Bússolas modernas

Antes proibido, o navegador com base em GPS torna-se item
popular e abre novas possibilidades no mercado nacional

por Fabrício Samahá

Com grande atraso em relação ao mundo desenvolvido — causado por uma legislação ultrapassada que demorou a ser revista —, o sistema de navegação por satélite afinal faz parte do cotidiano de milhares de brasileiros. Ninguém mais estranha quando vê a seu redor, no trânsito, carros com a pequena tela de exibição de mapa presa ao para-brisa.

Atribui-se à fábrica de aparelhos eletrônicos Alpine, em 1981, e à Honda dois anos depois a criação dos primeiros navegadores para automóveis, que na época não usavam o GPS — sigla em inglês para sistema de posicionamento global — porque ele simplesmente ainda não fora inventado. Foi só na Guerra do Golfo, em 1990, que os Estados Unidos colocaram em uso o sistema de localização baseado em satélites, mais tarde oferecido para aplicações civis. Navegadores automotivos por GPS foram usados pela primeira vez por um fabricante em 1995 com o sistema Guidestar da Oldsmobile, divisão já extinta da General Motors norte-americana.

Para quem nunca viu um navegador em funcionamento, seu uso é simples: digita-se o endereço desejado ou se escolhe um ponto já armazenado na memória, seja pelo usuário, seja pelo fornecedor dos mapas digitais. O aparelho, por meio de contato com os satélites que orbitam em torno da Terra (são 24, dos quais seis ou mais estão sempre acessíveis de qualquer ponto do planeta), obtém sua posição e a localiza em seu mapa digital. Então é traçada uma rota até o ponto de destino desejado, que em geral pode ser a mais curta ou a mais rápida (que prioriza vias de maior fluxo), conforme a opção do usuário. A partir daí, o navegador orienta o motorista sobre todas as conversões a ser feitas na rota e acompanha seu deslocamento em tempo integral. Se o usuário deixar passar uma esquina a ser dobrada, por exemplo, o aparelho calcula a nova rota e o orienta para retomar o caminho.

É fácil perceber, portanto, como o navegador abre novas possibilidades. Não se trata apenas de saber sua localização ou de traçar um caminho entre dois pontos conhecidos — é justamente a associação dessas duas tarefas, feita em instantes e com grande facilidade de uso, o trunfo do dispositivo. Com isso, torna-se possível elaborar serviços de orientação de trânsito em tempo real, como já existe em outros países: por meio de acesso a informações sobre pontos congestionados, o navegador pode traçar caminhos alternativos mais livres.

Sistemas de assistência, como o OnStar vigente nos EUA e no Canadá, também usam GPS para localizar o veículo e prestar diversos serviços, como o envio de socorro em caso de acidente. Sem falar em utilidades já comuns no mercado nacional, como a indicação dos pontos de fiscalização de velocidade com radar fixo. Naturalmente, além dos aparelhos feitos para esse fim, a navegação pode ser usada também em celulares, em computadores portáteis e... sabe-se lá onde mais a convergência digital ainda vai colocá-la.

Fabrício Samahá, editor

No Brasil
Embora usado por milhões ao redor do mundo, o navegador ficou proibido por aqui até 2007, por conta de uma absurda resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) que impedia qualquer exibição de imagens — no caso o mapa de orientação — com o veículo em movimento, como se esse fosse um mero item de entretenimento e não um instrumento de grande utilidade. Só com a alteração da norma é que o aparelho começou a ganhar espaço e a se tornar mais popular.

De início oferecido por valores na faixa de R$ 1.500 a R$ 2.000, o navegador — como acontece com qualquer eletrônico, de computadores a celulares — despencou de preço à medida que aumentou o volume de vendas, o que também acelerou o custeio da produção dos mapas digitais. Hoje se encontram aparelhos portáteis de várias marcas por menos de R$ 400 (veja opções no Shopping Best Cars), mapas incluídos. Contudo, está demorando para termos o que nos países de vanguarda é habitual há anos: sistemas integrados ao painel do veículo.

A Fiat oferece um navegador como opcional no Linea e no Punto T-Jet, mas é um dispositivo incompleto, que não exibe mapa no mostrador — apenas orienta, por voz e por ícones, quais as próximas conversões. Além disso, por não haver tela sensível ao toque como nos aparelhos portáteis, inserir um novo endereço é uma operação lenta e trabalhosa, em que o usuário deve percorrer o alfabeto com teclas de avançar e retroceder, letra por letra. Estive com alguns desses carros para avaliação e só usei o navegador o suficiente para analisar sua eficiência — depois voltei a meu velho e bom modelo portátil.

O aparelho não integrado tem vantagens óbvias como poder ser usado em diferentes veículos (caso de, havendo um só na família, ser aplicado ao carro que for usado em percurso fora do rotina naquele dia) e retirado do veículo ao estacionar, como se fazia no passado com os inconvenientes rádios/toca-fitas "de gaveta". No entanto, sua operação nunca será tão prática quanto a de um navegador incorporado ao painel em posição definida pelo fabricante, além das questões estética e de segurança passiva — conforme o local de montagem e a forma de fixação, o aparelho pode se tornar um objeto contundente em caso de colisão.

Claro, sempre haverá quem seja contra o navegador. Manuseá-lo enquanto se dirige — como digitar um número no celular ou mesmo ajustar o sistema de áudio — pode de fato levar a riscos, sendo recomendado parar em local seguro ou, se houver um passageiro, entregar-lhe a tarefa quando se está em movimento. Há também casos de condutores que, seguindo cegamente as orientações do aparelho, entram em vias pela contramão ou fazem conversões proibidas, sobretudo quando seu mapa não está atualizado para recentes alterações de tráfego.

Alguns desses episódios se tornam famosos, como a mulher cujo Clio foi colhido por um trem no País de Gales em 2007. Depois que supostamente o GPS a orientou a seguir por um caminho não iluminado, Paula Ceely cruzou uma porteira metálica e, quando saiu do carro para fechá-la, ouviu a buzina do trem que arrastaria seu Renault por 800 metros até parar. Como se vê, o auxílio eletrônico não isenta o motorista de julgar onde, quando e como movimentar seu carro.

O importante é que, entre vantagens e riscos, o saldo é claramente positivo para o navegador. Bem usado, ele permite ganhar tempo nos deslocamentos, encontrar alternativas para uma via congestionada e reduzir em muito a chance de se perder. De quebra, ainda evita a conhecida — e desgastante — situação em que o marido "tem certeza" de que sabe o caminho e o casal acaba perdido a caminho de um casamento, apesar da insistência da esposa para que pedissem informação a alguém...



P.S.:
Ao escolher o seu, confira também o custo das atualizações de mapas que terão de ser feitas no futuro. Em alguns casos, como o do modelo que tenho, o custo supera 30% do valor de um aparelho novo de outra marca.

Por meio de acesso a informações sobre pontos congestionados, o navegador pode traçar caminhos alternativos. Sistemas de assistência também usam GPS para diversos serviços.

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Data de publicação: 5/12/09

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