O bruxo dos carros azuis

Amedée Gordini nasceu e começou
carreira na Itália, mas foi na França que
se destacou como piloto e preparador

Texto: Francis Castaings - Fotos: divulgação*

O Fiat Balilla 508 S, na década de 1930, foi uma das primeiras criações

Derivados do Simca 5 (em cima) de 1937 e do modelo 8 de 1939, estes modelos de corrida justificavam o apelido "bruxo" atribuído a Gordini

Amedée e o Simca-Gordini T16 de 1952: motor de seis cilindros, 175 cv

Vários homens que ficaram conhecidos no mundo da política, do cinema e da música por suas atuações brilhantes adotaram um país, mudaram de nome e a maioria das pessoas acha que, após o sucesso, eles nasceram mesmo na pátria em que ganharam fama. É o caso do ator Yves Montand que nasceu na Itália, do cantor Charles Aznavour que é de origem armênia e do ex-presidente Valéry Giscard d'Estaing, que nasceu em Coblence, na Alemanha — todos, aos olhos do mundo, supostamente franceses.

No mundo do automóvel não foi diferente. Um homem que marcou muito o cenário francês de máquinas velozes no século passado com seus carros azuis, Amadeo Gordini, nasceu em 23 de junho de 1899 na cidade de Bazzano, nos arredores de Bolonha, no norte da Itália. Muito jovem, ficou órfão de pai e mãe e foi conduzido pelas entidades a trabalhar como aprendiz de mecânico numa oficina Fiat. Por obra do destino, um de seus primeiros instrutores foi Edoardo Weber, que ficaria mundialmente famoso pela marca de carburadores que levaria seu sobrenome sob o capô das melhores marcas do mundo. Tornaram-se amigos.

Amedeo continuou a carreira de aprendiz com sorte, pois sempre arranjava trabalho em empresas de renome e fazia parte das equipes de gente graúda do meio. Em 1913 trabalhava na Isotta Fraschini, sob a batuta de Alfieri Maserati, um dos irmãos fundadores desta famosa empresa de carros esporte. Após a Primeira Guerra Mundial, terminada em 1918, começava a fazer preparações especiais em carros Fiat e os inscrevia em competições regionais. Fazia alterações em carburadores, ignição e cabeçotes. Já começava a apresentar seus dotes.

No fim dessa década e no início dos anos 20, trabalhou numa das mais afamadas empresas automobilísticas e aeronáuticas da época: a Hispano-Suiza, que tinha uma filial importante em solo francês. Ao chegar a Paris em 1925, ficou tão maravilhado com a cidade luz que fixou residência, mudou de nome e se naturalizou francês. Renomeado Amedée Gordini, instalou-se em Suresnes, cidade que agrupava várias indústrias e faz parte da conurbação parisiense. Em sua oficina com poucos recursos financeiros, mas muitos cerebrais, preparou um de seus primeiros sucessos: o pequeno e eficaz Fiat Balilla 508 S, com a potência do motor de 995 cm³ aumentada de 20 para 36 cv. Com ele ganhou o famoso Bol d’Or que na época, além das motocicletas, admitia automóveis de pequena cilindrada. Também venceu na Bélgica no mítico circuito de Spa-Francorchamps e na França em Reims e em Miramas, na região da Provence.

Em meados da década de 1930 Gordini conhecia o dono da Simca, Henri Théodore Pigozzi. Com ele formaria uma parceria bem-sucedida, iniciada com uma versão de corridas do Simca 5 em 1937. O modelo aberto com carroceria especial, mais leve, trazia motor com cabeçote de alumínio e tinha como objetivo ralis e recordes mundiais, em geral disputados no anel externo do circuito francês de Montlhéry. Neste, o pequenino Simca percorreu 4.950 quilômetros em 48 horas a uma média de 103 km/h. A partir deste feito, Amedée ganhou o apelido de Bruxo (Le Sorcier) do jornalista e engenheiro Charles Ernest Faroux, que editava o jornal La Vie Automobile e foi um dos criadores da 24 horas de Le Mans. O Simca 5 ainda ganhou, em sua categoria, esta prova em 1937.

Em 1938 e 1939 uma versão do Simca 8, similar ao Fiat 1100, foi inscrita em Le Mans com preparação especial. Outra vez ganhou na categoria de 1,1 litro e ficou em nono lugar na classificação geral. A potência original passou, pelas mãos do bruxo, de 32 para 65 cv! Encerrada a Segunda Guerra Mundial, as corridas voltavam pouco a pouco na Europa. O incansável Gordini já tinha sua própria oficina e de lá saiam monopostos com motor de 1,5 litro, duplo comando de válvulas e compressor, além de suspensão independente com barras de torção e chassi tubular. Era um "charutinho" pronto para disputar os Grandes Prêmios da nova era. Com a saída da Talbot, os carros vinham em azul, cor oficial da França no mundo esportivo. Corriam com eles os pilotos franceses Jean-Pierre Wimille, Robert Manzon, Maurice Trintignant e Jean Behra. Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

*Fotos dos Simcas 5 e 8: Supercars.net - Data de publicação:16/12/08

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade