Fangio também pilotou o modelo de seis cilindros do Simca-Gordini (em cima); o "Barquette" 36 S de oito cilindros obteve sete vitórias em 1953

A parceria com a Renault rendeu versões Gordini para o Dauphine (em cima) e para o R8, que fez sucesso nas pistas em categoria monomarca

O R12 e o R17 também chegaram ao mercado com a marca do "bruxo"

Em 1948, nos treinos de classificação para o GP de Reims, Trintignant sofria um grave acidente que o afastou das pistas por quase dois anos. Para ocupar o banco do monoposto, Amédée deu lugar a um piloto que poucos anos depois seria uma celebridade: Juan Manuel Fangio, que pilotou o carro azul de número 22. No mesmo ano, nas mãos de Pierre Veyron e Jose Scaron, o carro ganhou a 24 Horas de Spa-Francorchamps. Em 1949, no GP de Marselha, Fangio tornava a colocar o Simca-Gordini em primeira posição. Nesse ano e em 1950, a vitória do Simca foi gloriosa em quase todas as competições em sua categoria — mais de 200 provas. Mas o sonho do bruxo era maior: entrar para uma categoria superior.

O ano de 1951 seria muito importante para a equipe azul. O contrato com a Simca era rompido e Aldo, filho de Amédée nascido em 1921, começava a pilotar os carros de seu pai. Mudavam suas instalações para a privilegiada região do Boulevard Victor Hugo, em Paris. De sua prancheta nascia um motor com seis cilindros em linha, 2,0 litros, duplo comando e três carburadores Weber, que despejava 175 cv. Com tração traseira e caixa de quatro marchas sincronizadas, o T16 era um carro para corridas de longa duração. Com ele Jean Behra e Robert Manzon enfrentaram Ferrari, Maserati e o Cooper inglês no campeonato oficial de Fórmula 1. Como sempre, faltavam recursos para que Amédée aperfeiçoasse seus carros. Eram rápidos, estáveis, mas por vezes não tão robustos.

A luta continuava e em 1953 o modelo “Barquette” (barquinho, como no italiano barchetta) 36 S dava seus primeiros rugidos. O motor tinha oito cilindros em linha, 3,0 litros e 220 cv. Já naquela época Gordini fazia questão de estética em seu motor — gostava de vê-lo bonito, imponente e brilhante. O câmbio tinha cinco marchas e, conforme as relações usadas, a velocidade final ficava entre 240 e 280 km/h. O chassi foi concebido tanto para receber uma carroceria para correr provas de Fórmula 1 quanto para o Campeonato Mundial de Marcas. Nesse ano o belo carro azul venceu as etapas de Brest, Le Mans, Rubaix, Reims, Nancy, La Turbie e Nice, sagrando-se primeiro na classificação geral nas mãos de Jean Behra. A equipe ficou eufórica e entusiasmada para enfrentar a Fórmula 1.

No ano seguinte, porém, perderam muito mais que ganharam. Entre vários azares, um inusitado foi que o carro foi brutalmente deslocado a bordo de um navio por causa de mau tempo perto de Agadir, no Marrocos, onde as corridas eram freqüentes. A carroceria foi seriamente danificada. Mesmo assim, chegou em segundo lugar na prova atrás do Ferrari 375 MM de Piero Scotti. Terminou sua carreira nas pistas em 1956 vencendo em Montlhéry nas mãos do franco-brasileiro Hermano João da Silva Ramos. Por causas de insucessos e poucos prêmios, as dificuldades financeiras estavam de volta à porta da Garagem Gordini. Apenas dois exemplares desse último modelo foram construídos, um deles vendido à importante autora de livros Françoise Sagan para que Amédée pudesse quitar as dívidas. A jovem, que teria uma carreira brilhante, adorava carros rápidos.

O homem desistia de sua batalha individual nas pistas e em 1957 assinava um acordo com a estatal Renault. Encarregado do serviço de competição, tinha como missão inicial tornar o Dauphine um carro com capacidade de enfrentar os severos ralis da Europa. O guru modificou comando de válvulas e coletores de admissão e de escapamento e trocou o carburador. O propulsor ganhou 10 cv, passando a 40. Ganhou em 1958 o Rali da Córsega e o importantíssimo de Monte Carlo.

Quatro anos depois no Salão de Paris era lançado o R8, um sedã pequeno e pacato sem maiores pretensões. Contudo, foi dada a Gordini a tarefa de transformá-lo em um carro veloz, estável e acessível para quem desejasse emoções fortes ou quisesse se iniciar nas competições. Em 1964 era lançado o R8 Gordini, que faria um sucesso que nem o presidente da empresa nem o próprio Amedée esperava. A versão preferida dos compradores era na cor azul França, com duas faixas brancas sobre o capô, o teto e a tampa traseira.

Apelidado carinhosamente como “Gord”, o carrinho chegava fácil aos 170 km/h em sua primeira versão e a 175 naquela que foi vendida até 1971. Enfrentava nas auto-estradas e nas pistas carros bem mais potentes. Foi um dos maiores orgulhos de Amédée. Vários pilotos franceses famosos na década de 1970 começaram com o R8 na Copa Gordini de 1966. Foram nomes como Jean-Pierre Jabouille, Jean-Pierre Jarier e Michel Leclère, que foram para a Fórmula 1, e renomados dos ralis como Jean-Luc Thérier, Jean-Claude Andruet, Bernard Darniche e Jean Ragnotti.

Também levaram seu nome o R12 (sucessor do R8) e o cupê R17. Os Alpines de Jean Rédélé traziam a assinatura Gordini na tampa do cabeçote. A aventura Renault na Fórmula 1, iniciada em 1977 com o modelo RS01 com motor V6 de 1,5 litro com turbocompressor, também exibia o nome do preparador. Em 1978 os franceses Jean-Pierre Jaussaud e Didier Pironi levaram o Alpine Renault A442 ao lugar mais alto do pódio na 24 Horas de Le Mans.

Um ano depois, o homem apelidado carinhosamente como o "bruxo do bem" falecia aos 80 anos de idade, mas a lenda ficou. Até hoje é venerado na França. Foi amigo de Karl (Carlo) Abarth e muito comparado a ele. Ganhou em vida uma das maiores condecorações francesas, a Légion d'honneur, entregue aos homens que honraram a pátria. No bairro onde sua oficina funcionou existe hoje a Praça Amédée Gordini. Foi um homem que amou os carros e as corridas de forma intensa.

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