Para frente, não de ré

Carros devem evoluir sempre, mas às vezes mostram retrocesso
em alguns aspectos na comparação com os antecessores

por Fabrício Samahá

Tratando-se de automóvel ou de qualquer produto, o que se espera sempre é que o novo substitua o antigo com vantagens, em uma definição adequada para a palavra evolução. Mas, pelo que se tem visto na indústria automobilística, não é o que acontece em todos os casos. Por uma razão ou outra, alguns dos novos modelos que chegam perdem em alguns aspectos para seus antecessores.

É o que acontece com o Linea, novo sedã médio da Fiat. Por ser derivado de um hatch pequeno, o Punto, ele acabou mais estreito do que deveria ser para ocupar tal segmento. Com 1,73 metro de largura, perde por 1 cm para o Marea — que ele substitui, querendo a empresa ou não — e internamente parece ainda menor. Não poderia ser diferente, pois o Punto mede apenas 1,68 m nessa dimensão e tanto o pára-brisa quanto as portas dianteiras são iguais para o hatch e o sedã. Onde estaria o aumento de 45 mm para o Linea? Ou na metade traseira, ou nos pára-lamas. De um jeito ou de outro, para quem viaja na frente a sensação é de estar em um carro menor.

Não é só: tanto o motor de 1,9 litro e aspiração natural quanto o 1,4 turbo ficam atrás em cilindrada, potência e torque dos usados no Marea, que eram um aspirado de 2,45 litros e um turbo de 2,0 litros. E, enquanto o antigo oferecia teto solar e um câmbio automático de verdade, o novo Fiat recorre a um manual automatizado, que não é o ideal em suavidade de operação, e não tem opção pelo teto.

Autoridade no assunto, porém, é a General Motors com o caso mais marcante de retrocesso de nossa indústria: o do Vectra, que da segunda geração — de linhas e suspensão impecáveis — passou à terceira em 2005. Se há quem goste do desenho retilíneo do modelo atual (a meu ver, muito inferior ao do que o precedeu), é consenso que a empresa pôs a perder o brilhante chassi quando adotou o do Astra com entreeixos alongado, em uma medida de economia incompatível com essa faixa de mercado. Perdeu-se muito em comportamento e conforto de rodagem, enquanto o interior teve o acabamento depreciado pelos materiais e os bancos pioraram. Não surpreende que o modelo, que um dia representou sonho de consumo, esteja hoje mais voltado a frotistas e taxistas.

No caso do Vectra hatch, houve ainda perda de espaço para bagagem, de 370 litros do Astra para 345, caso similar ao novo Focus hatch (319 litros ante 350 do antigo). Mas o carro que mais retrocedeu nesse item é o Honda Civic, que de já modestos 402 litros da geração anterior caiu a ínfimos 340 na atual, deixando muita gente insatisfeita com esse importante atributo de um sedã médio. Outro ponto em que o antigo Civic superava facilmente o novo era a visibilidade dianteira, agora prejudicada pelas colunas muito avançadas.

Fabrício Samahá, editor

Engordando
Um aspecto que tem preocupado todo fabricante é o aumento de peso, inevitável diante das normas mais exigentes de segurança em colisões dos países desenvolvidos, onde são desenhados muitos de nossos carros. É raro o modelo que não "engorda" de uma geração para outra, mesmo que não cresça nas medidas, e dois deles — o Corsa e o Fiesta lançados em 2002 — sofreram de modo particular, pois são forçados pelo mercado a ter versões de 1,0 litro. Com mais de uma tonelada mesmo nas versões hatch, ambos se arrastam com esses inadequados motores, que deveriam estar limitados a modelos mais leves como Ka, Celta e Mille.

Por falar em Mille, parece impossível que seu pretenso sucessor — o Palio — consiga aposentar esse velho guerreiro. Apesar de suas qualidades, o Palio não tem como oferecer a combinação de espaço, leveza e economia do Uno, nem soluções práticas como o estepe junto ao motor. A não ser que as normas de segurança o peguem, é possível que o Mille ainda esteja entre nós quando o Palio sair de produção...

Falando também em Ka, é inegável que o novo modelo ganhou em espaço para passageiros e bagagem, mas... foi mesmo evolução ou mero crescimento da seção traseira? O painel perdeu a harmonia estética do anterior, o que também aconteceu com a carroceria na opinião de muitos, este editor incluído. Caso semelhante foi o da substituição do Mondeo pelo Fusion, motivada pela isenção de Imposto de Importação para carros que vêm do México: o primeiro era bem mais agradável aos olhos em minha opinião, sobretudo por dentro, onde o segundo parece algo ultrapassado. E quem conhecer o novo Mondeo, como vi na Argentina durante o lançamento do Focus, só terá a lamentar que nosso mercado não o tenha mais.

Controvérsias sobre o novo estilo também se viu na última reestilização do Golf e do Palio — com o agravante, neste último, de ter perdido os faróis duplo refletor e alguns itens internos na versão ELX. Mas aqui a questão é a dificuldade em reestilizar um carro, tema de editorial na edição 278.

Por isso vale o ditado: é para frente que se anda.

O aumento de peso é inevitável diante das normas mais exigentes de segurança. É raro o modelo que não "engorda" de uma geração para outra, mesmo que não cresça nas medidas.

Atualidades - Página principal - Envie por e-mail

Data de publicação: 27/9/08

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade