Data de publicação: 5/5/12

Espécies em extinção

Chave, estepe e até pedal de embreagem parecem seguir o
mesmo destino que já tiveram o carburador e o afogador

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editor

Houve um tempo em que se usava a chave para abrir a porta do carro e se puxava o afogador antes de dar partida ao motor. No trânsito, o pedal de embreagem era pisado infinitas vezes. A opção ao rádio era um toca-fitas ou, mais tarde, um toca-CDs com 15 ou 20 músicas por disco. Na estrada, faróis de longo alcance eram essenciais em trechos desertos e, de tempos em tempos, era preciso mandar limpar o carburador.

Esses itens e procedimentos estão extintos ou caminham para a extinção nos carros atuais. Seja em nome da segurança, da conveniência ou do controle de emissões poluentes, alguns equipamentos vão se tornando padrão e outros ganham espaço a cada dia na preferência do comprador de automóveis. Para verificar como anda esse processo, selecionei 10 itens em vias de extinção — alguns mais perto dela, outros mais distantes.

Alavanca de câmbio - Substituí-la por botões em uma caixa automática não é novidade: a Chrysler fez isso nos Estados Unidos nos anos 50. Mas a alavanca permaneceu entre nós por muito tempo até que voltou a perder espaço. O Ferrari 458 Italia traz apenas dois botões no console, R para ré e Auto para modo automático, enquanto as trocas manuais são feitas pelos comandos no volante. Modelos da Jaguar e da Land Rover adotaram um botão giratório no console, e a Citroën C4 Picasso, uma diminuta alavanca próxima do volante — sempre com os objetivos de obter visual interno mais "limpo" e liberar espaço para outras funções ao alcance do motorista.

Alavanca de freio de estacionamento - Outra vítima dos mesmos fatores acima. Modelos não tão caros, como a citada C4 Picasso e o VW Tiguan, já trazem botões ou comandos de puxar para o acionamento elétrico do freio. Como não há ligação mecânica entre o comando e as rodas, surgem o acionamento e a liberação automáticos conforme a posição do câmbio e o uso do acelerador.

Carburador - O primeiro da lista a sucumbir, por força das normas de controle de emissões poluentes: desde 1997, no Brasil, a injeção eletrônica se tornou necessária para atender aos limites legais. Com ele foi-se embora também o afogador, antes usado para enriquecer a mistura ar-combustível com o motor frio, papel que a injeção faz sozinha. E, ao contrário do que alguns acreditavam, o sistema eletrônico mostrou-se confiável a ponto de reduzir o risco de ficar na estrada por defeito.

Chave - Primeiro foi o controle a distância de travamento, que dispensou inserir a chave na fechadura. Depois surgiu a chave presencial, que pode ser mantida com o usuário (no bolso, por exemplo) enquanto as portas são destravadas e o motor é ligado, em geral por botão. Em alguns modelos não se precisa nem mesmo abrir a tampa do porta-malas, que se destrava e levanta com um "chute no ar" abaixo do para-choque traseiro.

Estepe - Carregar no porta-malas um pneu grande, pesado e caro por toda a vida está menos comum. Vários carros usam estepe temporário, restrito a emergências, mas há soluções mais ousadas para descartar de vez a troca do pneu furado na rua. Importados como os da BMW aderiram aos pneus run-flat, capazes de rodar por certa distância (100 quilômetros, por exemplo) em velocidade moderada sem nenhum ar. Outros, como o Peugeot RCZ, trazem selante para tapar o furo e compressor para encher o pneu. O que ainda é problema é um dano extenso à roda e ao pneu, nada improvável nesse esburacado Brasil.

Faróis de longo alcance - Em geral circulares e conhecidos como "faróis de milha", foram uma febre nos anos 80, quando Ford Escort XR3 e VW Gol GT/GTS/GTi os traziam de fábrica. Na época os faróis principais eram um tanto limitados, o que justificava o auxílio em estradas sem tráfego oposto. Com faróis mais eficientes — como os de refletor duplo de superfície complexa — e sobretudo com as lâmpadas de xenônio, não há mais sentido em ter unidades auxiliares, salvo para neblina.

Marcador de temperatura do motor - Anos atrás ele refletia pequenas variações, a ponto de se visualizar o efeito do acionamento da ventoinha. Já os atuais termômetros permanecem em um ponto médio por horas a fio e só sobem — rápido — para a faixa de atenção quando a temperatura supera os níveis seguros. É o mesmo momento em que uma luz-piloto, mais barata, acenderia. Por isso, até alguns carros de luxo já eliminaram o mostrador.

Pedal de embreagem - O novo Porsche 911 só vem ao Brasil com o câmbio automatizado PDK. No Ferrari 458 o manual foi abolido em âmbito mundial, já no lançamento, e o mesmo ocorre por aqui com quase todo modelo de alto preço. Fácil entender por quê: com o avanço dos automatizados, como os de dupla embreagem, e das caixas automáticas (que já chegam a oito marchas e ganham eficiência a passos largos), há cada vez menos interesse pelo câmbio manual, com seu pedal de embreagem inconveniente no tráfego pesado. Os automatizados já conseguem melhor aceleração que os manuais, razão para que até os carros esporte os adotem de série.

Toca-CDs - Ainda equipa quase todos os carros, mas tende a se tornar raro. Depois que o formato compactado MP3 entrou no cotidiano de pessoas de todas as idades, o CD tradicional perdeu apelo. Hoje, há tantas conexões nos aparelhos — para toca-MP3 portátil, pendrive, cartão de memória e telefone celular — que a mídia digital tomou conta dos automóveis e, para muitos, o toca-CDs não serve mais para nada.

Vareta de medição de nível de óleo - Há mais de 10 anos, alguns acessíveis Peugeots já traziam mostrador no painel que dispensava checar o nível pela vareta, com sua propensão a erros de leitura. Contudo, talvez por questão de confiabilidade, o método tradicional ainda é o mais comum nos automóveis, desafiando o passar do tempo. Corremos o risco de vê-la até que não haja mais óleo nos motores... que terão sido substituídos pelos elétricos.

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Os termômetros permanecem em um ponto médio por horas a fio, e só sobem quando a temperatura supera os níveis seguros
 
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