Salões do Automóvel são, em qualquer lugar do mundo, uma grande
festa tanto para quem fabrica e vende quanto para quem compra carro,
pensa em comprar ou simplesmente gosta de ficar por dentro das
novidades. Esse tipo de exposição, com ou sem venda no local, existe
desde os primórdios da indústria automobilística, ainda no século
XIX, e desde então ganha cada vez maior interesse.
Não poderia ser diferente com nosso salão (leia
cobertura), realizado desde 1960 em São Paulo — de início no
pavilhão de exposições do Ibirapuera e, de 1970 para cá, no do
Anhembi. Nestas 25 edições, foi palco para centenas de lançamentos
de carros nacionais e importados e até de lançamento nenhum, caso de
1986. Naquele ano a indústria local boicotou o evento e, com o
mercado ainda fechado a importações, a organizadora Alcântara
Machado trouxe do exterior em caráter temporário 59 automóveis para
salvar a festa.
A edição deste ano, que termina no domingo (9), é a primeira em que
o evento brasileiro faz parte do calendário oficial da OICA,
Organização Internacional de Fabricantes de Veículos Automotores, o
que o coloca em um grupo seleto dos maiores salões do mundo. O
público esperado — 600 mil pessoas — representa um recorde, embalado
pelos excelentes resultados do mercado este ano, e talvez nunca
tenha havido tantos lançamentos nas mais diversas categorias.
Tudo muito bem, portanto? Não tudo. Quanto mais ganha importância no
cenário mundial, mais nosso salão se ressente da correção de alguns
velhos — e outros novos — problemas.
O primeiro deles parece ter relação com a mania brasileira de deixar
tudo para a última hora. Como se sabe, o evento teve dois dias
(segunda e terça-feira, 27 e 28 de outubro) destinados ao trabalho
da imprensa, que não poderia aguardar a abertura ao público na
quinta-feira, tanto pela necessidade de divulgar antes as atrações
quanto pela impossibilidade de realizar seu trabalho em meio aos
visitantes.
É assim no mundo todo, mas quem já esteve em salões internacionais
percebeu a sensível diferença. Lá fora o evento está pronto no
primeiro dia de imprensa: estandes, carros, as modelos que os
acompanham, material de divulgação, tudo concluído à espera dos
jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas. E aqui? Bom, alguém precisa
explicar aos expositores para que servem esses dias. Com raras
exceções, os carros ainda estão sendo preparados — seja um
enceramento, seja a aplicação de acessórios e placas de
identificação. As modelos muitas vezes ainda não apareceram e,
pasme, não raro os estandes estão sendo finalizados. Haja paciência
e pedidos de licença para conseguir ver e fotografar os carros. |
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Carros cobertos
Há quem conclua o estande com a devida antecedência, mas queira
preservar os carros até o horário de sua entrevista coletiva — elas
se distribuem entre os dois dias e uma delas, a da Ferrari/Maserati,
foi remarcada para quarta-feira para contar com o piloto Felipe
Massa. Esse sigilo, se é um direito do fabricante ou importador, sem
dúvida prejudica o trabalho da imprensa. As marcas italianas, como
sempre fazem, mantiveram seus carros cobertos durante segunda e
terça, de modo que a parcela expressiva de jornalistas que não
voltou ao salão na quarta ficou sem ver o que ela tinha a mostrar.
Pior, só mesmo a importadora Platinuss, que representa Lamborghini,
Lotus e Pagani. Em um grande desrespeito à imprensa, o supercarro
Zonda não apenas foi mantido coberto até a coletiva, na tarde de
terça, como voltou a ser escondido pela capa tão logo
terminou a apresentação. Isso mesmo: quem como nós preferiu esperar
para obter fotos "limpas" mais tarde, sem o natural tumulto ao redor
do carro, ficou sem ver e fotografar o modelo de R$ 5 milhões, que
por isso não aparece em nossa cobertura. Colegas contam que a capa
foi reaplicada antes mesmo que terminasse a filmagem por equipes de
TV, verdadeiro desprezo pela atividade jornalística e, claro, pelos
milhões que acompanham o salão pelas diversas mídias.
Em uma análise mais ampla, o próprio evento precisa reestudar alguns
aspectos. Um, o calor quase insuportável dentro do Anhembi. Pelo que
passamos na segunda-feira (na terça São Pedro parece ter tido pena
dos jornalistas e amenizou a temperatura na capital paulista...),
imagino como tem sido a visita de dezenas de milhares de pessoas nos
dias de público. Já passou do tempo de estudar uma solução para esse
problema. Mesmo que implique transferir o evento para outro local
ou, quem sabe, antecipá-lo em cerca de dois meses para uma época
menos quente do ano — até porque a indústria, cada vez mais, tem
lançado os carros do ano-modelo seguinte muito antes de outubro.
Outro, a dificuldade de estacionamento, como relatado pelo colega
Cláudio de Souza em UOL Carros. Na última terça-feira, em
pleno horário comercial, ambos os espaços reservados para esse fim
(com 7.500 vagas, segundo a organização do salão) já estavam lotados
antes das 17 horas. É previsível como será durante este
fim-de-semana.
Problemas à parte, o salão continua uma grande festa, uma
oportunidade bienal de ver de perto alguns dos carros mais
fascinantes do mundo. Um evento que, apesar dos pesares, deve estar
na agenda de qualquer entusiasta por automóveis. |
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Zonda voltou a ser escondido pela capa tão logo terminou a
apresentação, verdadeiro desprezo pela atividade jornalística e
pelos milhões que acompanham o salão pelas diversas mídias |