A festa poderia ser melhor

Se o Salão do Automóvel sempre vale a visita, algumas revisões
a deixariam mais agradável para uns e produtiva para outros

por Fabrício Samahá

Salões do Automóvel são, em qualquer lugar do mundo, uma grande festa tanto para quem fabrica e vende quanto para quem compra carro, pensa em comprar ou simplesmente gosta de ficar por dentro das novidades. Esse tipo de exposição, com ou sem venda no local, existe desde os primórdios da indústria automobilística, ainda no século XIX, e desde então ganha cada vez maior interesse.

Não poderia ser diferente com nosso salão (leia cobertura), realizado desde 1960 em São Paulo — de início no pavilhão de exposições do Ibirapuera e, de 1970 para cá, no do Anhembi. Nestas 25 edições, foi palco para centenas de lançamentos de carros nacionais e importados e até de lançamento nenhum, caso de 1986. Naquele ano a indústria local boicotou o evento e, com o mercado ainda fechado a importações, a organizadora Alcântara Machado trouxe do exterior em caráter temporário 59 automóveis para salvar a festa.

A edição deste ano, que termina no domingo (9), é a primeira em que o evento brasileiro faz parte do calendário oficial da OICA, Organização Internacional de Fabricantes de Veículos Automotores, o que o coloca em um grupo seleto dos maiores salões do mundo. O público esperado — 600 mil pessoas — representa um recorde, embalado pelos excelentes resultados do mercado este ano, e talvez nunca tenha havido tantos lançamentos nas mais diversas categorias.

Tudo muito bem, portanto? Não tudo. Quanto mais ganha importância no cenário mundial, mais nosso salão se ressente da correção de alguns velhos — e outros novos — problemas.

O primeiro deles parece ter relação com a mania brasileira de deixar tudo para a última hora. Como se sabe, o evento teve dois dias (segunda e terça-feira, 27 e 28 de outubro) destinados ao trabalho da imprensa, que não poderia aguardar a abertura ao público na quinta-feira, tanto pela necessidade de divulgar antes as atrações quanto pela impossibilidade de realizar seu trabalho em meio aos visitantes.

É assim no mundo todo, mas quem já esteve em salões internacionais percebeu a sensível diferença. Lá fora o evento está pronto no primeiro dia de imprensa: estandes, carros, as modelos que os acompanham, material de divulgação, tudo concluído à espera dos jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas. E aqui? Bom, alguém precisa explicar aos expositores para que servem esses dias. Com raras exceções, os carros ainda estão sendo preparados — seja um enceramento, seja a aplicação de acessórios e placas de identificação. As modelos muitas vezes ainda não apareceram e, pasme, não raro os estandes estão sendo finalizados. Haja paciência e pedidos de licença para conseguir ver e fotografar os carros.

Fabrício Samahá, editor

Carros cobertos
Há quem conclua o estande com a devida antecedência, mas queira preservar os carros até o horário de sua entrevista coletiva — elas se distribuem entre os dois dias e uma delas, a da Ferrari/Maserati, foi remarcada para quarta-feira para contar com o piloto Felipe Massa. Esse sigilo, se é um direito do fabricante ou importador, sem dúvida prejudica o trabalho da imprensa. As marcas italianas, como sempre fazem, mantiveram seus carros cobertos durante segunda e terça, de modo que a parcela expressiva de jornalistas que não voltou ao salão na quarta ficou sem ver o que ela tinha a mostrar.

Pior, só mesmo a importadora Platinuss, que representa Lamborghini, Lotus e Pagani. Em um grande desrespeito à imprensa, o supercarro Zonda não apenas foi mantido coberto até a coletiva, na tarde de terça, como voltou a ser escondido pela capa tão logo terminou a apresentação. Isso mesmo: quem como nós preferiu esperar para obter fotos "limpas" mais tarde, sem o natural tumulto ao redor do carro, ficou sem ver e fotografar o modelo de R$ 5 milhões, que por isso não aparece em nossa cobertura. Colegas contam que a capa foi reaplicada antes mesmo que terminasse a filmagem por equipes de TV, verdadeiro desprezo pela atividade jornalística e, claro, pelos milhões que acompanham o salão pelas diversas mídias.

Em uma análise mais ampla, o próprio evento precisa reestudar alguns aspectos. Um, o calor quase insuportável dentro do Anhembi. Pelo que passamos na segunda-feira (na terça São Pedro parece ter tido pena dos jornalistas e amenizou a temperatura na capital paulista...), imagino como tem sido a visita de dezenas de milhares de pessoas nos dias de público. Já passou do tempo de estudar uma solução para esse problema. Mesmo que implique transferir o evento para outro local ou, quem sabe, antecipá-lo em cerca de dois meses para uma época menos quente do ano — até porque a indústria, cada vez mais, tem lançado os carros do ano-modelo seguinte muito antes de outubro.

Outro, a dificuldade de estacionamento, como relatado pelo colega Cláudio de Souza em UOL Carros. Na última terça-feira, em pleno horário comercial, ambos os espaços reservados para esse fim (com 7.500 vagas, segundo a organização do salão) já estavam lotados antes das 17 horas. É previsível como será durante este fim-de-semana.

Problemas à parte, o salão continua uma grande festa, uma oportunidade bienal de ver de perto alguns dos carros mais fascinantes do mundo. Um evento que, apesar dos pesares, deve estar na agenda de qualquer entusiasta por automóveis.

O Zonda voltou a ser escondido pela capa tão logo terminou a apresentação, verdadeiro desprezo pela atividade jornalística e pelos milhões que acompanham o salão pelas diversas mídias

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Data de publicação: 8/11/08

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