Não me esqueço de uma chamada de capa de revista na década de 1970,
em meio à crise do petróleo: "Como viver com a gasolina a Cr$ 7,00".
Com a devida atualização da moeda e do valor, é possível dizer hoje
"Como viver com a gasolina a R$ 3,00", preço que tal combustível
atingiu em muitos postos nas últimas semanas, enquanto o álcool —
habitual alternativa para motores flexíveis — mantinha um custo que
tornava a gasolina a melhor opção. Esse quadro está mudando com a
queda de preço do derivado da cana de açúcar, que traz junto o valor
da gasolina em menor proporção, mas economizar no posto ainda é do
interesse de quase qualquer pessoa.
Uma opção natural (sem duplo sentido) é deixar o carro em casa
sempre que possível e caminhar mais, usar a bicicleta, o transporte
público ou compartilhar o automóvel com amigos e colegas de
trabalho. Mas isso não funciona para todo mundo, pelo que a questão
persiste: como gastar menos sem deixar de percorrer a mesma
distância de carro? Há dicas simples, algumas conhecidas e outras
nem tanto.
Tudo começa com as condições do carro. Há quanto tempo você não
confere a pressão dos pneus? Se estiver baixa, aumentam o atrito, o
desgaste dos pneus e o consumo de combustível, além de ser afetada a
estabilidade. Mas não basta pedir a tarefa ao frentista e confiar
que ele tenha na memória a pressão indicada para cada modelo em cada
situação de uso... Informe-lhe as indicações do manual para as
condições em que vai rodar. Velas desgastadas e filtro de ar sujo
também são inimigos da economia, assim como qualquer anormalidade
que deixe o motor com mau funcionamento, falhando ou com partida
difícil — o que pode indicar de combustível adulterado até problemas
de ignição.
Carro em ordem, passe a outra análise: ele anda apenas com o
necessário? Observe se não carrega objetos inúteis no porta-malas ou
se é mesmo preciso manter um bagageiro no teto o tempo todo. Rodas
maiores e pneus mais largos que os originais podem ser bonitos, mas
contribuem para gastar mais.
Assuma o volante e analise seu modo de dirigir. Se a pressa é
inimiga da perfeição, é também da economia: um motorista tenso ou
atrasado tende a acelerar mais, mesmo quando não pode ganhar tempo
em meio ao tráfego pesado. Uma direção suave, em que apenas se
acompanha o trânsito, rende quilômetros por litro. Procure se
antecipar: se os carros param ou o semáforo fecha adiante, deixe de
acelerar mais cedo. Na estrada, se tempo não é problema, rodar em
velocidade pouco mais baixa reduz o consumo — só cuide para não
prejudicar a fluidez da via. |
Sem medo de acelerar
Muita gente tem um receio infundado de usar o acelerador a fundo em
baixas rotações, pensando que o motor pode se danificar ou que o
consumo será elevado. De modo geral, 1.500 a 2.000 rpm são
suficientes para um funcionamento regular e econômico, usando-se
mais a abertura do acelerador e menos as rotações para obter
potência (leia nosso teste a
respeito, publicado em 2003). Isso também vale para a estrada,
onde pisar mais em vez de reduzir uma marcha pode ser a forma mais
econômica de ganhar velocidade ou superar um aclive.
Se o carro tem ar-condicionado, use-o com moderação: em algumas
condições pode-se obter conforto apenas com janelas entreabertas. No
caso de câmbio automático, paradas mais longas (como um semáforo
demorado) podem justificar passar a alavanca para o ponto-morto,
pois em "D" o motor fica mais acelerado, com consumo cerca de 20%
maior. Em qualquer carro, é melhor desligar a chave se for parar por
mais de dois minutos. Só não o faça em paradas breves, pelo desgaste
do sistema elétrico e o consumo de energia da bateria, que terá de
ser recarregada usando combustível.
Livre-se de maus hábitos, às vezes herdados de tempos em que os
carros exigiam cuidados adicionais. Mesmo no frio, não é preciso
aguardar o motor se aquecer: pode-se sair com o carro normalmente,
sem excessos. Antes de desligá-lo, nada de dar uma acelerada, o que
ainda pode danificar o catalisador.
Manter uma planilha com o consumo registrado a cada abastecimento
permite detectar fatores que aumentam o gasto, como problemas no
carro ou mesmo mudanças no itinerário de todo dia que possam ser
revertidas. Para reduzir a margem de erro, procure abastecer sempre
em piso plano até o mesmo ponto (como no primeiro desligamento
automático da bomba) e divida os quilômetros percorridos pelos
litros que couberam. Se o carro tem computador de bordo, use-o a seu
favor.
Cuide do combustível que seu automóvel recebe usando postos
conhecidos, indicados por amigos ou com controle de qualidade pela
empresa distribuidora — não basta que haja uma "bandeira" famosa,
pois os postos são livres para comprar de outras empresas. No caso
da gasolina, a aditivada é recomendável para manter o motor e o
sistema de alimentação limpos, o que conserva seu funcionamento
original por mais tempo e reduz as despesas com manutenção. Já o
tipo premium, de alta octanagem,
normalmente é dispensável e em raros casos traz benefícios reais.
De resto, na próxima troca de carro, preste atenção ao fator
consumo. Embora muitas vezes ter um carro mais econômico implique
aceitar menor desempenho ou menor espaço interno, isso não acontece
sempre. Como exemplo, vê-se muito hoje a opção por utilitários
esporte — mais pesados, menos aerodinâmicos, sem dúvida menos
eficientes — por pura moda, já que não há o objetivo de usar suas
aptidões fora do asfalto. A simples escolha de um modelo
"aventureiro" já se traduz em maior consumo, ainda que por pequena
margem, que a da versão convencional.
Usando a cabeça na compra, no uso e na manutenção, seu bolso vai
agradecer. |
De modo geral,
1.500 a 2.000 rpm são suficientes para um funcionamento regular e
econômico, usando-se mais a abertura do acelerador e menos as
rotações |