Data de publicação: 21/4/12

Chile: leve dois, pague um

Com mais opções e atualização com os países desenvolvidos,
carros custam até 55% menos aos chilenos que aos brasileiros

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editor

No Editorial anterior, procurei trazer ao leitor algumas impressões que o Chile — em particular a capital Santiago — me transmitiu durante uma breve viagem, a do evento de lançamento do Fiat Grand Siena. Como esperava, houve uma interessante repercussão entre os que acompanham a coluna, em que vários acrescentaram as próprias experiências obtidas naquele país.

Ao lado de uma sensação de organização e desenvolvimento, a capital chilena me cativou pela frota circulante, seja pela diversidade de marcas e modelos, seja por sua atualização em relação à do mundo desenvolvido. E fiquei de abordar o tema com mais atenção — já que temos um limite de espaço, mesmo na internet — no Editorial desta edição, junto a um ponto bastante sensível para os brasileiros: os preços dos carros no Chile.

Antes, um passeio pela composição da oferta de automóveis daquele mercado. O primeiro ponto que chama a atenção é quantas marcas vendem carros por lá — um país sem fabricação local e que, por isso, não sobrecarrega os importados de tributos como faz o Brasil. Além desse fator, contribui o fato de que o Chile usa gasolina sem álcool, compatível com o combustível da maior parte do mundo. Pode parecer um detalhe, mas para receber a gasolina brasileira os motores devem passar por uma reprogramação da central eletrônica, operação de alto custo, sob risco de não funcionar em sua plenitude ou de apresentar problemas.

Ao lado da profusão de marcas, há a de modelos dentro de cada empresa. O catálogo de algumas delas contém carros das mais variadas procedências. Sob o guarda-chuva da Chevrolet, por exemplo, estão pequenos e médios de origem sul-coreana (Aveo, Spark antigo e novo, Sonic, Optra, Cruze) e chinesa (Sail); utilitários norte-americanos (Traverse, Tahoe, Suburban, picapes Colorado e Silverado), sul-coreanos (Orlando e Captiva, que é diferente do nosso), brasileiro (Montana) e o D-Max da japonesa Isuzu; o furgão Combo da Opel e os esportivos Camaro e Corvette.

Na linha Ford, EcoSport brasileiro e Ranger antigo da Argentina convivem com o novo Fiesta mexicano, o Focus (já na terceira geração) e vários utilitários (Escape, Edge, Explorer, Expedition, picape F-150) trazidos dos Estados Unidos ou do Canadá. Há ainda o novo Ranger, que acredito ser importado da Tailândia. Da Fiat, apenas os comerciais Uno Cargo (furgão), Fiorino e Strada vão do Brasil: os demais, como Panda, Grande Punto, Punto Evo (também na bela versão de três portas), Linea e Bravo, são importados da Europa como os outros utilitários. Em comum temos o 500, que vem do México.

A Volkswagen vende Gol, Gol Sedán (Voyage), Saveiro e CrossFox mandados daqui, assim como a Suran (SpaceFox) e o Amarok argentinos e Golf, Bora e Vento (nosso Jetta) mexicanos. Curiosamente o Vento só oferece o motor aspirado de 2,0 litros, não o turbo que temos aqui. Em contrapartida, o Golf de sexta geração — duas à frente do nosso — oferece motor turbo e câmbio DSG de dupla embreagem. Polo (também mais moderno que o brasileiro), Passat, CC, Tiguan, Touareg e os furgões comerciais vêm da Europa. E não, eles não têm a Kombi...

Assim como as "quatro grandes" daqui, outras marcas instaladas no Brasil vendem no Chile modelos mais atuais que os de nosso mercado. A Peugeot complementa da Europa suas opções com os pequenos 107 e 207 (mais moderno que o nosso, lá vendido como 207 Compact), o grande 508, a minivan 5008 e as versões conversíveis do 207 e do 308; já o 408 não está disponível. A Renault oferece tanto Logan, Sandero, Symbol e Fluence quanto os europeus Mégane III hatch e Koleos, um utilitário esporte. E se aqui a linha DS da Citroën nunca chega às concessionárias, lá tanto o compacto DS3 quanto o médio DS4 são realidade. Outras opções são o pequeno C1 e os novos C3 e C4, uma geração adiante dos nossos.

Nos casos de Honda e Toyota, que mantêm os produtos brasileiros em sintonia com os mundiais, o que há mais no Chile é variedade de opções. É o caso dos Civics Si cupê (com motor de 2,4 litros e 201 cv) e Hybrid importados dos EUA, do utilitário esporte Pilot (maior que o CR-V) e do picape Ridgeline, na Honda. Já a Toyota vende o compacto Yaris, o hatch médio Auris (da família do Corolla), o sedã maior Avensis, sete modelos de utilitários esporte e o hatch esportivo Zelas, que equivale ao Scion TC dos EUA.

