Na contramão da tradição

Britânico, mas nada conservador, Colin Chapman inovou nas ruas
e nas pistas e levou a Lotus a um patamar de grande prestígio

Texto: Francis Castaings - Fotos: divulgação

O Lotus Mark VI, para se montar em casa; o Tipo 18, primeiro a vencer na Fórmula 1; e Colin Chapman ao lado de seu piloto Jim Clark em 1962

O Tipo 29 de 1963; embaixo, a partir da esquerda, Duckworth, Graham Hill, Chapman e Haley Copp, da engenharia da Ford, com o motor DFV

A Inglaterra tem tradições seculares, muito respeitadas por seu povo, mas mudar e revolucionar é sempre bom. No mundo do automóvel, homens brilhantes fizeram revoluções aclamadas por todos — alguns deles, ingleses como Charles Stewart Rolls, Sir Frederick Henry Royce e W.O. Bentley. E, na época em que estes estavam no auge, nascia o também genial Anthony Colin Bruce Chapman, em 19 de maio de 1928 em Richmond, Surrey, a sudoeste de Londres.

Desde cedo se mostrou um garoto de raciocínio rápido e muito inquieto. Aos 17 anos, ao fim da Segunda Guerra Mundial, ele ingressava na University College London (UCL) para cursar Engenharia de Estruturas. Um de seus primeiros estágios prestando serviço militar foi na RAF, a Força Aérea Real inglesa. Ali teve valiosos aprendizados sobre aerodinâmica. Colin não era de família abastada. Filho de um gerente de hotel, para se sustentar vendia carros usados. Por essa ocupação e pelo bom conhecimento de mecânica, transformou um Austin Seven encalhado num carro mais interessante e leve. Foi disputar provas de trial, comuns na Inglaterra na época. Em pistas de terreno acidentado corriam modelos de dois lugares, simples e baratos. Esse primeiro carro, chamado de Lotus Mark I, tinha aspecto frágil, mas era muito ágil.

Em 1950, já com o diploma, via nascer seu segundo "filho": o Lotus Mark II, também baseado no Seven. O jovem gênio trabalhava à noite e nos fins-de-semana em seus sonhos. O salário vinha da British Aluminium Ltd., empresa tradicional na extração e exploração de alumínio. Logo vieram o Mark III e o IV, este para Mike Lawson, tio do grande piloto Stirling Moss. Era o segundo carro que ele comprava de Chapman, desta vez era para correr na categoria de 750 cm³. A dedicação e a tenacidade do homem eram incríveis. Depois do Mark V, sem maiores pretensões, seu grande sucesso viria com o Lotus Mark VI, um carro para se montar em casa, com chassi tubular, poucas peças de carroceria, motor, chassi e suspensão simples. Mas andava bem e já mostrava bons dotes.

O sucesso veio rápido. Em 1952 era fundada por Colin Chapman e sua esposa Hazel Williams a Lotus Enginering Co. Ele resolvera não mais trabalhar na British Aluminium para se dedicar em tempo integral à empresa. A esposa cuidava da administração e ele, junto de Mike Costin — engenheiro aeronáutico que se tornaria muito famoso mais tarde junto com Keith Duckworth —, fabricaria esportivos velozes. Foram 110 unidades até 1955. A carroceria era de alumínio e o motor Ford de 1,2 litro depois passou a 1,5. Em 1957 era lançado um dos maiores sucesso da empresa: o Seven S1. A fórmula deu tão certo que até hoje é produzido, quase idêntico ao original, sob a identidade de Caterham. É sinônimo de leveza, simplicidade, robustez e eficiência.

Esse e outros modelos deram fama à receita de Chapman: "To add speed, add lightness", ou "para ganhar velocidade, adicione leveza", forma bem-humorada de mostrar que o peso era o grande inimigo do projetista de carros esporte e de competição. Outra frase do engenheiro que venceria o tempo: " Adding power makes you faster on the straights; subtracting weight makes you faster everywhere", ou seja, "aumentar a potência deixa você mais rápido nas retas; subtrair peso deixa você mais rápido em todo lugar."

No mesmo ano brilhava em sua classe na 24 Horas de Le Mans o Lotus Eleven, que esbanjava fluidez em suas linhas aerodinâmicas e tinha motor de 1,1 litro. Foram vendidos 270 modelos em versão civil e na de competição. A pequena empresa de Hethel, no condado de Norfolk, começava a se destacar. Um ano depois Chapman tentava carreira atrás do volante, mas não foi bem-sucedido: sofreu um acidente com um Fórmula 1 Vanwall, concebido por ele e pela dupla Costin/Duckworth. Em 1958 aparecia o Tipo 12, o primeiro monoposto Lotus. A atração era a suspensão traseira apelidada de Chapman strut ou coluna Chapman — uma adaptação do conceito McPherson para uso nesse eixo, em vez da suspensão dianteira. O genial estava no fato de que as semi-árvores da transmissão trabalhavam no amortecimento. Equipado com motor Coventry Climax dianteiro, correu na Fórmula 2. Continua

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Data de publicação: 10/3/09

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