brasil. Um seletor no console altera a configuração de funcionamento de direção (assistência e, em outros países, também sua relação), pontos de mudança do câmbio automático, velocidade de resposta do acelerador e carga dos amortecedores (com controle por meio magnético). Há três modos — Conforto, Dinâmico e Automático — e o motorista ainda pode definir suas próprias configurações.

No Mercedes-Benz SL 65 AMG Black Series, os ajustes passam pela operação do câmbio automático (modos Conforto, Esporte, Manual 1 e Manual 2, em ordem crescente de velocidade das trocas), a altura de rodagem, a compressão e a distensão dos amortecedores. Em outro automóvel-mito com mais de 600 cv, o Ferrari 599 GTB Fiorano, o seletor no volante permite escolher entre modos de uso que afetam o controle de estabilidade, o câmbio automatizado F1 e o controle magnético dos amortecedores.

Já no Mitsubishi Lancer Evolution X, o sistema de tração integral não só varia a repartição de torque entre os eixos durante a condução, como deixa o motorista ajustar essa variação em três modos. Em Tarmac (asfalto) a repartição entre os eixos varia mais; em Gravel (estrada de terra) a variação é menor; e em Snow (neve), a repartição é homogênea entre as quatro rodas. A atuação do câmbio automatizado do Evo também é ajustável entre três programas. No Porsche Cayenne com molas pneumáticas, seis alturas de rodagem estão à disposição do motorista.

Fabrício Samahá, editor

No SL 65 citado e no C 63 AMG da Mercedes, assim como no Chevrolet Corvette e no Cadillac CTS-V, o destaque é a seleção de modo do controle de estabilidade, uma forma eficiente de aumentar a segurança em manobras extremas sem comprometer a diversão do motorista nesses modelos de mais de 400 cv. Além do modo normal e do desativado, o C 63 tem o programa esportivo, em que a traseira sai bastante quando provocada pelo motorista com o acelerador, ao mesmo tempo que o controle monitora o carro para intervir se necessário. No CTS-V são quatro modos.

Velocidade máxima

Claro que um dos carros mais exóticos da produção atual — o Bugatti EB 16/4 Veyron — não poderia ficar de fora da tendência. O Veyron conta com três modos para ajustes de suspensão e aerodinâmica: Normal, com aerofólios traseiros próximos da carroceria e suspensão no ponto mais alto; Estabilidade, com carroceria mais baixa, pequenos defletores na parte dianteira e aerofólios mais destacados para produzir sustentação negativa; e o modo Velocidade Máxima, em que a suspensão passa ao ponto mais baixo, os defletores dianteiros e o aerofólio inferior traseiro retraem-se e o aerofólio superior chega bem perto da carroceria, para reduzir o arrasto aerodinâmico.

Como não muitos de nós poderiam ter um Bugatti ou mesmo um Mercedes AMG, carros de menor preço também começam a dar opções. Os mesmos parâmetros do A4 já admitiam ajuste no Opel Astra alemão lançado em 2003 — do qual a GM brasileira tomou emprestado o estilo, mas só o estilo, em seu Vectra GT.

O novo Focus permite escolher entre três níveis de assistência eletroidráulica para a direção. Como a assistência não é fixa e sim regressiva conforme aumenta a velocidade, a Ford elaborou três curvas para essa regressão, em que o modo Esporte endurece mais cedo e o Conforto mais tarde, ficando o modo Normal em ponto intermediário. É verdade que no Fiat Stilo há desde 2002 um comando (City) para aumentar a assistência elétrica, mas só atua em baixa velocidade.

Digno de lembrança é o Escort XR3 Formula de 1991 (e o XR3 de linha em 1992) com controle eletrônico de amortecedores, com duas opções de funcionamento, item que nunca mais apareceu em um carro brasileiro. E nos câmbios automáticos e automatizados já é comum a seleção entre padrões normal, esportivo e (em muitos casos) de baixa aderência, que levam a diferentes rotações para as mudanças de marcha.

Quais serão os próximos passos rumo ao carro de videogame, totalmente configurável? O tempo vai dizer.

No Mercedes-Benz SL 65 AMG Black Series, os ajustes passam pela operação do câmbio automático, a altura de rodagem, a compressão e a distensão dos amortecedores.

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Data de publicação: 11/10/08

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