Impostos ou lucros?
Deixei para depois um item não menos importante: os preços. O que se paga pelos carros no Chile é de causar espanto
— e indignação — em qualquer brasileiro, em parte pela carga tributária muito menor cobrada pelo governo de lá e, talvez, também por margens de lucro mais estreitas em um mercado tão competitivo.

Como aqui até algum tempo atrás, o chinês Chery QQ é o carro mais barato para eles, vendido pelo equivalente a R$ 12.500 na versão de 800 cm³. A de 1,1 litro passa a R$ 13.260, ou 47% menos que o cobrado pelo mesmo carro no Brasil. Não gosta dos chineses? O Kia Morning de 1,0 litro, que é nosso Picanto, começa em R$ 17.800 com cinco portas — 55% abaixo do preço daqui.

O novo Ford Fiesta SE hatch — também mexicano e com motor 1,6 — parte de R$ 29.600, ou 35% menos que no Brasil. A VW oferece o novo Polo com motor 1,4 por R$ 34.200, mesmo valor do Honda Fit LX 1,35 — importado daqui —, que sai quase 38% mais barato que em seu país de origem. Vale lembrar que o Fit e o Fiesta, ao contrário do Chery ou do Kia, não recolhem aqui IPI majorado nem Imposto de Importação; por isso a menor diferença percentual.

Passando aos modelos médios, as opções não são menos atraentes. Os chilenos pagam apenas R$ 35.700 pelo Focus sedã de última geração com motor de 2,0 litros e 160 cv, 40% menos que os brasileiros pelo GLX 2,0 (148 cv) antigo, já fora de linha na Europa. Já o Corolla trazido do Japão custa R$ 36.400 em versão GLi com motor 1,6 de 110 cv, o único disponível, e caixa automática. Pagar 48% menos que o preço do GLi brasileiro não parece uma boa compensação pela ausência do motor 1,8 de 144 cv?

E por R$ 37.600 há o Hyundai Elantra 1,8, valor 47% abaixo do sugerido no Brasil. Busca algo mais jovial? A mesma sul-coreana oferece o Veloster entre R$ 39.900 e R$ 49.400, conforme a versão — o mais caro ainda está 39% abaixo da versão de topo oferecida aqui. E se o Bravo TJet brasileiro é um hatch atual e atraente, os chilenos pagam 32% menos (R$ 46.700) pela versão italiana.

Talvez você prefira um utilitário esporte. O Mitsubishi ASX de 2,0 litros com câmbio CVT começa lá em R$ 49.400, desconto de 45% sobre o modelo igual vendido aos brasileiros. Por um Ford Edge SEL V6 3,5 com tração integral pagam-se R$ 77.900, ou 47% abaixo do mercado nacional. Se a escolha for um picape pesado, o Chevrolet Silverado de cabine dupla com motor V8 de 5,3 litros e 355 cv, câmbio automático e tração 4x4 sai por R$ 81.300. Aqui esse dinheiro não compra nem o novo S10 LTZ de cabine simples com motor de 2,4 litros, câmbio manual e tração 4x2.

O contraste continua grande — e penoso para nós — em segmentos superiores do mercado. O BMW 320i automático, já na geração que acaba de estrear na Europa, está por R$ 68 mil no Chile, 40% menos que o modelo antigo ainda à venda no Brasil. Por R$ 75.200 leva-se o Mercedes C 180 Coupe, também uma vantagem de 40% em relação ao preço daqui.

E se o sonho for um "musculoso" norte-americano, por R$ 91.200 o chileno leva para casa o Dodge Challenger R/T, com motor V8 de 5,7 litros, ou por R$ 102.600 o Chevrolet Camaro na configuração que temos aqui, a SS V8 de 6,2 litros com caixa automática — 49% a menos do que pagamos. Nem mesmo o topo de linha da GM por lá, o Corvette Z06 com motor de 7,0 litros e 512 cv, custa tanto quanto o Camaro no Brasil: R$ 191.100.

Com carros modernos, variedade espantosa de opções, preços pela metade dos nossos, vias de qualidade e trânsito organizado, o mundo do automóvel no Chile é mesmo de dar inveja a qualquer brasileiro. Se serve de consolo, aqui não temos terremotos...

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O que se paga pelos carros no Chile é de causar espanto — e indignação — em brasileiros, pela carga tributária e, talvez, pelas margens de lucro
 
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