Moss de Jaguar na 24 Horas de Le
Mans de 1951 (no alto) e de Maserati 250 F em 1954, ano em que correu
pela primeira vez ao lado de Fangio
Com o Mercedes 300 SLR de número
722 (no alto, em foto de 2007), o inglês venceu a Mille Miglia (fotos
acima) e foi vice-campeão de 1955 |
Infelizmente, no mundo de hoje, dá-se muita importância a quem venceu, a
quem foi o campeão. O antigo ditado de que o importante é competir já
não tem tanto valor. O esportista que chegou em segundo lugar é sempre
colocado em segundo plano e logo esquecido. Não é elogiado e poucos
percebem suas qualidades.
Na história recente da Formula 1 há o brasileiro Rubens Barrichello, com
uma brilhante carreira e nenhum campeonato mundial vencido, mas dois
vices, em 2002 e 2004. Se voltarmos mais no tempo veremos outro grande
piloto, o belga Jacky Ickx. Ganhou seis vezes a 24 Horas de Le Mans, foi
primeiro no Paris-Dacar em 1983 e venceu várias provas do Mundial de
Marcas, mas nunca levou um campeonato na F-1. Foi apenas vice em 1969 e
1970.
Um piloto da época de ouro da Fórmula 1 que nunca foi campeão mundial,
sem que isso tenha diminuído seu brilho, foi o inglês Stirling Moss.
Nascido em setembro de 1929 em Londres, já tinha gasolina nas veias,
pois o pai Alfred Moss havia participado da 500 Milhas de Indianápolis,
nos Estados Unidos, cinco anos antes que ele nascesse. A família gostava
de motores e rodas: até sua irmã Pat Moss honraria a família nos ralis e
em provas de longa duração na Europa. A mãe, Aileen, também teria seu
nome escrito no Real Automóvel Clube da Grã-Bretanha.
Com 18 anos, Stirling começou a competir com um
BMW 328 em ralis locais, mas foi com
a ajuda paterna que começou sua carreira aos 19 anos, pilotando um
Cooper Jap de 500 cm³. Era o primeiro produto da Cooper e usava motor do
Fiat Topolino. Tratava-se de
um monoposto com carroceria de alumínio e chassi tubular, muito leve e
rápido. Não era um veículo
fácil de conduzir, exigindo grande habilidade. Patriota, em toda sua
carreira Moss seria fiel a carros de origem inglesa. Corria por
equipes de outras nacionalidades apenas quando seus
patrícios não estavam à altura em termos de equipamento.
Em 1950, aos 21 anos, vencia o famoso Tourist Trophy em Dundrod, no
condado de Ulster, debaixo de uma chuva torrencial, a bordo de um
Jaguar XK 120. Em
princípio a empresa não queria que Moss pilotasse o carro, por sua fama
de se arriscar muito. O mais interessante foi que o piloto ajudou no
desenvolvimento do XK, batendo recordes na pista francesa de Montlhéry.
Por esses atos o jovem foi observado por donos de equipes grandes.
No mesmo ano era contratado pela equipe britânica HWM, de John Heath e
George Abecassis. Pequena, mas muito competente, a empresa existe até
hoje. O carro usava motor de 230 cv da Alta Car and Engineering Company. Moss corria na Fórmula 2 e na Fórmula Livre por essa
equipe, mas continuava a trabalhar na Fórmula 3 com seu Cooper-Jap. Em
toda sua carreira mostrou-se muito versátil, correndo em várias
categorias. Até a década de 1970, era comum um piloto de F-1
mostrar seu talento em outras competições.
Em 1952 Stirling corria na F-3 pela Kieft, outra pequena equipe
inglesa, e vencia no circuito de Goodwood, no sul da
Inglaterra, que serviu de aeroporto à Força Aérea Real (RAF) na Segunda
Guerra Mundial. Entre 1948 e 1966, Goodwood foi palco de provas oficiais
e hoje faz parte do calendário de provas de VHC, Veículos
Históricos de Competição. Ainda nesse ano, o nacionalismo de Moss falou
mais alto que a razão: recebeu convite de Enzo Ferrari para
correr em sua equipe e recusou. Além da escuderia italiana, concorriam Maserati, Alfa Romeo, Gordini, Connaught-Alta, Frazer, Cooper e várias
com motor Offenhauser.
O regulamento de 1954 permitia motores de
aspiração natural com até 2.500 cm³ ou de apenas 750 cm³ com
superalimentação. Contratado pela Maserati para pilotar o 250 F, Moss
teve como colega de equipe ninguém menos que
Juan Manuel Fangio, que já havia conquistado um campeonato mundial e
obtido muita credibilidade. Não se intimidou: tornou-se amigo
do argentino e, entre 26 pilotos, ficou em 13º. No ano seguinte passava a correr pela
Mercedes-Benz a convite do diretor de competições da marca, Alfred Neubauer. Em nova dupla com o homem de Balcarce, conquistava a primeira
vitória em terras inglesas na cidade de Aintree.
Era
o primeiro grande prêmio nesse circuito, perto de Liverpool, e o
Mercedes W196 cruzara em primeiro à média de 139
km/h. Nesse ano Fangio ganhou o campeonato, vencendo quatro provas com
41 pontos, e Moss ficou com o primeiro vice com 23 pontos.
Ainda em 1954 vencia a famosa Mille Miglia com um Mercedes 300
SLR, tendo como co-piloto o jornalista Denis Jenkinson. Esse período é
relembrado pela edição em sua homenagem do
Mercedes SLR.
Continua
|