Já com a Auto Union, Nuvolari somou sua ousadia ao desempenho das "flechas de prata" e venceu em Monza (em cima) e em Donington Park

Após a guerra, Tazio com o volante do Cisitalia solto na Coppa Brezzi de 1946; embaixo na "tentativa de suicídio", a Mille Miglia do ano seguinte

Nuvolari junto de seu avião, que trazia o logotipo da tartaruga, e na Mille Miglia de 1948, com o Ferrari 166 S que já perdera capô e para-lama

O piloto venceu apenas uma prova, o GP de Milão, e sofreu outro acidente. Seu Alfa 12C-36 de 370 cv não poderia mesmo ser competitivo diante dos monstros alemães: o Auto Union Tipo C de 6,0 litros já alcançava 520 cv e o Mercedes W125 de 5,6 litros esbanjava 646 cv. Para a temporada de 1938, novas regras abriam a classe de 3,0 litros para Grandes Prêmios, caso os motores tivessem superalimentação, e fixava o limite de 4,5 litros para os de aspiração natural.

Enquanto a Alfa apresentava o modelo 308 com oito cilindros, 3,0 litros, compressor e 295 cv, a Mercedes lançava o W154 com 12 cilindros, 3,0 litros, compressor e 468 cv, capaz de chegar a 300 km/h — vantagem de 40 km/h sobre o carro italiano. Durante treinos para o GP de Pau, o carro de Nuvolari pegou fogo e o piloto teve queimaduras no rosto, nos braços e nas pernas. Cogitou seriamente abandonar as pistas, mas decidiu continuar. Viajou para os EUA, onde testou em Indianápolis dois monopostos.

De volta à Europa, assinou enfim com a Auto Union, que procurava um substituto para o ousado alemão Bernd Rosemeyer, morto em uma tentativa de bater recorde de velocidade na autoestrada Frankfurt-Darmstadt. O italiano testou o Tipo D de motor central-traseiro e com ele obteve as primeiras vitórias nos GPs de Monza e de Donington Park. Mas a eclosão da Segunda Guerra Mundial abreviou o campeonato, que teve a última prova em 3 de setembro de 1939 em Belgrado, na atual Sérvia — a derradeira vitória de Nuvolari na Auto Union.

O conflito terminava em 1945 e, no ano seguinte, o piloto passava por mais uma tragédia pessoal: a morte do segundo filho, também com 18 anos. Encontrou forças para continuar a correr, tendo feito a volta mais rápida do GP de Marselha, em que seu motor o impediu de prosseguir. Na Coppa Brezzi, em Turim, liderava com um Cisitalia D46 quando o volante se soltou! Após passar pela área dos boxes acenando com ele nas mãos, Nuvolari deu mais uma volta usando apenas a coluna de direção até parar para o conserto. Ainda foi o 13º colocado, e saiu da prova com popularidade mundial.

Disputou 19 provas em 1946, com carros Maserati, Cisitalia e Fiat, e delas venceu três, incluindo sua última vitória internacional em Albi, na França. No ano seguinte correu apenas seis vezes, vencendo o Circuito di Parma. Já com 55 anos, inscreveu-se para Mille Miglia, uma prova de 16 horas, com um Cisitalia 202 Spyder, o que muitos entenderam como intenção de suicídio — ele já havia dito preferir que sua morte viesse ao volante. Mas mostrou o dinamismo de um jovem e poderia ter vencido se a chuva torrencial não o fizesse atingir uma grande poça, tomando-lhe um tempo que abriu caminho para o Alfa de Clemente Biondetti.

Embora Tazio não tenha obtido bons resultados nas cinco provas de que participou em 1948, uma delas esteve entre as mais memoráveis de sua carreira: a 15ª Mille Miglia. Seu Cisitalia quebrou durante os testes e não havia tempo hábil para os reparos. Ele estava praticamente de fora da corrida, mas na véspera Enzo Ferrari lhe ofereceu um 166 S.

O piloto aceitou e, sem qualquer treino prévio — não conhecia o carro e havia sete meses que não disputava uma prova —, deu um espetáculo: em Pescara já estava na liderança, em Roma colocava 12 minutos à frente, em Livorno 20 minutos, em Florença 30. Contudo, o carro não estava à altura e peças se desprendiam — um para-lama, o capô, os parafusos do banco. Quando um feixe de molas da suspensão se soltou, as chances de Nuvolari acabaram.

Depois de dar só uma volta simbólica em 1949, para entregar o Maserati A6GCS a Piero Carini, Tazio disputou poucas provas no ano seguinte. No Giro di Sicilia/Targa Florio, o câmbio quebrou logo no começo; mas na subida de montanha de Palermo-Montepellegrino foi o primeiro em sua classe, com um Cisitalia 204 preparado por Carlo Abarth. Nunca anunciou que deixaria de correr, mas essa foi sua última vitória e também a derradeira prova.

Nuvolari tornou-se conhecido como "mantovano volante", mantuano voador. Sobre ele, Enzo Ferrari disse: "Ninguém concilia como ele uma incrível sensibilidade sobre o carro e uma coragem não humana". Para Ferdinand Porsche, era "o maior piloto do passado, do presente e do futuro"; e Achille Varzi o considerava "não um mestre, mas um artista da direção". Além do Cisitalia 202 Spider Mille Miglia dos anos 40, que ficou conhecido como 202 MM Nuvolari, o italiano foi homenageado mais duas vezes por fabricantes que usufruíram seu talento: a Alfa Romeo, com o carro-conceito Nuvola de 1996, e a Audi, com o estudo Nuvolari de 2003.

Com a saúde debilitada e uma paralisia do lado esquerdo da face, Tazio Nuvolari manteve-se em casa em seus últimos dias. Dizia aos amigos: "Eu, que podia dominar qualquer carro, fui incapaz de controlar meu próprio corpo". Faleceu em 11 de agosto de 1953, aos 61 anos, em sua cama — não ao volante de um carro, como esteve tão perto de acontecer por toda sua fantástica trajetória.

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