Bruce McLaren ao vencer uma prova em seu
país, em 1959; acima, o neozelandês e o Cooper de 1960, com o
qual venceu na F-1 aos 22 anos
Em 1960, outra boa temporada, em
que McLaren venceu na Argentina |
Mesmo quem conhece corridas de automóveis pode não saber, mas um
famosíssimo nome de equipe tem sua origem em um piloto: McLaren. Era o
sobrenome de Leslie Bruce, nascido na distante Nova Zelândia, na
Oceania, a leste da Austrália. Esse intrépido piloto e engenheiro de
grandes qualidades nasceu na cidade de Auckland, em 30 de agosto de
1937, e desde a infância teve desafios pela frente. A Doença de Perthe,
uma necrose que atinge os ossos, acometeu-lhe aos 11 anos devido a um
acidente doméstico que atingiu seu quadril. Em consequência ficou muito
tempo acamado, hospitalizado, e sua perna esquerda era cinco centímetros
mais curta que a direita.
Mas Bruce não ficou afetado por essa pequena deficiência, pelo
contrário: pouco depois do tratamento, que tinha sessões de tração muito
dolorosas, disputou provas de subida de montanha — muito comuns no país
— com um Austin 7 Ulster, pequeno roadster inglês concorrente do MG
Midget J. Eram suas primeiras incursões no mundo da velocidade sobre
quatro rodas. Já na maioridade, mostrava seu promissor talento com um
Austin Healey 100. Todos esses carros ingleses não eram por acaso, já
que a Nova Zelândia, como a Austrália e o Canadá, faz parte da
Comunidade das Nações (Commonwealth of Nations).
Sua carreira automobilística no continente daria um salto ao vencer o
campeonato nacional correndo com um Cooper-Climax. Ao contrário de
vários pilotos, Bruce estava começando a estudar engenharia. Gostava de
máquinas, carros e mecânica e queria saber muito. Seus pais tinham uma
oficina e um posto de gasolina e ele havia crescido nesse meio com muito
interesse. Passava muito de seu tempo livre entre carros, caminhões e
motocicletas. O pai Leslie e os tios eram pilotos de moto ocasionais.
Todos na família gostavam de motores e de andar muito rápido.
Devido a seus primeiros sucessos em fórmulas locais, ganhou um prêmio e
foi disputar provas de Fórmula 2 na Inglaterra, onde conheceu uma pessoa
muito importante para sua carreira: o piloto australiano Jack Brabham,
que já corria na Fórmula 1 desde 1955, quando estreou com um Maserati.
Era a época de grandes nomes como Juan Manuel Fangio, Stirling Moss,
Maurice Trintignant, Giuseppe Farina e Piero Taruffi. Em 1958 o
regulamento da F-1 permitia carros com motores
aspirados de até 2.500 cm³ ou de apenas
750 cm³ com compressor. Na inglesa
Cooper-Climax, pioneira no motor traseiro, estavam Jack Brabham e o
inglês Roy Francesco Salvadori. No fim desse ano McLaren alugaria mais
um exemplar da marca, só que um Fórmula 2, para disputar suas primeiras
provas na F-1. A primeira foi na Alemanha no famoso e temido Nürburgring.
Na prova, vencida por Tony Brooks com um Vanwall, ele chegou em quinto
lugar e à frente de famosos como Phil Hill, Mike Hawthorn e Peter
Collins, todos eles com Ferraris. O Cooper de F-1 tinha motor de 1.967
cm³ e 175 cv; já o F-2 tirava 155 cv de 1.485 cm³. Bruce soube
administrar com raça e competência a diferença. Seu desempenho brilhante
chamou a atenção da imprensa e do mundo automobilístico. Sua segunda
prova na categoria, o GP do Marrocos em Aïn-Diab, foi vencida por Moss.
Bruce ficou em 13º. Em 1959 a equipe de John Cooper contratava
oficialmente Bruce, que teria como companheiros de equipe Brabham e Moss, muito experientes. O australiano se sagraria campeão na
temporada, a equipe campeã e Bruce teria sua primeira vitória em Sebring,
nos Estados Unidos. O mais jovem vencedor da F-1 até então era um rapaz de país distante, de apenas
22 anos e formado em engenharia, muito educado, cortês e leal.
No ano seguinte o campeonato teria uma disputa interna. Brabham voltava
a vencer e McLaren era vice-campeão. Havia vencido na Argentina, ficado em segundo
em Mônaco, Bélgica e Portugal, em terceiro na França e nos EUA e em
quarto na Inglaterra. Em 1961 o regulamento permitia
apenas carros com 1.500 cm³ e o compressor estava proibido. Bruce estava
em condições de igualdade com Brabham e também teria como colega John
Surtees. Por coincidência, esse trio de grande talento teria no futuro
seus sobrenomes escritos como marcas na categoria maior do automobilismo
mundial.
Continua
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